Olhares

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A semana passou melhor do que eu esperava. Consegui evitar Suguru, como queria, e me concentrei nos treinos. Embora ainda me sentisse frustrada, cada treino parecia uma pequena válvula de escape. Claro, isso não me impedia de ter surtos diários.

Shoko me ajudou com a ferida, mas o resultado foi o esperado: uma cicatriz bem evidente. Ela não disse nada, mas o olhar dela foi o suficiente para me deixar cabisbaixa. Toda vez que olhava para aquela marca, eu me lembrava do que aconteceu — e, claro, do Suguru.

Num dia qualquer, enquanto estava em uma missão de rotina, acabei conversando com Nanami. Ele era sempre focado e direto, o que tornava nossas conversas sobre trabalho simples e objetivas. Estávamos discutindo detalhes de uma missão quando, de repente, senti olhares pesados sobre nós. Era como se alguém estivesse observando cada movimento, cada palavra.

Olhei de relance e, do outro lado, estavam Suguru e Satoru, ambos com expressões fechadas. Era raro ver Satoru com um semblante tão sério, o que imediatamente me deixou desconfortável. Suguru, no entanto, parecia ainda mais distante do que o habitual, com aquela aura densa que ele sempre carregava, mas dessa vez, com uma intensidade maior.

Tentei ignorar, mas o peso daqueles olhares me atingia como uma maldição invisível.

Eu me forcei a manter o foco na conversa com Nanami, tentando não deixar a tensão me afetar. No entanto, a presença de Suguru e Satoru no canto da sala era inegável, e a maneira como eles me observavam não fazia nada para aliviar o peso sobre meus ombros.

Nanami, percebendo que algo estava errado, me deu um olhar questionador. "Você está bem, S/N? Parece distraída."

"Sim, estou bem," respondi rapidamente, tentando sorrir para disfarçar a inquietação. "Só estou um pouco cansada."

Ele assentiu, mas não parecia totalmente convencido. "Se precisar de algo, me avise. Não gostaria de ver você sobrecarregada."

Agradeci e voltei a focar na nossa discussão, mas, em questão de minutos, a conversa começou a se arrastar. Eu não podia mais ignorar os olhares persistentes de Suguru e Satoru. O peso dos dois pares de olhos fixos em mim me fazia sentir como se estivesse sendo julgada.

Quando a reunião terminou e todos começaram a se dispersar, fui imediatamente abordada por Satoru. Ele estava com aquele sorriso de quem tem uma piada na ponta da língua, mas havia algo de diferente na forma como ele se aproximou.

"Ei, S/N," começou ele, de um jeito casual, mas com um tom que indicava algo mais sério por trás. "Precisamos conversar."

A minha primeira reação foi de resistência. Eu não queria lidar com Suguru e Satoru ao mesmo tempo, especialmente depois da tensão que eu estava sentindo. "Sobre o quê?"

"Sobre o que está acontecendo entre você e o Suguru," Satoru disse, seus olhos fixos nos meus com uma seriedade que raramente mostrava. "Eu sei que você está evitando ele, e não é só isso. Algo está claramente pesando sobre vocês dois."

Eu suspirei, sabendo que ele não iria desistir facilmente. "Satoru, não é o melhor momento. Eu realmente não quero discutir isso agora."

Ele pareceu entender, mas ainda assim não desanimou. "Eu só quero que você saiba que, se precisar de alguém para conversar, eu estou aqui. Suguru pode ser um idiota às vezes, mas ele também tem suas qualidades. Não deixe que o orgulho de vocês dois impeça de resolver as coisas."

Antes que eu pudesse responder, Satoru deu um leve tapinha no meu ombro e se afastou, deixando-me com meus pensamentos. Eu sabia que ele estava tentando ajudar, mas a última coisa que eu queria naquele momento era enfrentar Suguru ou discutir o que havia entre nós.

Então, com um suspiro profundo, comecei a caminhar na direção oposta, tentando deixar as inquietações para trás. A semana tinha sido cheia de desafios, e eu sabia que ainda havia muito a enfrentar. Mas, pelo menos por agora, eu precisava de um tempo para mim mesma, longe das complicações e das tensões que me cercavam.

Entre Olhares e Mistérios - Suguru GetoOnde histórias criam vida. Descubra agora