anchor

1.1K 111 62
                                    

Sofia Santino

  Depois de ter deixado a Duda na porta da casa de praia em que alugamos, meu peito ficou apertado. Eu nunca sei o que fazer quando as pessoas choram e ela nunca me disse nada. Eu já não queria ter ido para o luau, agora a situação piorou. Ver ela tão vulnerável é algo fora do comum, já que ela é do tipo que sempre tenta esconder ao máximo.

  Não sou tão burra ao ponto de não entender as coisas óbvias, de cara entendi que a pessoa que ela citou estar apaixonada sou eu. Mas eu também não sei o que fazer. A única certeza que eu tinha no momento era a minha indecisão. Não sabia se queria voltar para o luau ou tirar essa história à limpo com ela.
  
 
"—Sofi, mesmo que ações futuras mudem seu jeito de pensar, queria dizer que você é muito importante para mim e eu nunca vou deixar ninguém te fazer mal. Eu te amo, muito mesmo."

Que ações futuras são essas que me mudariam?

  Eu resolvo não optar por nenhuma das opções, não estou em clima nenhum para isso. Depois de umas duas horas andando pela areia ao redor, entro dentro da casa e fico na rede da sacada, longe do luau e longe da Duda. Minha cabeça já está pesada o suficiente e dessa vez nem é pela bebida. Olho as notificações e vejo que os meninos mandaram mensagem, então apenas respondo que estou fazendo companhia para Duda e não vou voltar.
   E foi só falar dela que escutei seus passos indo em direção a cozinha. Com que cara eu vou olhar para ela agora? Esperei que ela não me visse, mas mesmo com a pouca iluminação do local fui reconhecida. Ela aparentava estar com sono. E mesmo com a luz baixa, era perceptível seu nariz vermelho e olhos cansados.

—Por que não voltou para o Luau? —ela diz baixo segurando um copo.

—Não sei se você lembra, mas eu não queria ir desde o início. —ficamos em silêncio.

—Eu vou tentar dormir um pouco, minha cabeça está doendo. —ela pronuncia no mesmo tom inicial e vira o seu corpo em direção ao quarto.

—Você está melhor? Precisa de companhia? —falo devagar com meus olhos presos nela.

—Sim. —vira o seu corpo novamente.

—Sim para qual das perguntas, Duda?

—Acredito que melhorei, mas eu não estou conseguindo dormir. —suspira alto e encosta no sofá.

—Você não quer ficar aqui na sacada para tomar um pouco de ar fresco? Vai te fazer bem. —ela me olha rapidamente.

—Você me faria companhia até eu conseguir pegar no sono? —ela diz meio desconexa.

—Eu te faria companhia de qualquer jeito. —sorrio sem mostrar os dentes. —Vêm, senta aqui do meu lado.

  Duda vêm andando em passos lentos e leves para perto de mim. Ela estava usando apenas um blusão preto do Travis Scott e um short qualquer. Aparentemente ela estava realmente cansada. Assim que ela se senta em meu lado meu cérebro me insiste lembrar de tudo o que conversamos mais cedo. Incluindo o fato de nós não nos falarmos direito a semana inteira e do luau. Talvez eu tenha sido um dos principais motivos, tudo isso por fazer ela se sentir como uma segunda opção.
  Eu começo a me sentir muito culpada e nem ouso pedir uma explicação sobre o ocorrido. Tínhamos nos resolvido sobre como nos ignoramos, mas agora pareciamos distantes de novo.

—Sofi. —ela fala enquanto encosta a cabeça no meu ombro.

—Pode falar, estou te ouvindo.

—O que você quer de presente de aniversário? —diz devagar.

—Pensei que você falaria sobre qualquer coisa, menos sobre o meu aniversário. —sorrio de leve fazendo um movimento com a rede.

—Eu não sei o que comprar. Você é rica e já tem muita coisa. —fala enquanto movimenta as mãos.

—Não precisa se preocupar com isso, muito menos agora. Meu aniversário é domingo e a festa no próximo final de semana.

—Eu só topei vir para praia esse fim de semana por você. —encosta em minha mão enquanto olha para frente.

—Tudo isso porquê vai ser meu aniversário? —ela retira a cabeça do meu ombro e me encara.

—Adiantei duas publis também. —sorri de leve.

—Você realmente se esforçou para fazer presença. —falo como se estivesse impressionada.

—Se eu não viesse iria render assunto que eu sou a excluída do grupo. —revira os olhos em tom de brincadeira e sorri.

—Sei que não é o momento para tocar no assunto, mas ouvindo você falar desse jeito me senti extremamente culpada. —olho para os seus olhos verdes que estavam com as pupilas enormes pela pouca iluminação.

—A única que deveria se sentir culpada sou eu.

—Mal nós falamos a semana toda e descobri hoje que era pela forma como eu fiz você se sentir. —suspiro pesado ainda com o olhar fixo ao dela.

—Não fica presa na questão de prefirir fazer todo mundo bem antes mesmo de olhar para o que você vai sentir. —diz enquanto se aproxima e encosta a mão em meu rosto.

  Os nossos rostos estavam tão próximos que eu podia sentir sua respiração batendo no meu rosto. Alguns fios de seu cabelo preto estavam desgrenhados de uma maneira organizada em seu rosto e a luz da lua contribuia para a forma que ela parecia extremamente atraente aquele instante.

—Às vezes eu quero dar a oportunidade de saber o impacto que alguém vai causar em mim. —intercalo meu olhar por todo o seu rosto enquanto falo baixo.

—A melhor coisa que podemos fazer às vezes é arriscar. —ela fala com o olhar preso à mim.

— Então vamos arriscar! — declarei, fechando a distância entre nós com um impulso inesperado.

  A tensão explodiu em um instante quando nossos lábios se encontraram. Foi intenso e elétrico; tudo o que eu havia desejado se concretizava ali mesmo na sacada sob a luz da lua. Minha mente vagou longe e naquele momento tudo o que me importava era ela.

  Sua mão ainda permanecia em meu rosto. O beijo era suave e sem nenhuma intenção. E todas às vezes que eu estava próxima o suficiente da Duda era isso que passava em minha cabeça.

  Nos afastamos devagar e quando abri meus olhos, ela ainda me encarava. Seus olhos alternavam por cada parte do meu rosto, como se suas retinas estivessem fotografando cada traço meu.

Eu não queria que aquele momento chegasse ao fim.

Entre sonhos e realidades -Sofia e Doarda Onde histórias criam vida. Descubra agora