Café

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De manhã, eu acordei com a sensação de que não tinha descansado nada. Depois de uma série de tarefas rápidas, recebi uma mensagem de Nanami, convidando-me para tomar um café. A ideia de passar um tempo com ele parecia perfeita. Nanami era o oposto de toda essa confusão. Reservado, centrado, e sempre gentil, ele conseguia me acalmar sem nem ao menos tentar.

Quando cheguei à cafeteria, ele já estava sentado, com aquele semblante sério de sempre, mas os olhos sempre atentos. Me sentei na frente dele, tentando me concentrar na conversa, nas pequenas coisas, qualquer coisa que pudesse me distrair da bagunça emocional em que eu estava metida.

— Como está se sentindo? — ele perguntou, direto como sempre.

— Estou bem... — menti, forçando um sorriso. — Quer dizer, estou lidando com tudo.

Nanami levantou uma sobrancelha, claramente não convencido, mas optou por não pressionar.

— Você sempre foi boa em lidar com as coisas — ele disse, dando um gole em seu café. — Mas isso não significa que deva fazer isso sozinha.

Eu ri, balançando a cabeça.

— E você sempre tão direto, Nanami.

Ele deu um leve sorriso, quase imperceptível, mas estava ali.

— Só acho que você deveria cuidar de si — ele falou, seu olhar sério me perfurando de leve. — E parece que ultimamente, as coisas estão... mais complicadas.

Eu suspirei, dando uma olhada pela janela, tentando encontrar palavras que não entregassem o caos dentro de mim.

— Complicadas é pouco — murmurei, mais para mim do que para ele.

— Quer falar sobre isso? — ele perguntou, e havia uma calma em sua voz que me fez sentir um pouco mais à vontade.

Pensei por um segundo, mas falar sobre Suguru parecia tão... complicado. Como eu explicaria? Que o cara que eu não suportava tinha me deixado inquieta a ponto de eu não conseguir pensar em mais nada?

— Acho que... ainda não estou pronta para falar — admiti, olhando para meu café, que já estava esfriando.

Nanami assentiu em silêncio, respeitando meu espaço, como sempre. Eu sabia que ele entendia, que não me pressionaria, e isso me fez sentir um pouco mais leve, pelo menos por alguns minutos.

— Quando estiver pronta, estarei por aqui — ele disse, com aquela sinceridade tranquilizadora.

Eu sorri de volta, sentindo um pouco da tensão se dissipar, ainda que temporariamente. Talvez, só por hoje, eu pudesse me dar uma pausa de toda aquela confusão, e aproveitar a calma que Nanami trazia.

Estávamos rindo, eu e Nanami, algo raro considerando seu jeito mais sério. A conversa estava leve e descontraída, o que era exatamente o que eu precisava. Mas, de repente, senti um olhar pesado me observando. Era como se o ar ao meu redor tivesse mudado, e, quando olhei ao redor, vi Satoru me encarando de longe, com aquela expressão indecifrável.

— O que foi agora? — pensei comigo mesma.

Ele se aproximou devagar, casual como sempre, mas seus olhos não deixavam os meus nem por um segundo. Ele se acomodou ao nosso lado, puxando uma cadeira e sentando-se como se estivesse à vontade, mas havia algo no ar que não parecia normal.

— Oi, vocês dois — Satoru disse, com seu tom alegre, mas eu podia ver que havia algo além disso.

— Satoru — Nanami cumprimentou, sem demonstrar muita surpresa, mas eu ainda estava tentando entender o que ele estava fazendo ali.

— O que vocês estão fazendo? — ele perguntou, sorrindo de forma casual, mas o jeito como ele se acomodou, como se estivesse tentando se infiltrar na conversa, era... estranho.

— Tomando café, como você pode ver — respondi, estreitando os olhos. — E você?

— Ah, nada demais, só estava de passagem — ele disse, mas claramente não era o caso. Ele parecia muito interessado no que estávamos fazendo. — Só achei curioso ver vocês dois aqui, assim, tão... descontraídos.

Eu troquei um olhar rápido com Nanami, que permaneceu impassível, mas eu sabia que ele também achava estranho. Satoru raramente agia desse jeito, como se estivesse tentando se intrometer sem motivo aparente.

— O que é tão curioso nisso? — perguntei, tentando disfarçar minha própria desconfiança.

Satoru me olhou com aquele sorriso de sempre, mas seus olhos azuis brilhavam de um jeito peculiar, como se ele soubesse de algo que eu não sabia.

— Nada, nada — ele disse, mas era óbvio que havia mais ali. — Só me perguntando como estão indo as coisas... entre vocês.

Eu franzi o cenho, ainda mais confusa.

— Entre a gente? — repeti, olhando para Nanami, que também parecia um pouco incomodado.

Satoru deu de ombros, como se fosse o comentário mais inocente do mundo.

— Sim, quero dizer, vocês dois parecem se dar tão bem — ele disse, como quem não quer nada, mas claramente querendo tudo. — Só estou observando.

Havia algo por trás daquelas palavras, mas eu não conseguia entender exatamente o quê. Nanami parecia tão confuso quanto eu, mas antes que pudesse responder, Satoru continuou.

— Bom, vou deixá-los a sós — ele disse de repente, levantando-se de forma abrupta. — Aproveitem o tempo juntos!

E com isso, ele se afastou, deixando um rastro de confusão no ar. Eu e Nanami trocamos um olhar, ambos sem saber o que pensar.

— Ele sempre é assim? — Nanami perguntou, finalmente quebrando o silêncio.

— Não, isso foi... diferente — murmurei, ainda tentando entender a estranheza da situação.

Entre Olhares e Mistérios - Suguru GetoOnde histórias criam vida. Descubra agora