Parte 3

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April entendi de tudo. Da mesma forma que para morrer tem que haver vida, para gostar de alguém tinha que ter uma relação, uma conexão profunda de corpo e alma que faça as energias se transformarem em uma só e todo esse ato fosse o suficiente para eles se amarem eternamente. Mas para isso acontecer, as duas precisam estar conectadas por um fio invisível que só seja possível destruir com a aniquilação da alma. April entendia de tudo. Entendia que poderia estar acontecendo algo mais profundo atras daquelas engrenagens castanhas que não saiam dos seus pensamentos quando a noite chegava, ele simplesmente aparecia sem permissão nos sonhos da April com aquele sorriso que tiravam o seu folego. April entendia metade das coisas. Mas para sua pequena compreensão das atitudes do garoto, que raramente falava sobre questões profundas envolvendo um miserável coração, sentia que ele realmente tinha April na hora que o coração e inundado pela escuridão e afogado de profunda melancolia que a fragilidade do homem e descascada, não restando mais nada além do amável olhar de sua amada para interferir nas feridas. April entende quase nada. Quase nada porque receber o bom dia dele e sagrado para manter uma admiração e relação, e sua alma se sentia divinamente cultivada por suas medíocres palavras que causavam raízes profundas em seu interior. April não entendia. Ela não entendia por que mesmo escolhendo usar seu anel verde brilhante, se sentia apagada por aqueles olhos castanhos que nem percebeu como ela estava diferente com o anel em sua mão. Entretanto, como Caio poderia notar? Poderia ele ter percebido o anel que a garota usava em suas mãos geladas apoiada na mesa fácil para todo mundo perceber? Ele não demonstrou sua reação sobre isso porque sua preocupação estava em entregar o simulado e ir lecionar na outra sala. Todavia, ele desejou para ela bom dia sem aquele sorriso encantador que ela tanto adorava que ela se sentiu tola para esperar tanto tempo para receber apenas palavras ao vento. Mesmo sem a entonação, bom dia sempre era sagrado para April que não se importava com o ponteiro parado em quatro e meia da tarde, dessa forma, sua alma se agradou em cultivar novas raízes que já estava tomando conta de seu abismo. Ao contrário, ela notou que ele estava usando uma nova corrente de prata que o deixava ainda mais deslumbrante, ele ficava divinamente com essa corrente, ela pensou. Ele ficava divino em tudo, seu tolo e miserável coração. Ela terminou seu simulado com o conhecimento que tinha e caminhou para a saída esperar sua mãe, entretanto, sem esperar que houvesse uma linha diferente, encontrou o Caio na mesa da secretaria ajeitando seus materiais para lecionar em outro cursinho. Um sorriso genuíno saiu dos lábios dos dois quando seus olhos se encontraram que ela não pode deixar de sentir-se tola com todos os seus pensamentos anteriores. April estava muito nervosa com a sua presença intimidadora.

 -- Você faz faculdade de física, certo? -- Suas palavras saíram desajeitadas para o garoto que sempre se esforçava para ouvir.

 -- Sim, julguei que era melhor não ficar parado e como gostaria de ter uma licenciatura ponderei que a física era melhor para mim—ele disse inclinando seu corpo e colocou as palmas da mão sobre a mesa que separava os dois, isso parecia ser inocente, mas não para April que estava contendo seus pensamentos.

 -- Você realmente explica muito bem a física -- Disse ela, nervosa. -- Quero dizer, a maioria dos estudantes não entendem e você faz parecer que e tão fácil -- A garota pensou que essa era a melhor hora para despejar apenas uma gota do que ela realmente sentia. 

-- Muito obrigado, April! -- Caio esfregou as palmas da mão e se afastou com a April parando ao lado da porta, ele parecia extremamente feliz ao lado dela que continuava apreensiva. Ele sempre estava confortável ao seu lado, diferente dela que tinha suas mãos inquietas sempre apertando os dedos. --Estou cansado, April – Ele sussurrou essas palavras casualmente porque sentia o cansaço rastejando por todo seu corpo, mas para ela significava um sentimento mútuo, como se isso fosse uma forma de aproximarem-se. Talvez ele estivesse esperando que ela falasse algo motivador, mas não sabia o que dizer. Como sempre não sabia o que falar para o garoto que estava tão perto que seus braços estavam a centímetros de se tocarem.

 -- Faz parte da vida o cansaço -- Isso era o melhor que você tinha para dizer, April? Novamente ela se sentiu envergonhada, isso foi ridículo. Tudo que falava fazia-a sentir mais apreensiva, torturando-se pelas próprias palavras.

 -- Eu ainda tenho que realizar uma prova de cálculo três-- ele disse, olhando para o horizonte que estava tomado pela noite estrelada. 

-- Para você é fácil, tenho certeza de que irá muito bem! -- Isso ela poderia dizer com toda a certeza do mundo enquanto desfrutava de alguns minutos da companhia do garoto que a deixava totalmente inebriante. Ao mesmo tempo que ele parecia bem real, era como se estivesse saindo de um livro escrito por ela mesma enquanto analisava seu rosto esculturado. 

-- Você é de humanas? - ele encarou a April que segurava apenas um segundo do contato visual. --Sempre fala de exatas como algo que está longe da sua compreensão.

 - Sim, os números não me compreendem – April sussurrou-- Já a escrita, poesia e textos surgem tão naturalmente que não preciso colapsar os nervos para escrever apenas uma sentença... Como se eu vivesse o que escrevo – Caio sorriu. 

-- Interessante, April. -- Ele estava pensando em sua prova quando chegasse em casa. Seus pensamentos giravam em torno de física, cálculo três e como estava se saindo como professor, nada além disso. O silencio acompanhou os dois enquanto olhavam para rua quase vazia, a noite estava agradável para os dois jovens que suspiram cansados. Ela estava estática apertando suas mãos geladas na tentativa de diminuir sua pressão, era muito boa em esconder o que sentia com seu corpo imóvel que o garoto não sabia que seu coração estava saindo pela boca por permanecerem cinco minutos lado a lado. Caio estava pensando em sua prova e como se sentia extremamente cansado por ter que realizar ela quando chegar em casa. Seis minutos lado a lado. April se sentia no seu próprio livro de romance estando tão perto do garoto, ele se sentia cansado. Seria quase sete minutos inteiros se o garoto não desse vencido pelo cansaço, se virou para ela e acenou com a mão mantendo um sorriso encantador no rosto. April estava tão feliz por Caio ter copiado seu aceno que deu para ele naquela noite de segunda feira chuvosa que quando o garoto se virou para ir embora, ela comemorou sutilmente por isso ter acontecido. Para Caio era apenas um gesto... um gesto de despedida.

Aqueles Dias CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora