Parte 20

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Meus pensamentos estavam acelerados com a fala de Vivienne. O quanto dela pode ser verídica para que realmente eu deixe tudo isso para trás? Porque depois de experimentar a paixão lucida, mesmo que não seja correspondida, eu não tenho o direito de conviver à minha maneira com esse sentimento, para depois aceitar que ele e inconcebível? Talvez eu seja um homem de espécime que só desiste quando chega perto da destruição... Eu poderia dizer que isso e tolice se minha fé me permitisse enxergar as coisas com sua devida realidade... afinal, há em tudo saída para aquele que luta com a esperança.

-- Agora ela já sabe quais são suas intenções e o que há em seu coração... se ela for uma mulher de boa fé e com valores cruciais na base do ser, vai acatar tudo que disse e começar enxergar com lucidez a paixão que rege seu coração... -- Vivienne disse. --Não se preocupe, Caio! O seu sofrimento vai ser reconhecido.

-- Eu não tenho o direito de me iludir e saciar minha mente de que foi apenas ela que rejeitou qualquer sentimento... porque não aconteceu assim – comecei a derramar tudo, mesmo que meu corpo estivesse incapaz de fazer isso. -- Como eu expliquei, Rebecca um tempo antes, também estava tomada pela febre que eu estou agora. Entretanto, não presenciei isso, ela apenas me contou de seus lábios. Estou começando a refletir que eu sei mais sobre a April do que com a Rebecca em mais tempo de convivência com ela. -- Um breve monologo sobre isso interrompeu minha fala. -- Eu não sei quando poderia dizer que ela sente o mesmo por mim. Quer dizer, realmente existe um parâmetro para isso e apenas ignorei... as minhas convicções são todas erradas!

 -- Eu não compreendo onde você quer chegar – Vivienne disse. 

--Quando eu estava no ápice da minha declaração inusitada que foi rejeitada, um homem interveio que prosseguisse... eu não me lembro bem. Minha visão estava turva, e estava me sentindo desnorteado pela situação -- Falei, à beira de um delírio. -- Entretanto, ela logo se jogou em seus braços... me parece que ele era o noivo dela!

-- O que?

-- Realmente – Disse. -- De seus lábios só saiam declarações... pareciam que estavam muito tempo distante para se confessarem daquele jeito muito apaixonado. Eu apenas fiquei imóvel de joelhos, sentido aquela dor e sem saber o que fazer. Eles estavam um nos braços do outro. Em aflição me coloquei de pé, porque eles adentraram o abertamente e Rebecca por um segundo tinha esquecido que eu estava ali. Ela se comoveu e me perguntou o que estava fazendo daquela maneira, disse que eu era seu professor e que apenas ajudei-a com o tempo enquanto ele estava fora... se pronunciou rapidamente que eu apenas estava lendo uma página de um livro quando ele notou o papel em minha mão e começou a ler com fogo nos olhos o que continha. Parecia que ele ia me escorraçar ali, estava se segurando...

-- Eu até compreendo...-- Enfim, ela inventou que tudo fazia parte para selecionar as literaturas para uma universidade e ficou por isso mesmo. -- Suspirei. -- Você tinha que olhar o sujeito... a lábia que ele usava era persuasiva, te olhava como se estivesse enxergando os pontos fracos para depois poder usar contra você... apesar dessa aparência defensiva e narcisista, as palavras mais encantadoras saiam de sua boca, como se estivesse escrito os melhores livros do mundo. Entretanto, será possível que ela apenas e tão ingênua que não vê que pode estar sendo manipulada por ele?

-- Não acho possível quando ela escuta as coisas mais românticas existentes – Vivienne refletiu. --Agora que você já me contou tudo e estou a par... eu gostaria de contar o que aconteceu.

-- Pode falar – Eu disse, me preparando para tudo que ela tinha a dizer.

 -- Eu não sei discernir se estava sonhando acordada, mas estava no meu quarto e de repente comecei a sentir meu corpo inteiro leve, como se fosse uma pena. -- ela suspirou. -- Minhas pálpebras ficaram pesadas que não consegui mantê-las abertas por muito tempo, portanto não resisti e fechei-as. Quando abri novamente, April estava ao meu lado com um sorriso, me assustei de imediato. Ela me disse que o tempo não tarda a cobrar o que tem que ser feito e, me mostrou, desmanchando meu dedo. Eu fiquei em choque, paralisada. Isso nunca tinha acontecido antes.

-- Igual comigo – Falei, -- Só que agora voltou ao normal.

-- Mas porque ela haveria de aparecer para mim se nunca trocamos uma palavra sequer? Só nos conhecíamos por vista... 

-- Eu não sei, Vivienne – Estremeci. -- Sinto que não tenho a resposta para nada.

-- Chega de nos lamentar, não tem por que nos lamentar com situações que não podemos mudar! --Ela disse, animada. -- O meu noivo chegou ontem! Finalmente poderemos passar um tempo juntos e lembrar nossas almas que nascemos para ser eternos, assim como as palavras escritas que atravessam o mar em cartas para aquecer o meu, não mais, solitário coração.

-- Ele realmente cumpriu sua palavra. -- Ela sorriu. -- E como não haveria se elas estão eternizadas nos papeis que você guarda com tanta devoção? E porventura, um homem que não cumpre o que escreve, e indigno de suas paixões, além disso, se não o fizer, morre pelas próprias palavras com tamanha maldição que evocam.

-- Disso nunca tive uma dúvida sequer! -- Ela comemorou como uma criança que de tal maneira esqueceu dos eventos aterrorizantes que passou. Mas eu não tenho com o que me alegrar, apenas olho para cima esperando um espécime de salvação. Todavia que existência miserável e essa que se arrisca na eminência da morte, para depois esperar como um libertino na porta da igreja, um caminho menos penoso para purificar a alma da condenação? Serei eu um covarde para dever que não mereço tal flagelação, apenas para esquecer da minha natureza pecaminosa? Mas Rebecca nunca me disse abertamente, nem agiu como tal... talvez ela chegou a ter certeza de que ele a esqueceu e jamais voltaria para nunca o ter mencionado. Entretanto, agora sou eu que devo esquecer essa história de vez. Vivienne não tardou ir embora assim que a luz solar desapareceu e sobrou meus pensamentos nessa casa de paredes geladas, me atrevo dizer que estou sozinho porque April deve estar sentada em algum cômodo para não perder de zombar de meu sofrimento. O retorno as aulas não me agradaram como esperava. E não e nem por causa de Rebecca, porque ela nem chegou aparecer na sala nessas últimas semanas, mas sinto que não tenho a mesma disposição de antes. Parece ser como um dia qualquer, nada inovador. Apesar de que tento ser diferente para reter conteúdo, e os resultados são os mais favoráveis, entretanto eu só suspiro para os avanços. Não era de se esperar que fizesse sol, mas sinto que o tempo está mudando assim como meu humor. A chuva tentou purificar meu corpo, entretanto tudo que consegui foram roupas grudentas e encharcadas parado no meio do parque. Confesso que não parei de vir aqui porque tive a esperança de vê-la e realmente consegui. Ela estava divina. Pensei em me aproximar, mas alguma coisa me deteve, deve ser a maldita consciência.

Aqueles Dias CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora