Fogo Cruzado

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Era só mais um dia comum. Pelo menos, deveria ser. A manhã havia começado tranquila, com Satoru me mandando uma mensagem no meio da noite, como sempre, só para me irritar. Eu ignorei, como sempre, e segui minha rotina. Estávamos programados para uma missão simples: exorcizar um espírito amaldiçoado que estava causando problemas numa cidadezinha próxima. Coisa fácil. Ou assim pensei.

Quando chegamos ao local, o clima já estava pesado. O sol estava forte, mas o ar ao nosso redor parecia frio, denso. Suguru estava mais calado do que o normal, e isso só me deixava mais irritada. Sempre que Satoru tentava quebrar o gelo com uma piada, Suguru apenas respondia com um olhar vago, como se estivesse em outro mundo. Eu já estava de saco cheio antes mesmo de começarmos.

— Vamos nos dividir — Suguru disse, finalmente quebrando o silêncio enquanto analisava o mapa da cidade. Sua voz era sempre tão calma, tão controlada. — Eu e você vamos para o lado oeste, e Satoru pode cobrir o lado leste.

Revirei os olhos. Claro que ele escolheria ficar comigo. Não porque queria, mas provavelmente porque achava que eu precisaria de ajuda. Como se eu fosse incompetente.

— Posso lidar com isso sozinha, sabia? — murmurei, cruzando os braços.

Ele levantou o olhar lentamente, como se minhas palavras tivessem sido um incômodo.

— Não é sobre você. É sobre eficiência. Não podemos perder tempo.

— Não se preocupe, eu sou mais eficiente do que pareço — respondi com um sorriso forçado. Satoru, é claro, apenas observava a troca de farpas com um sorriso divertido, claramente apreciando a tensão.

Suguru não respondeu, apenas se virou e começou a caminhar. Eu o segui, irritada. A missão mal havia começado, e eu já estava com vontade de explodir. Ele sempre tinha esse efeito sobre mim.

Caminhamos em silêncio por um tempo, o ambiente ficando mais denso conforme nos aproximávamos da área amaldiçoada. Eu podia sentir a energia negativa ao nosso redor, pesada e sufocante, mas o que realmente me incomodava era o silêncio entre nós.

Até que, finalmente, ele quebrou.

— Você sempre precisa provar algo? — Suguru perguntou, sem sequer olhar para mim. Sua voz era fria, calculada.

Eu parei no mesmo instante, surpresa pela pergunta.

— O quê?

— Você está sempre tentando mostrar que é capaz. Não é cansativo? — Ele finalmente se virou, seus olhos me encarando, mas dessa vez havia algo mais ali. Um tom de desdém que me atingiu em cheio.

— Eu não preciso provar nada pra ninguém, muito menos pra você — respondi, apertando os punhos. — Só faço meu trabalho.

Ele soltou um suspiro curto, quase como se estivesse se divertindo.

— É isso que você acha? Porque parece que está sempre competindo. Talvez seja isso que te faz perder o foco.

Senti meu sangue ferver.

— Perder o foco? Eu nunca perdi o foco em missão nenhuma! Se alguém aqui tem problemas de concentração, é você, que está sempre em algum lugar distante, com essa sua atitude de 'sou melhor que todos'.

Suguru me encarou em silêncio por um momento, o ar ao nosso redor se tornando ainda mais pesado.

— Você não entende nada, entende? — Ele deu um passo à frente, seus olhos agora cheios de algo que eu não conseguia decifrar. — Esse jogo que você acha que estamos jogando, eu já cansei dele. Você está sempre preocupada com o que eu penso, com o que os outros pensam. Talvez, se parasse de tentar me superar, entenderia o que realmente importa.

Entre Olhares e Mistérios - Suguru GetoOnde histórias criam vida. Descubra agora