Capítulo 3

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Naquela noite, o sono de Louise foi interrompido várias vezes por pensamentos dispersos. O rosto de Dante, a forma como ele a olhara, sua voz pedindo desculpas - tudo isso parecia inusitado demais para se ignorar. Ela se perguntava o que realmente o motivara a mudar de comportamento. Estaria ele sendo sincero ou apenas tentando aliviar sua própria culpa?

Na manhã seguinte, ao entrar na escola, Louise percebeu que estava diferente. Não por fora - sua aparência continuava a mesma - mas algo dentro dela havia se deslocado, como se uma nova camada de percepção tivesse se aberto. O eco das palavras de Dante ainda a seguia, mas agora não soava tão perturbador. Havia uma sutil curiosidade misturada à desconfiança.

Ela seguiu para a biblioteca antes da aula, um de seus lugares preferidos. O silêncio das estantes de livros sempre oferecia um refúgio. Sentou-se em uma mesa isolada, abriu seu caderno de esboços e começou a rabiscar. As linhas se transformaram em rostos indistintos, mas a imagem de Dante inevitavelmente se formou nas sombras do grafite. Louise suspirou, irritada consigo mesma por não conseguir tirá-lo da cabeça.

Quando o sino tocou, ela recolheu suas coisas e seguiu para a sala de aula. Ao entrar, notou que Dante já estava lá. Ele a viu e, por um instante, pareceu hesitar antes de sorrir, um sorriso tímido que contrastava com sua antiga postura confiante. Louise desviou o olhar, ignorando o gesto, mas não pôde deixar de sentir o peso de sua presença.

As aulas se arrastaram, e ela mal conseguia prestar atenção. Quando o intervalo chegou, Louise pegou sua câmera e foi para o pátio, como sempre fazia. A fotografia era seu escape, sua forma de capturar pequenos momentos de beleza em um mundo que às vezes parecia opressor. Hoje, porém, a câmera não oferecia o mesmo conforto. Seus dedos hesitavam no botão, e as imagens que capturava pareciam vazias.

Enquanto ela ajustava o foco, uma sombra se aproximou. Ela olhou para cima e, como já começava a esperar, era Dante.

- Não vim te incomodar - disse ele, parando a alguns passos de distância. - Só queria ver como você estava.

Louise baixou a câmera e o encarou por alguns segundos. Aquela suavidade no olhar dele a desconcertava.

- Estou... bem - respondeu, sem saber ao certo o que mais poderia dizer.

- Eu estive pensando no que falei ontem. Sei que não podemos mudar o passado, mas... espero que você possa me dar uma chance de mostrar que eu mudei - disse ele, sua voz baixa, quase hesitante.

Louise respirou fundo, processando as palavras. Ela sempre fora cética em relação às mudanças repentinas nas pessoas, especialmente quando vinham de alguém como Dante, cuja presença sempre fora sinônimo de caos em sua vida. No entanto, algo nela queria acreditar que ele estava sendo sincero. Talvez fosse o próprio cansaço de manter uma barreira inabalável, ou talvez fosse o fato de que, com seu diagnóstico, ela começava a ver o mundo sob uma nova perspectiva.

- Não sei se estou pronta para isso - ela admitiu, olhando para o céu. - Acho que preciso de tempo.

Dante assentiu, sem insistir. Seu comportamento era cauteloso, como se ele soubesse que qualquer passo em falso o faria perder essa oportunidade.

- Eu entendo. Só... saiba que estou aqui, se você precisar de alguém para conversar - disse ele, antes de se virar para ir embora.

Louise o observou partir, uma parte de si desejando que tudo fosse tão simples quanto ele sugeria. Mas a realidade era que ela estava lidando com muito mais do que apenas as cicatrizes do passado. O câncer ainda pairava sobre sua cabeça como uma nuvem negra, e a incerteza do futuro a tornava cautelosa com qualquer tipo de abertura emocional.

Nos dias que se seguiram, Dante manteve sua distância, respeitando o espaço que Louise parecia precisar. No entanto, sua presença discreta começou a se tornar algo constante. Ele a observava de longe, sempre com aquele sorriso tímido que contrastava com o Dante que ela conhecera antes. E, aos poucos, Louise começou a perceber que talvez houvesse mais nele do que ela havia permitido enxergar.

Uma tarde, após mais uma sessão de quimioterapia, Louise estava exausta. Seus pais a haviam deixado na escola mais tarde, e ela chegou no meio do intervalo, sentindo-se frágil. Estava prestes a se dirigir ao seu canto habitual no pátio, quando viu Dante sentado no banco de sempre, com um livro nas mãos. Ele a viu e levantou-se imediatamente, preocupado.

- Você está bem? - perguntou, aproximando-se.

- Estou cansada - ela respondeu, sem muita energia para mais do que isso.

Dante hesitou por um momento antes de fazer um gesto que surpreendeu Louise: ele estendeu o braço, oferecendo ajuda.

- Quer que eu te acompanhe até a sala?

Louise olhou para ele, avaliando suas intenções. Por um segundo, ela quase recusou, mas o cansaço a venceu.

- Tudo bem - disse ela, aceitando o braço dele.

Os dois caminharam em silêncio até a sala de aula, e naquele breve momento de proximidade, Louise percebeu que, apesar de todas as dúvidas e feridas do passado, algo em Dante parecia genuíno. Talvez as coisas realmente estivessem mudando, de maneiras que ela ainda não compreendia completamente.

Ao chegarem na sala, Dante a soltou com cuidado, sem dizer mais nada. Ele se afastou, permitindo que Louise voltasse a seu lugar habitual. Mas, naquele dia, algo havia mudado entre eles. Não eram amigos, ainda estavam longe disso, mas um novo tipo de entendimento parecia ter surgido. Louise ainda estava lutando com seus próprios demônios, mas, aos poucos, ela começava a acreditar que talvez não estivesse completamente sozinha nessa batalha.

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