Flesh

Fractured Reality

"Faz algum tempo, começo a entender que esse sentimento não passará, não, ele não passará "

É irritante a forma como as investigações sobre o caso de Gideon ficam dando voltas e voltas, as últimas entrevistas com ele foram inúteis.
Ele não é o Estripador, seu método não bate com as últimas vítimas, ele sequer entende a beleza dos corpos que o Estripador exibe.

É como se Gideon questionasse a própria personalidade, como se uma parte dele acreditasse que ele é o Estripador, e a outra já não soubesse mais o que pensar.
A Dra. Bloom e eu revezamos para entrevistá-lo, e ele se mantém numa linha tênue entre vacilar e acreditar no que diz. O incômodo constante de que há uma peça faltando nesse quebra cabeça me deixa no mínimo desconfortável.

Conversar com Hannibal também não me ajuda muito, a cada conversa parece que as dúvidas aumentam, como um computador em que se abre novas guias a cada segundo. Também não me ajuda muito o embate entre nós nesse jogo estúpido, Hannibal parece querer me mostrar algo sobre mim mesmo, para que possa revelar algo sobre ele.
Geralmente eu gosto desse jogo, é instigante, mas neste momento não quero ser o fantoche dele, quero ajuda para organizar meus pensamentos, quero torná-lo meu bote salva-vidas por que sinto que somente ele pode entender minha confusão.

Esta tarde, Jack nos reuniu novamente, disse que ligaram para ele na casa dele, as 2:46 da manhã, era a voz de sua ex-assistente na ligação.
Isso foi tudo que eu precisava para confirmar que Gideon não é o Estripador, é apenas um copiador.

Minhas alucinações não melhoraram, agora há alces surgindo pelos cantos e a voz de Garret Jacob Hobbs começa a soar.

Agora aqui estamos nós, Jack, Alana, eu e a insuportável Freddie Lounds.

A ruiva entra na sala com aquela maldita postura exibicionista e orgulhosa que me dá vontade de vomitar, me pegou pensando se essa expressão continuaria em sua rosto enquanto ele se engasga no próprio sangue

- Sr. Graham, é bom revê-lo.

Sua voz irritante é o que me tira da imaginação, encaro rapidamente sua mão estendida em minha direção, a vontade de exibir o meu desprazer com sua companhia é manifestada da forma mais segura possível: ignorando ela e me sentando finalmente.

Não posso conter minha língua antes de soltar farpas sobre suas falas, mesmo que o olhar de Alana me repreenda.

Jack começa a falar sobre como poderia fornecer detalhes e fotos sobre o caso de Gideon, e posso ver o brilho no olhar de Lounds, um cobra é menos venenosa que ela.

- O que te prejudica, e por consequência, prejudica a nós - Começo, oferecendo um sorriso nada amigável - É que sua linha de jornalismo é repulsiva e portanto, desprezável.

O olhar dela parece conter chamas, e novamente, me pego imaginando se a expressão em seu rosto seria tão insuportável enquanto o sangue jorra por seus olhos, boca e orelha.
Por alguns segundos, imagino como Hannibal reagiria a esses pensamentos, e algo me diz que certamente ele compartilharia meu senso de humor negro.

Faço um esforço enorme pra conter minha vontade de abrir seu corpo frágil quando ela me provoca dizendo que estamos numa sala cheia de psicopatas.
Meu sangue ferve para mostrar a ela o que realmente é um psicopata.

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Quando volto pra casa, em Wolftrap, sinto que tudo está sufocante o suficiente pra que eu me sinta perdido, apesar dos meus cachorros que fazem companhia a cada passo, e do enorme campo livre ao nosso redor.
Minhas ações são quase robótica, eu tiro a jaqueta cor de musgo que uso tão constantemente e a jogo no sofá junto da bolsa lateral marrom costumeira, em seguida coloco a comida para meus sete companheiros amáveis e leais, depois me dirijo até o quarto, onde tiro a blusa de botões que parece me asfixiar a cada passo.