Como um cavaleiro da noite roubando a constelação que encantava a pobre April, chegou depressa no sol ensolarado para roubar o calor daquelas palavras curtas que maravilhavam o coração empobrecido da pequena garota. April encarava o seu olhar infeliz e vazio no espelho enquanto termina de colocar sua última joia no pescoço, suas últimas palavras e comprimento que recebera do garoto de olhos castanhos também estavam na incisão de prelúdios que faziam feridas em sua alma. Nenhuma lagrima, apenas dor amarga, profunda e silenciosa que estavam zombando da sua ingenuidade de acreditar que poderia existir sentimento atrás daquela simpatia e conversas vazias que recebeu do garoto. O que fica depois da memória dos resquícios da presença dele em sua mente? Apesar de serem poucos momentos significavam muito para ela, não queria se afastar de tudo que viveu ao lado do garoto que ela nem sequer sabia de seus medos e preferencias, apenas vê-lo já era o suficiente. Embora não se permitiu derramar uma lagrima e não sentir medo, estava lá, pronto para derramar a taca sobre o oceano furioso, imerso na profundeza obscura escondida pela calmaria da água cristalina que encantava a todos. O medo estava lá, no canto da porta escura sobre as teias de aranhas pronto para assombrar a pequena April que não decidiu nada disso. Ela não escolheu se apaixonar e agora está colhendo os efeitos da pior maneira possível. O universo por sua infinita bondade velada de cinismo resolveu presentear a garota com quatro horas de aula de exatas administradas pelo garoto que era jovem demais para uma inteligência digna de cientista. April mantinha seu olhar vago, sentada na última cadeira rabiscava um esboço de sua poesia inspirada no seu professor que acabara de adentrar a sala gelada se direcionando para o quadro. Um bom dia animado ecoou pelo local silencioso, a turma respondeu no mesmo entusiasmo que April não conseguia manter. Ela estava em seu próprio velório, obrigada a enterrar sua paixão e a memória do garoto cumprimentando-a todos os dias, sem nenhuma vela aromática para esconder a podridão que estava em seu interior transparecidos em nichos decompostos a tristeza que era lembrar daqueles dias virtuosos. Nem parece a mesma April que encontrou os olhos do garoto que tanto ama e permitiu o contanto de cincos segundos que jamais fizera com tanta ternura, agora ela conseguiu notar as pequenas raízes que tinham em volta do seu globo ocular e se maravilhou por poder observar esses pequenos detalhes jamais compreendidos por seu nervosismo que impedia talação com riqueza de descrição. O quão tola ela se parece agora, é nisso que resume a paixão? Olhar para trás com a mente crítica e analisar o quão impulsivas foram as suas atitudes de um medo incompreensível se estava reagindo na mesma intensidade de palavras vazias transcritas pelo seu cérebro como o amor verdadeiro que seu último dia permite que fizera? Tolice! Cuspa no meu tumulo e ainda vou me sentir mortificada por não receber tal tratamento inescrupuloso pela eternidade! April se permitiu fazer isso. Ela acreditava que se castigasse a sua alma com as punições mais sórdidas, se livraria das escolhas de um coração atormentado para diminuir a sentença que estava condenada por receber a indiferença de seu amado. Todavia, isso estava longe de acontecer. Enquanto ponderava no seu breve sofrimento que recebia a lastima daqueles dias curtos, o seu professor completava o quadro branco com explicações sobre eletricidade e seus diversos fenômenos, passeando entre o trabalho das cargas elétricas e como desempenhavam seu papel na natureza com perfeita maestria. Isso parecia interessar a garota enquanto ele se movimenta na frente da turma para demonstrar como uma pessoa sobrevive após um dia chuvoso se o carro estiver parado em uma poca de água e cabos elétricos estiverem por toda a parte.
-- E simples – Disse ele. -- Você deve saltar do carro de maneira que seus pês ficam juntos no chão, dessa maneira, a corrente será menor e você manterá seu corpo longe de descargas. -- Ele terminou. -- Todos entenderam? -- O garoto procurara o olhar de April enquanto a sala acenava em concordância com sua explicação.
O contato visual dos dois continuou enquanto ele toma um copo de água. April não saberia discernir do que terá mais saudade, da voz do garoto em seus ouvidos enquanto apresentava a breve explicação sobre a matéria que tinha conhecimento ou seu olhar enquanto fazia uma pausa entre um parágrafo e introduções. Mas é certo de que a saudade ecoara de tudo que ainda não viu, como uma sintonia desafinada torturando a alma da garota que não sabia como consertar as cordas da harmonia para um som calmo e vibrante pelo seu íntimo. April poderia tentar eternamente lutar contra a dor, mas isso está fadado a te consumir. Sem ela protestar contra o tempo, pois levou depressa aquelas cinco horas que tentava guardar cada segundo da silhueta do garoto em sua mente, esvaiu-se como uma polaroid dos anos setenta com a filmagem escura. Ela poderia conviver com isso, se contentar com as misérias que sua alma se agrada enquanto tentava se manter forte na sala. O seu nervosismo aumentou quando percebeu que o Caio estava abraçando cada aluno e desejando boa sorte em sua jornada como estudantes, ela estava estática quando ele se aproximou.
