Gotas de sangue escorrem da minha testa. Será mesmo essa paixão que cultivo com os dentes a mesma que fere minha índole? O mais desprezível dos homens me tornei, implorar de joelhos para a amada que devoto minhas lagrimas, mesmo assim, no calor das minhas súplicas no ato da minha fragilidade o amor que deveria esquentar meu coração e o mesmo que derrama sangue sobre minha pele. Algumas pessoas não reconhecem o amor que protege suas almas, outros tem que implorar para que o mesmo não a destrua. Meu corpo febril estava tremulo sobre o chão gelado. Como eu poderia duvidar da minha própria convicção de que essa paixão e pura e devota? Não consegui me poupar da indignidade. A um passo de completar o sofrimento que cravou em minhas costas, assisti com temor Rebecca jogada nos braços daquele homem na pura confidencia e trocando caricias para demonstrarem o quanto estavam quebrados emocionalmente por escreverem suas vidas longe um do outro. Poderiam ser esculpidos diretamente das escrituras porque o amor tudo suporta quando não há nada impedindo-os de proferirem a chama que arde em seus corações.
-- A dor que assolava meu coração com a distância que o mar nos separava escureceu meus dias e multiplicou minhas noites na ânsia de poder tocá-la novamente. -- ele disse com as duas mãos acariciando o rosto de Rebecca. Ela estava sorrindo com lagrimas sobressaindo nos olhos. -- Todos os dias eu pensava em você, nunca te apaguei da minha memória. Portanto, me prostava diante da saudade e rezava para que fosse extinguida.
-- Ah Alberto – Rebecca fungou. -- Meu coração clama pela sua devoção! Quando você parou de me escrever imaginei que sua alma tinha me esquecido das suas paixões, você não sabe o quanto ficou doente com a sua ausência. A febre me consumiu, no leito quase implorei pela minha vida, implorei para que essas feridas parassem de sangrar, mas nada bastava. -- Eu poderia ver a compaixão exalando do olhar de Alberto. -- Compreendi que sem você meu coração não demonstrava prazer pelas coisas que ama. Entretanto, quando conheci o Caio ele me ajudou um pouco com o vazio que rondava minha alma. Não sei o que me aconteceria se você demorasse para voltar.
-- Não afliges mais o seu coração, minha Rebecca. -- Eles estavam com as testas rocando uma na outra. -- Estou de volta como te prometi. E as minhas cartas são apenas um elo da sua importância na minha vida e para lembrá-la que cumprirei minha promessa.
Me transformei apenas em testemunha das declarações que estavam fazendo um para o outro no calor da saudade. A dormência estava impregnando meu joelho por ficar apoiando meu peso sobre ele, meu corpo inteiro estava fraquejado pela terrível docência emocional que acometeu meus anseios. Ah, Deus como possível eu sentir todo esse desamparo e dor física e não chegar nem perto da morte? Desde sempre me pergunto quando tornei me miserável ao ponto dos meus ossos não saberem o caminho de volta para casa, abandonado ao relento sem previsão de uma alma ter piedade da minha carcaça e livrar-me dessa condenação dolorosa. Entretanto, por mais que agora posso ter a clareza que estou no deserto, não sei como faço para encontrar o caminho para as correntezas do divino que eu nunca deveria ter saído. Estranhamente não me sinto sozinho, como se estivesse uma presença nesse escuro contemplando o desfalecimento da minha carne e pintando manchas na minha alma com seu dedo apodrecido. '' Ah senti tanto a sua falta'' Ouvir o derramamento dos seus corações doíam ainda mais os meus ossos. Ela está me torturando intencionalmente agora que sabe o sentimento que nutro por ela em meu coração.
-- Achei que estávamos sozinhos – Alberto disse quando adentrou e se deparou comigo de joelhos segurando o papel em minhas mãos tremulas. -- Perdoe a minha inutiliza, mas a sua aparência não está muito boa, ouso dizer que o senhor foi agredido no caminho para cá.
