Bochechas Coradas

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Suguru me deixou na porta do meu quarto, e o que era para ser uma despedida rápida se alongou em uma conversa descontraída. Falávamos sobre coisas triviais, nada que realmente importasse, mas a leveza do momento parecia diferente. Eu estava até começando a me sentir à vontade ao seu lado, o que era bem estranho considerando como costumávamos nos tratar.

— Então, você realmente acha que Shoko vai perdoar Satoru por aquele comentário no jantar? — perguntei, tentando segurar uma risada ao lembrar da expressão de Shoko quando Satoru fez uma piada sem graça.

Suguru deu de ombros, com um pequeno sorriso nos lábios.

— Provavelmente, ela já está acostumada. Mas não ficaria surpreso se ela o socasse da próxima vez.

Eu ri, imaginando a cena, e foi então que percebi uma mecha do cabelo dele bagunçada, caindo de forma desalinhada sobre o rosto. Antes que pudesse me conter, instintivamente, estendi a mão e arrumei o cabelo.

Suguru congelou por um segundo, seus olhos se fixando nos meus, surpresos com o gesto. Um rubor sútil subiu em seu rosto, e ele desviou o olhar, claramente constrangido. A expressão dele foi tão inesperada que não consegui segurar a risada.

— O que foi? — ele perguntou, cruzando os braços e tentando recuperar a compostura, embora o constrangimento ainda estivesse evidente.

— Nada... — falei, tentando conter o riso. — Só que nunca imaginei que veria você corado por causa de um gesto tão simples.

Ele bufou, revirando os olhos, mas havia um leve sorriso em seus lábios.

— Não é algo que acontece com frequência.

— É, eu pude perceber — provoquei, ainda rindo.

Por um momento, o clima parecia tão leve, tão diferente da tensão que normalmente havia entre nós. Era quase... confortável. Suguru balançou a cabeça, aparentemente derrotado pela situação, mas aquele pequeno sorriso persistia.

— Vou fingir que você não está rindo de mim, S/N. Boa noite — disse ele, dando um passo para trás, pronto para sair.

— Boa noite, Suguru — respondi, ainda sorrindo, enquanto o via desaparecer pelo corredor.

Aquela cena não saía da minha cabeça. Eu estava deitada na cama, olhando para o teto, e tudo o que eu conseguia pensar era em Suguru corado, naquele sorriso discreto que ele tentou esconder. Como algo tão simples pôde me afetar tanto?

Borboletas pareciam surgir no meu estômago toda vez que a lembrança me vinha à mente. Eu me sentia estranhamente inquieta, incapaz de ignorar o jeito como ele me olhou, o rubor que tomou conta de suas bochechas. Era como se, pela primeira vez, eu tivesse visto um lado de Suguru que nunca imaginei que existia.

E isso me perturbava.

— Não é possível... — murmurei para mim mesma, virando na cama, tentando afastar aquelas sensações. Mas não adiantava. O sorriso dele estava gravado em minha mente, e cada vez que eu me lembrava, algo dentro de mim parecia se agitar.

Suguru nunca havia sido alguém que eu pensava desse jeito. Ele sempre foi aquele que me irritava, que fazia questão de ser impassível e distante. Mas agora, tudo parecia diferente. O que eu estava sentindo?

Suspirei profundamente, frustrada comigo mesma. Não podia estar acontecendo. Eu e Suguru não tínhamos essa dinâmica. Não podíamos ter. Mas, de alguma forma, era como se algo tivesse mudado entre nós naquele breve momento.

Eu fechei os olhos, tentando afastar aquelas borboletas, mas era inútil.

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Visão de Suguru

Enquanto voltava para o meu quarto, não conseguia parar de pensar no que tinha acabado de acontecer. Ela riu. S/N arrumou meu cabelo e depois riu de mim. E por alguma razão, aquilo mexeu comigo de um jeito que eu não esperava.

Ainda sentia o calor em minhas bochechas, o que era embaraçoso. Nunca me imaginei corado, ainda mais por algo tão trivial. Mas o jeito dela, tão natural ao tocar meu cabelo, o som da risada… Parecia diferente do que eu estava acostumado. A gente sempre se estranhava, se provocava. Era normal. Mas aquilo? Não parecia normal.

— Droga… — murmurei para mim mesmo, parando no corredor. O que estava acontecendo comigo? Por que uma cena tão simples estava mexendo comigo dessa forma?

Continuei andando, mas a inquietação crescia. O sorriso de S/N não saía da minha cabeça. Ela estava linda naquela noite, isso eu não podia negar. Na verdade, fazia um tempo que eu estava começando a reparar mais nela. Não queria admitir, mas algo estava mudando. Talvez tenha começado antes, sem eu perceber.

Quando Satoru brincou no jantar, eu senti meu rosto esquentar de um jeito que nunca tinha acontecido antes. Aquilo foi estranho, mas tentei disfarçar. E, claro, ele notou. Típico.

Eu suspirei, já perto da porta do meu quarto. O que me incomodava não era só o fato de ela ter rido de mim, mas a forma como a presença dela parecia estar afetando o meu comportamento. E agora, pensando em como ela me olhou, no toque dela no meu cabelo… senti algo que não estava acostumado a sentir.

Era irritante.

Ao entrar no quarto, joguei-me na cama, o olhar perdido no teto. O sorriso dela ecoava na minha mente, como um lembrete constante de que algo entre nós havia mudado. E, pela primeira vez, aquilo me deixava inquieto.

Entre Olhares e Mistérios - Suguru GetoOnde histórias criam vida. Descubra agora