-- Eu posso? -- Os dois sorriram quando April se levantou.
-- E claro – Ela disse. Os braços de Caio embalaram ela que não sabia o que estava sentindo com aquela aproximação. Apesar de demorar, era isso que ela queria cinco segundos com a cabeça em seu ombro. April estava se sentindo inebriante com o aroma de colônia e álcool de caneta que ele exalava, ela sorriu melancólica quando os dois se separaram.
-- Tenha um bom final de semana, April. -- Ela sorriu triste enquanto desejava o mesmo para ele, a sua silhueta estava quase desparecendo pela porta da sala quando o chamou desesperada pela esperança que estava terminado seu livro.
-- Você gosta de ler? -- Caio se abaixou para ficar na mesma altura que ela, pois estava sentada a cadeira.
-- Sim – Ele riu. -- Por que a pergunta?
-- Estou terminando um livro – Caio levantou as sobrancelhas em surpresa. --Se você quiser ler, eu mando para voce.
-- Manda que eu leio. -- Ele saiu pela porta. April permaneceu olhando para a porta na esperança dele retornar e dizer que também está torturado pelos momentos que compartilharam, sua expressão vazia não encontrou nada além das paredes brancas e suspirou resignada a confortar seu coração com memorias que não viriam mais existir. Era sempre difícil dizer adeus, April nunca se acostumou em despedir das coisas que ama. Era sempre injusto para ela pessoas que fizeram memorias e momentos inesquecíveis se tornarem memorias guardadas no fundo do armário empoeirado, que um dia se tornara outro móvel polido na mente de alguém que compartilhou lembranças dolorosas com a pessoa que conheceu no passado. Ela não estava pronta para dizer adeus, não saberia se algum dia estará pronta para realizar tal ato com tamanha bravura. Nesse momento, queria sentir aquela dor prazerosa cutucando os seus anseios, rastejando pelas veias para saber o limite que poderia suportar. Se fosse muito, ela estava pronta para se deitar em sua cama e não abrir mais os olhos para a claridade que o dia divino oferece para aqueles que acreditam na esperança de vencer com feridas que podiam tornar-se histórias clássicas. Histórias que ela já estava farta de carregar em sua alma, feridas. Apenas feridas que machucam a vida inteira. Uma última esperança surgiu quando encontrou o Caio parado na porta que tantas vezes olharam para a rua vazia, ela ficou do seu lado em silencio.
-- Passou rápido – Ela disse, repentinamente.
-- Sim –Ele concordou. April estava nervosa como sempre, mas surgiu coragem para o que falaria a seguir.
-- Confesso que quando te vi pela primeira vez... -- Ela sussurrou, ele olhou para April curioso. -- Te achei com cara de metido, mas eu estava errada. -- Ele riu.
-- O que, April? Não tenho, não. -- Ele passou a mão no cabelo e deu um passo para trás para se olhar na janela. Ele fazia caretas enquanto ria. -- Você me julgou, não esperava isso de você.
--Desculpe, não pude evitar – Eles mantiveram contato visual rindo. O silencio novamente acompanhou os dois por alguns segundos.
-- Você irá voltar para o curso? -- Ele perguntou enquanto olhava para a rua.
-- Não irei, infelizmente. -- Ele estava tão sereno, como da primeira vez que o viu.
-- Ah, April – Ele sussurrou, suas mãos estavam tencionadas. Ela percebeu quando ele abriu a boca, mas então não disse nada. April sempre se perguntou o que ele tinha para dizer que ficou perdido naquele lugar. -- Eu já vou indo. – Ele se virou para ela e acenou com a mão na testa. -- Quem sabe nos encontramos por aí um dia, April. -- Ela imitou seu aceno como um militar que cumprimenta seu superior com um sorriso triste no rosto. E assim que tudo acaba? Um aceno que antes ela começou à sua maneira, terminou com o Caio adaptando como se estivesse agradecido por tê-la conhecido. E assim que ela mantem em sua mente, que ele ficou encantando em conhecê-la assim como ela quando recebeu seu bom dia exatamente as quatro e meia da tarde. Antes de ir, olhou para o local que entregou memorias muito incríveis que estava decidida carregá-las consigo para seu tumulo. Infelizmente April se lembra de tudo muito bem. Essa é sua maldição.
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Aqueles Dias Cinzentos
RomanceApril é uma alma solitária, cujos dias se arrastam em meio à dor silenciosa de um amor não correspondido. Ela vive em um mundo onde seus sentimentos são um fardo, e seu coração, marcado por uma paixão avassaladora, não sabe mais distinguir o que é r...