Um ser de espírito perdido. Não entendia por que as pessoas me olhavam de atravessado, as margens, caído, desolado. Sempre vou me perguntar como cheguei nesse estado, mas nunca conseguir sair dessa privação de sono, de serotonina de aproveitar as manhas como um ser vivo. O sol me atrapalhava abrir meus olhos direitos, só estava enxergando as sombras das pessoas, minha boca estava seca, minha pele estava com rastros de sangue grudados, entretanto, o meu interior estava devastado. A aparência física e de menos porque com um pouco de água você consegue limpar sem deixar vestígios da destruição que passou. Já o interior sempre vai permanecer uma ferida aberta que você tenta de todas as formas curá-la, seja amando outra pessoa, seja se mudar para outro lugar recomeçar como se nunca tivesse passado por decepções. O asfalto e desconfortante para permanecer deitado, porque ele está fervendo minha pele com o calor do sol. Sim, agora vejo que as pessoas realmente me olham torto, quase me atropelam por estar em seus caminhos. Como se eu quisesse de alguma forma atrapalhar os seus afazeres que não contribuem para nada de nobre.
-- Ah meu Deus, Caio! -- Vivienne gritou do outro lado da rua. -- Estava procurando você por toda parte.
As imagens perturbam minha mente daquela noite. Não entendo um níquel do que aconteceu, mas ainda sim tudo perambula na minha cabeça como um sonho vivido, totalmente destruído. Nem mesmo todas as declarações que eu poderia ter feito, poderia mudar o sentimento de rejeição que imergiria como um ácido viscoso na pele, e não importa quantas vezes tento tirá-la, pequenos cistos permanecerão. Lamentável eu não ter visto antes que suas aspirações não estavam totalmente voltadas para mim. Mas como aquela criatura que zomba de minha carcaça parece ser como um cristal polido que eu desejo encrustar nas minhas idealizações? Ah, maldito seja o coração do homem que afere desejo por quem não pode possuir. Por que me torturo dessa forma? Cheguei no ápice da minha angústia, entretanto, como não haveria de encontrar nessa desolação profunda quando me afeiçoei por suas doces palavras no momento de fraqueza? Ora, eu fui fraco... tanto que agora estou abandonado ao relento. Era isso que ela estava tentando me mostrar, a April... que quando seu coração se devota a alguém com a pressa do desejo, está apenas se reduzindo a nada, abandonado a sorte de parar de bater antes do primeiro toque. Ela caiu profundamente nessa tentação... maldita seja essa paixão que subverte as boas normas em loucura para realizar com afinco as idealizações perversas da mente humana. Com tal conclusão martirizo meu amago por meu coração não possuir aversão a ela. O desejo zomba quando tento prendê-lo.
-- Por que você está com sangue seco no rosto? -- Vivienne indagou com o rosto retorcido de misericórdia por mim. As suas mãos seguravam meu rosto com tal delicadeza, ela parecia sussurrar angustiada e me abraçou apertado. Apesar de fracassar no que desejo, a amizade e muito valiosa para mim... -- Você arranjou briga com quem?
-- Meu coração... -- Sussurrei quase atropelando simples palavras. Ela não disse mais nada e começamos a caminhar para casa. Acho que April teria dito isso. O caminho para casa sempre e difícil, porque as reflexões tomam conta dos pensamentos e idealização outras situações para evitar chegar nesse poço. Resignado a desaparecer aos poucos em consequência das próprias ações. Obedecer ao coração demanda muita resistência. Aliás, não poderia ser demasiadamente humano sentir essas emoções reprimidas por um longo tempo serem vomitadas pela febre, entretanto, a flagelação chega ser tão severa que me condeno a sentir qualquer tipo de sentimento. Mas, eu não poderia me abster de correr esse risco, estaria negando a minha natureza de nunca desistir de conquistar o que almeja. Entretanto, além de sentir essa condenação penosa, também está registrado a meu caráter que fracassei miseravelmente. Ora, veja, isso não é um olhar divino? Permita-me explicar, ao tomar consciência que meu corpo mergulhou nas profundezas do subsolo, não irei me acomodar a esta fadiga de dilacerar o fígado, porque estou apenas em um estado temporário de deterioração, para assim comtemplar com meu espírito tudo que é belo e sublime. Porém, nem todos são capazes de suportar com magnitude essa deterioração vegetativa para perfeiçoar os seus espíritos, porque não tem consciência de si próprios quando os vejo preso a grande máquina para roubar-lhes seu precioso tempo. Nem mesmo são capazes de se questionar, a pleno luz do dia. Ao me gabar dessa proeza vejo o que isso me custou quando meu corpo está tomado pela febre nos braços de Vivienne. Agora sou eu que roubo a maior parte do seu tempo.
