Capítulo 4

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Naquela noite, Louise tentou ignorar o que estava se passando em sua mente, mas não foi fácil. As palavras de Dante ecoavam em sua cabeça como uma música que não se pode desligar. “Espero que você possa me dar uma chance de mostrar que eu mudei.” Ela ainda não sabia se ele merecia essa chance, mas, por mais que tentasse negar, havia algo na postura dele que a fazia questionar suas próprias certezas. O sono veio aos poucos, mas com ele não trouxe descanso — apenas mais perguntas sem respostas.

Na manhã seguinte, Louise acordou com a mesma sensação de dúvida. Olhou-se no espelho e viu o reflexo de uma garota cansada, mas decidida. Estava exausta, não apenas pelo tratamento e pela luta diária contra o câncer, mas pelo turbilhão emocional que Dante havia causado em sua vida. Ela sabia que, de algum modo, teria que lidar com isso.

A escola, naquele dia, parecia diferente. As paredes, os corredores, tudo parecia mais silencioso, como se o mundo estivesse aguardando algo. Louise percebeu que estava mais consciente do que a cercava — e, principalmente, mais consciente de si mesma. Ela havia mudado. Talvez estivesse amadurecendo de formas que ainda não compreendia totalmente.

Assim que entrou na sala, viu Dante, como de costume. Ele estava mais uma vez sentado duas fileiras à frente, mas, dessa vez, não olhou diretamente para ela. Parecia estar concentrado em algo à sua frente, como se também estivesse tentando processar as mudanças internas que estavam ocorrendo entre eles. Louise sentiu uma onda de alívio por ele não forçar nenhuma interação, mas, ao mesmo tempo, uma parte dela se perguntou o que ele estava pensando.

As aulas foram um borrão. Louise se pegava olhando para a janela, perdida em seus pensamentos. Dante, por outro lado, parecia estar em um estado semelhante, embora tentasse prestar atenção nas explicações. Ela percebia que ele estava lutando para encontrar um equilíbrio, assim como ela.

Quando o intervalo chegou, Louise hesitou. Por um instante, considerou ir ao pátio como sempre fazia, tirar fotos e se afastar do turbilhão de emoções. Mas algo a deteve. Em vez disso, ela pegou sua câmera e, decidida, foi até a biblioteca. Precisava de um espaço mais tranquilo, um lugar onde pudesse organizar os pensamentos sem ser perturbada.

Na biblioteca, o silêncio a envolveu como um cobertor confortável. Ela sentou-se em uma mesa ao fundo, abriu seu caderno e começou a rabiscar, como sempre fazia quando as palavras não eram suficientes. Mas, dessa vez, as linhas no papel não formaram rostos, nem paisagens. Eram formas abstratas, linhas desconexas que pareciam refletir a confusão dentro dela. Ela queria entender Dante, queria entender a si mesma. Mas, acima de tudo, queria entender o que o futuro reservava para os dois — se é que havia um “nós” a ser considerado.

Enquanto seus pensamentos vagavam, um som suave chamou sua atenção. Alguém havia puxado uma cadeira na mesa ao lado. Era Dante. Ele não disse nada, apenas se sentou a uma distância respeitosa, como se aguardasse uma permissão silenciosa para estar ali.

Louise o observou de relance, surpresa com a paciência dele. Ele não estava forçando uma conversa, não estava invadindo seu espaço. Apenas estava ali, como uma presença tranquila. Algo nela se acalmou diante dessa atitude. Talvez ele realmente estivesse mudando.

— Eu costumava vir aqui quando queria ficar sozinho — disse ele, rompendo o silêncio de maneira suave. — Sempre gostei do silêncio da biblioteca.

Louise ergueu os olhos de seu caderno e o encarou. Ela não sabia o que responder. A verdade é que ela também sempre buscava a biblioteca por esse motivo, mas nunca havia considerado que Dante fosse alguém que apreciasse o silêncio.

— Acho que nunca imaginei você aqui — ela admitiu, com um leve sorriso. — Você sempre pareceu ser o tipo de pessoa que... gosta de estar no centro de tudo.

Dante riu, um som baixo e despretensioso.

— É, eu costumava ser assim — ele respondeu, desviando o olhar para os livros. — Acho que, às vezes, a gente se esconde atrás do barulho para não lidar com o que realmente importa.

Louise ficou em silêncio, absorvendo as palavras dele. Não esperava ouvir aquilo. E, de repente, percebeu que eles tinham mais em comum do que imaginava. Ambos estavam lidando com algo muito maior do que eles mesmos — ela, com sua doença; ele, com as consequências de suas ações passadas. Ambos estavam em busca de redenção, de respostas para perguntas que pareciam cada vez mais difíceis de formular.

— O que você quer, Dante? — perguntou ela, sua voz suave, mas carregada de intensidade. — O que você está tentando fazer aqui?

Ele ficou quieto por um momento, como se ponderasse a resposta. Quando finalmente falou, sua voz era baixa, mas firme.

— Quero tentar ser alguém melhor. E... se você me permitir, quero estar aqui para você. Não como o cara que te machucou, mas como alguém que entende o que é lutar contra algo grande demais.

Louise sentiu um nó se formar em sua garganta. Era difícil confiar de novo. Era difícil abrir-se para a possibilidade de que ele pudesse estar sendo sincero. Mas algo no tom de voz de Dante, na forma como ele parecia vulnerável, fez com que ela considerasse a possibilidade.

— Eu não sei se estou pronta para isso — ela admitiu, repetindo o que já havia dito antes, mas agora com mais clareza. — Ainda estou tentando descobrir quem eu sou nessa nova realidade. Não posso prometer nada.

Dante assentiu, respeitando a honestidade dela.

— Eu não estou pedindo promessas — respondeu ele. — Só queria que você soubesse que eu estou aqui, se precisar.

Louise sentiu algo diferente naquele momento. Não era o início de uma amizade ou de um perdão imediato. Mas era um começo. Um começo para algo que, até então, ela não sabia se poderia existir entre eles. Talvez, com o tempo, ela conseguisse perdoar Dante. Talvez, com o tempo, ela conseguisse perdoar a si mesma também.

Enquanto a tarde avançava e o silêncio da biblioteca envolvia os dois, Louise percebeu que, pela primeira vez em muito tempo, ela não se sentia completamente sozinha.

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