capítulo quatro

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Como se não bastasse acordar de ressaca ainda por cima passei a maior vergonha da minha vida ontem.

Leio e releio a mensagem em que declarei para Minho milhares de vezes nessa manhã. E o pior é que ele viu e nem disse nada.

Eu precisava falar com ele.

Faço a minha rotina matinal e quando já estou vestido com o uniforme do colégio pego minha mochila e desço  para ir à escola mesmo que queira ficar trancado no meu quarto pelo resto da vida.

Preciso me cavar em um buraco mais do que preciso de uma aspirina nesse momento.

Ao ir me aproximando da sala de estar que ligava à cozinha fui ouvindo o que indicava ser uma discussão entre Kai e mamãe.

— Eu não estou um criando filho para ser vagabundo! Você não tem vergonha disso?! — ela choca um papel impresso contra o peito dele. — Faltas na faculdade em excesso, vandalismo, multa por dirigir em alta velocidade... Sério? Eu já me decidi, você não vai ficar com nenhum dos nossos bens da empresa. Quer dinheiro? Pois que arrume um emprego e comece do zero como qualquer pobre faz.

— Eu já disse que vou melhorar — Kai murmurou de cabeça de baixa.

— Não, você não vai. Você vem dizendo que vai melhorar há anos e nada muda — ela o olha com raiva. — Eu já estou cansada dos seus caprichos, Kai. Tive você porque queria um herdeiro, te dei a melhor qualidade de vida que um filho poderia ter e é assim que me agradece?

— Você queria um filho ou um investimento, mamãe? — Kai confrontou. — Sinto muito não ter cumprido suas expectativas, pensei que eu fosse um ser humano e não que era outro bem material seu.

— Você só me dá desgosto. Prefiro um filho morto do que um filho vivo sendo um completo inútil como você — ela diz tamanho absurdo.

Estreitei os olhos, sem acreditar que ela disse isso. Sem acreditar que ela poderia ter pensado melhor antes de dizer, colocado a mão na consciência e não ter falado a pior coisa que um filho poderia ouvir de uma mãe e ainda assim foi o que saiu de sua boca.

A mágoa estampada no rosto do meu irmão é dolorosamente visível.

— Onde você vai? — mamãe questionou com exigência quando Kai lhe deu as costas.

— Pra bem longe daqui — ele sobe as escadas rumo ao seu quarto.

Mamãe me vê e eu a encaro impassivel por alguns instantes antes de seguir meu irmão às pressas.

Eu amo a minha mãe, mas ela está bem errada em ter dito o que disse. O Kai é uma pessoa maravilhosa e não mereceu ter ouvido aquilo.

Entro no quarto dele e o encontro jogando algumas peças de roupa dentro de uma mala.

—Você vai embora? — questionei choroso. — Não me deixa aqui.

— Me desculpe, maninho — ele coloca
uma mão em meu ombro. – Mas eu não posso ficar mais nessa casa.

— Ela não quis dizer aquilo — engoli o nó na minha garganta. — A mamãe te ama, o papai te ama e eu também te amo.

— Ela quis dizer aquilo sim, Jisung. As
pessoas tem o total controle do que falam, tem responsabilidade das palavras que vão dizer. Entenda isso, porque o mundo não vai ser gentil com você. 
 
O observo fechar a mala e ir buscar algo debaixo da cama. Kai vem até mim, segurando uma caixa de sapato.

— Fica pra você — ele me dá a caixa. Eu a abro e tiro o pano que estava por cima, encontrando uma arma. — Você vai saber quando usá-la no momento certo.

Degenerate • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora