Situação

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Minha situação não era das melhores, e eu sabia que aquele repouso forçado era necessário, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Shoko era uma verdadeira amiga, me ajudando com tudo. Desde os curativos até as conversas que me mantinham sã. Ela sempre tinha um jeito calmo e tranquilo de lidar com as coisas, e por mais que eu tentasse esconder o quanto a situação me incomodava, ela parecia sempre perceber.

Satoru, como sempre, fazia questão de me incomodar. Todo dia, sem falta, ele aparecia com alguma piada, alguma provocação para me tirar do sério. Eu sabia que era o jeito dele de tentar me animar, mas havia dias em que tudo o que eu queria era um pouco de paz. Ele parecia incapaz de perceber quando o limite era ultrapassado, mas, no fundo, eu sabia que ele se importava.

E Suguru... bom, ele era outra história. Ao contrário de Satoru, ele não ficava o tempo todo por perto. Na verdade, ele só aparecia de vez em quando, sempre de maneira discreta, quase como se não quisesse ser notado. Ele entrava, dava uma olhada rápida para ver se eu estava bem, trocava algumas poucas palavras com Shoko e depois sumia novamente. Não era muita coisa, mas a simples presença dele, por mais breve que fosse, mexia comigo de uma forma que eu não conseguia entender.

Eu sabia que nossa relação era complicada, cheia de provocações e conflitos, mas havia algo na forma como ele olhava para mim nesses momentos que me fazia questionar tudo. Talvez fosse a culpa pelo que havia acontecido na última missão, ou talvez fosse algo mais profundo que nenhum de nós queria admitir.

De qualquer forma, eu não tinha muito tempo para pensar nisso. O repouso forçado me dava tempo demais para ficar presa em meus próprios pensamentos, e quanto mais eu tentava fugir deles, mais eles voltavam com força total.

Assim que finalmente me senti melhor, sem o peso da dor constante e pronta para voltar à ativa, Satoru apareceu no meu quarto com um sorriso largo no rosto.

— S/N! — Ele praticamente gritou, como sempre exagerando no tom. — Agora que você está inteira de novo, acho que merecemos comemorar, não acha?

Eu o encarei, arqueando uma sobrancelha, já sabendo o que vinha a seguir.

— Comemorar o quê exatamente? Eu desmaiei no meio da missão, Satoru. Não vejo motivo pra festa. — Cruzei os braços, me recostando na cama.

— Ah, para com isso. Você sobreviveu, e isso já é uma vitória! — Ele se aproximou, jogando-se na cadeira ao lado da cama de forma espalhafatosa. — Vamos sair, eu, você, Shoko e... Suguru. Vai ser divertido.

Suspirei, revirando os olhos.

— Claro, porque sair com vocês três é sempre tão relaxante... — falei, meu tom carregado de sarcasmo.

— Relaxante? Quem disse que é pra relaxar? — Satoru deu uma risada. — É pra você lembrar que a vida é curta demais pra ficar de repouso por tanto tempo.

Eu bufei, mas um pequeno sorriso escapou.

— Você não vai desistir, vai? — perguntei, sabendo a resposta.

— Nunca! — Satoru se levantou num pulo, estendendo a mão para mim. — Então, o que me diz? Vamos? Prometo que vou te deixar em paz... por pelo menos cinco minutos.

Olhei para sua mão estendida, depois para o sorriso de pura empolgação em seu rosto. Eu sabia que ele não ia me deixar em paz até eu aceitar.

— Tá bom, tá bom... — suspirei, pegando sua mão. — Mas só porque eu sei que você vai me enlouquecer se eu não for.

Ele deu um sorriso ainda maior, como se tivesse ganhado uma grande batalha.

— Sabia que você ia ceder. Agora vai se arrumar, porque hoje a noite é nossa!

Entre Olhares e Mistérios - Suguru GetoOnde histórias criam vida. Descubra agora