Um abismo para o inferno

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A água invadiu meus pulmões, mas meu corpo logo se adaptou á nova condição que agora me encontrava, infelizmente, não podia dizer o mesmo do terror que me assolou quando fui arrastada para dentro daquele lago sombrio e frio. Quando à água cobriu meu corpo tudo perdeu á vida, nada mais fazia sentido, não importava mais o motivo pelo qual fui até ali, nem que aquelas fêmeas dependiam de mim, eu gritava me debatia e chorava, completamente desesperada para voltar a superfície, rezando para qualquer Deus antigo que me tirasse dali. Eu não podia voltar para um lugar como aquele. "Não". "Não". Então gritei mais alto, e me debati ainda mais contra aquelas garras nojentas que pressionavam cada vez mais minha pele, tentando me libertar... Meu corpo estremeceu de dor um segundo depois, como se milhares de agulhas tivessem sido enfiadas em minha pele, restando apenas escuridão.

Não sabia quanto tempo havia se passado, quando acordei naquela sala húmida e com cheiro de mofo, minha boca tinha gosto de ferro e meu nariz sangrava, meu estômago embrulhando quando notei que minhas vestes tinham sido trocadas. Eu estava agora dentro de um vestido horrível cor de areia, com alguns desenhos estranhos em renda na borda. Os machucados em minhas mãos não estavam se curando mas aquilo pouco importava, eu estava sozinha... E trancada novamente. Levantei mesmo que todo o meu corpo protestasse, e me arrastei até uma janela próxima, entretanto eu só conseguia ver uma pequena parte daquele lugar. O barulho de correntes e chicote preenchiam meus ouvidos, e mesmo que fosse escuro lá fora, dava para ver algumas criaturas com garras e dentes afiados, todas acorrentadas, enquanto outros, que pareciam sentinelas os comandavam e chicoteavam suas costas. Muitas construções que pareciam feitas de alguma rocha escura incomum, estavam sendo erguidas, várias criaturas humanoides sem rosto se esgueiravam por lá, flutuando na água como se voassem. Que a mãe me proteja, aquilo não era uma caverna, nem mesmo um simples esconderijo submerso, era um reino, de criaturas humanoides que escravizavam umas as outras, eu estava diante de um reino, e sabia exatamente quem era que o comandava, aquele desgraçado tinha mais poder em mãos do que poderia imaginar; o medo fez meu estômago revirar e todo meu corpo começou a tremer, não era hora de entrar em pânico não. Então respirei pelo nariz e soltei pela boca algumas vezes atenta a cada detalhe daquele lugar, além do barulho lá fora não havia nenhum outro... Respirei fundo pela ultima vez e forcei meu corpo a se mover, sentia o chão frio sob meus pés, apesar do vestido eu estava descalça e nem queria pensar em quem tinha trocado minhas roupas, apenas me agarrei a certeza de que meu corpo pelo menos não havia sido violado novamente, caminhei devagar até a porta, parando antes de abri-la tentando escutar algum barulho. Meu coração desacelerou um pouco ao ver que ninguém estava do outro lado e nem próximo, não tinha tempo á perder, eu precisava ir logo encontrar aquelas feéricas, nem se quer, por um segundo acreditei que Régan fosse cumprir com sua palavra, ele era o pior tipo de lixo existente na terra, dissimulado, falço e traiçoeiro. Eu apenas precisava chegar até elas e por pura ironia do destino, elas estão presas assim como eu fiquei um dia... Ou talvez até mesmo aquilo possa ter sido arquitetado por ele, para me punir por ter fugido, cada vida tirada foi uma punição por ter ficado longe de seu alcance esse tempo todo. Meu coração doeu ao pensamento como se estivesse sendo rasgado em pedaços, mas segurei as lágrimas e afundei cada gota de medo e pânico o mais fundo que podia, trancando todos os meus sentimentos em uma caixa no fundo de meu âmago, e abri à porta, vou encontrar o lugar onde as feéricas estão sendo mantidas e garantirei que saiam dali vivas.

Não era atoa que aquele lugar fedia a mofo, quando sair do quarto me daparei com um longo corredor com o piso coberto por água, que dava para duas escadarias, uma levava para parte superior e a outra para a inferior, então fechei meus olhos, acessando meus sentidos que a muito havia enterrado, deixando assim que a água falasse comigo e que me guiasse até elas. Demorou um pouco mas logo senti um puxão que me levou até a escada que dava para baixo, o caminho era muito escuro e as paredes pareciam sujas de algum tipo de óleo, desci as escadas com cuidado, cada vez mais para baixo e para baixo, o cheiro de mofo fezes e urina ficando cada vez mais intenso e insuportável, cheguei ao fim da escada e quase que todos os meus sentimentos me dominavam novamente, como uma avalanche, apertei firme aquela caixa que se debatia de dor dentro de mim á visão que agora eu tinha.

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