De certo, fui agredido pela rejeição. Como todo humano que espera ser amado, derramei minhas palavras apenas para serem incompreendidas e, até mesmo, caçoadas pela pessoa que as dediquei com tanta devoção. Mesmo trocando poucas palavras descrevo Alberto como um arrogante que despreza todos que não são da sua mesma convivência. O seu terno bem passado e o cabelo penteado milimetricamente para a direita passam a imagem de um narcisista que só tem olhos para si mesmo. Entretanto, a sua lábia para coisas do coração mostra que ele se preocupa em manter uma posição de poder enquanto consegue conquistar o sentimento da sua amada, o olhar de desprezo enquanto ele me olha de cima abaixo me causa ânsia de vomito.
-- Ah, Caio! -- Rebecca se abaixou e levantou o meu corpo. -- O que você está fazendo no chão? Adorei a sua companhia porque ela foi muito inusitada com a suas leituras de hoje. -- Ela se apressou enquanto Alberto desmontava um olhar de dúvida sobre mim. -- Ele e o meu professor de física. Também me ajudou como um ótimo ouvinte no parque enquanto você estava fora.
-- Em demasia vejo seu sofrimento apenas para você compreender as entranhas humanas, entretanto se isso não lhe bastou, miserável tornara o seu espírito... como agora abandonado ao relento. Tanto tormento que sua vida se tornara moralmente banal -- ele se aproximou e me fitou a sangue frio, quanto mais perto vejo as duas fases humanas se fundindo... Se perdendo na própria criação. Enquanto ele projetava o que queria, eu estava mergulhado no sangue pela opressão de não possuir.
-- Você deve ter conhecimento mais disso do que eu – Apesar de não ter convicção do que estava dizendo, eu não poderia deixar ele se sentir vanglorioso ao observar o temor refletido em meu olhar. -- Porque você deve ter sacrificado algum prazer para estar aqui agora, algum bem odioso para satisfazer o seu ego.
-- Entretanto, ao ter prazo em tudo, suas relações com a Rebecca acabam aqui – Ele disse friamente quando observou com curiosidade o papel que estava em minhas mãos, e leu tudo em uma raiva avassaladora. -- Mas que declaração tola e essa? A minha aspiração a literatura condenado mortalmente essa confusão de palavras que se perdem em seu significado inescrupuloso!
-- Aparentemente de uma autora não publicada – Rebeca às pressas tentou se explicar. -- Nos só estávamos fazendo uma releitura a pedido da convenção das belas artes para ver se ela entrava no dia nacional de recitar prosas e poesias, entretanto depois de muito nos cansar, compreendemos que essas palavras não possuem embasamento algum para ser declarada em um dia importante.
--- E jamais encontraria nas mãos de um amador que só compreende física – ele disse se contendo para não se exaltar.
-- Rebecca, apesar da noite ter acabado como não gostaria, vou ter que me retirar de sua presença –ela apertou meu antebraço. -- Um até breve se o tempo permitir que nos encontrem, se as nossas almas não se resignarem ao destino.
--Não desperdice suas palavras e nem seu tempo comigo – Ela disse virando o rosto quando fechou a porta atras de mim. Como se meu corpo ficasse muito tempo se prezando, escorei a sua porta e fiquei uns minutos ali.
-- Não precisamos fechar nossos olhos agora ao aproveitar a presença um do outro – A voz do Alberto ressoava em todos os cantos da sala. -- Vamos comtemplar a formosura do nascer do sol e se render as chamas que o tempo não se preocupou em apagar, eu te adoro Rebecca – A sua risada era estridente em meus ouvidos. -- Eu te adoro!
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Aqueles Dias Cinzentos
Storie d'amoreApril é uma alma solitária, cujos dias se arrastam em meio à dor silenciosa de um amor não correspondido. Ela vive em um mundo onde seus sentimentos são um fardo, e seu coração, marcado por uma paixão avassaladora, não sabe mais distinguir o que é r...