Lágrimas

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Mais tarde, quando voltei ao meu quarto, o silêncio finalmente me atingiu. Sentei na beirada da cama, sentindo o ombro ainda latejar, mas a dor física era o menor dos meus problemas. Eu estava exausta, mas não era só cansaço. Era frustração, raiva... e aquele sentimento sufocante de inutilidade.

Eu odiava me sentir assim. Odiava sentir que, de alguma forma, Suguru estava certo. Eu me esforcei tanto para mostrar que podia lidar com tudo, para provar que não precisava de ninguém, mas ali estava eu, machucada e humilhada.

As lágrimas começaram a se acumular nos meus olhos antes que eu pudesse impedir. Não era só pela dor no ombro, era por tudo. A forma como ele sempre me fazia sentir inferior, como se eu fosse um fardo para ele. Mesmo sem dizer, eu sabia que ele pensava isso.

Meus pensamentos foram interrompidos por uma batida leve na porta, seguida pelo som da maçaneta girando. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Satoru entrou, seu rosto habitualmente brincalhão agora cheio de preocupação.

— Ei, S/N — ele disse, fechando a porta atrás de si. — Posso entrar, ou você vai me expulsar com um de seus surtos?

Eu rapidamente enxuguei as lágrimas antes que ele as visse, mas era tarde demais. Ele já havia notado.

— Tá tudo bem? — Satoru perguntou, aproximando-se. — Quer dizer, além do fato de você ter sido quase esmagada por uma maldição. O que, aliás, não devia ter acontecido.

Eu suspirei, olhando para o chão.

— Eu tô bem, Satoru. Só... um pouco cansada, sabe?

Ele se sentou ao meu lado, suspirando também, mas de um jeito dramático e exagerado, como só ele faria.

— Sei. Claro que sei. Mas estou preocupado com você, S/N. E não é só por causa do seu ombro. — Ele me olhou de lado, esperando que eu dissesse algo.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando decidir se deveria desabafar ou não. Mas Satoru sempre foi bom em ler as pessoas, e ele parecia não estar disposto a sair até ouvir a verdade.

— É o Suguru — eu admiti, minha voz mais baixa do que eu pretendia. — Ele... a gente brigou. De novo. E eu sei que ele sempre acha que está certo, mas, hoje, ele realmente me fez sentir... como se eu fosse inútil.

Satoru levantou uma sobrancelha, claramente surpreso.

— Suguru? Sério? Ele realmente disse isso?

Eu balancei a cabeça.

— Ele não disse exatamente isso, mas... ele sempre tem essa maneira de me fazer sentir que estou errada, que sou imprudente, que eu não sou boa o suficiente.

Satoru ficou quieto por um momento, algo raro para ele. Ele normalmente tinha uma resposta imediata, seja uma piada ou um comentário sarcástico. Mas, dessa vez, ele apenas suspirou novamente, dessa vez de um jeito mais sério.

— Olha, S/N, Suguru tem suas próprias merdas pra lidar. Ele é complicado, sabe? Ele nunca vai admitir isso, mas ele se preocupa com você. Se ele parece duro, é porque ele quer que você fique segura. Ele só... não sabe demonstrar isso muito bem.

Eu ri, mas sem humor.

— Segura? Ele praticamente me chamou de imprudente e incompetente. Como isso é se preocupar?

Satoru sorriu de lado, com aquele jeito típico dele.

— Ah, ele tem um jeito bem distorcido de mostrar que se importa. Mas confia em mim, eu conheço o Suguru há mais tempo do que você, e se ele tá te irritando assim, é porque ele se importa.

Entre Olhares e Mistérios - Suguru GetoOnde histórias criam vida. Descubra agora