-- Vai me contar o que aconteceu? -- Ela não estava mais atônita em casa. Eu poderia sentir todos meus músculos desfalecendo quando repousei meu corpo no sofá, era como se todos meus ossos estivessem se dividindo em camadas. Vivienne sempre esteve a par de tudo na minha vida porque sempre fomos próximos desde a época da April. Seus conselhos foram muitos importantes, mas até hoje me faz duvidar se realmente foi necessário seguir à risca suas prescrições por conta que eu era um professor de uma aluna interessada. Na verdade, nem eu e ela tínhamos certeza.
-- Em algum momento senti uma clareza do que sentia pela Rebecca, mas ainda estava confuso. Precisaria amadurecer a ideia e realmente analisar se não foi uma falha de interpretação, porque eu não queria correr um risco de acontecer um mal intendido. -- falei com a pressão da minha boca seca aliviada por um gole de água.
-- Você realmente chegou lá? -- Viviene pressionou a minha testa com uma toalha para limpar os rastros de sangue que estava impregnado.-- Tudo estava embaraçado na minha mente, não conseguia discernir se era realmente um sentimento afim de questioná-lo por que estava ali. Então, com a finalidade de que tudo ficasse claro decidi ir para o parque para refletir no que deveria fazer. Na brisa do vento tão suave, April apareceu para mim e me fez questionar o que estava sentindo pela Rebecca, e me encorajou através de seu próprio exemplo destruído e com uma metáfora de um dedo apodrecido – Olhei para minhas mãos intactas. -- E Deus, não sei como ela fez isso! Que eu deveria me declarar para Rebecca e confessar minhas idealizações antes que o tempo me castigue...
-- o que? -- Ela sussurrou, perplexa.
-- Primeiro, eu quis constar que isso não passava de uma má compreensão, mas ela me mostrou uns bons motivos. Segui à risca e até usei uma de suas cartas que escreveu para expressar o mais sincero sentimento que estava inciso em meu coração – Bati as mãos no bolso, sem encontrar o pedaço de papel. -- Ah, eu o perdi! Eu o perdi! Isso não deveria ter passado desperecido, pois estava em minhas mãos o tempo todo..., mas como...
-- Deve ter caído na rua.
-- Realmente! -- Concordei. -- entretanto, esse pequeno infortúnio não irá atrapalhar no que eu tenho a dizer... fui a casa dela com o espírito repleto de devoção, entretanto ela não parecia demonstrar o mesmo. Disse que o sentimento era inexistente e até que estava ficando louco! Mas, veja, uns momentos antes ela também estava sentindo essa mesma febre que estou tomado agora, e o motivo não poderia ser diferente porque estava confusa em relação ao sentimento e índole pela pessoa que estava apaixonada, isso não poderia ser uma coincidência de enlouquecer os ânimos?
-- E o que você fez?-- Eu me ajoelhei aos seus pês! -- Disse, com cinismo. -- Como todo homem apaixonado eu implorei para que ela visse que estou repleto, transbordando de devoção por ela. Ela riu, a beira das minhas súplicas, das minhas lagrimas! Toda aquela declaração não bastou de nada, nem mesmo a carta. Na escuridão de seu olhar e o pavor de seu silencio, o sangue começou a escorrer de minha testa... a febre possuiu meu corpo inteiro e minha visão começou a enfraquecer. Ela apenas contemplou o sofrimento que eu estava tomado pela simples rejeição, simples ou dizer, que ela me causou. Todavia, de nada adianta lamentar! As feridas já estão cravadas.
-- Uma palavra minha não vai contornar a situação, Caio! Nem amenizar o que você está sentindo nesse momento, todavia, isso que passou foi somente para que pudesse ter a clareza de que ela não sente nada por você... -- Vivienne falou a realidade que eu quero tanto esquecer. -- Isso, de alguma forma, não é ruim, porque agora você pode prosseguir com a sua vida... E focar no que realmente importa. --No fundo, ela apenas sabe que e difícil eu mudar o meu rumo quando já inseri a adoração que tenho pela Rebecca em meu coração. Se eu já estou à beira do precipício quanto tempo falta para que eu jogue meu corpo de lá?
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Aqueles Dias Cinzentos
RomanceApril não conseguiu afastar seus pensamentos sobre aqueles olhos de anjo. Para ela, seu coração estava a vista... ansiando para que ele o tocasse e guardasse para si. Talvez ela devesse ter dito mais do que atitudes incompreendidas, mas ela estava c...