your lips, apocalypse

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Eduarda Hippler

A sala do apartamento de Lusca estava sendo iluminada apenas pela luz da lua. Todos nós resolvemos dormir em colchões no chão e pensando bem, isso é uma péssima ideia já que os meninos fazem muito barulho, principalmente o Caick que não para de roncar.
Me viro inúmeras vezes buscando um melhor jeito para dormir mas não consigo. Ao olhar para o lado, sinto falta de uma presença: Sofia. Escutei a porta do apartamento se fechar, mas não me atentei que poderia ser ela. Para falar a verdade eu estava com muito sono, então qualquer movimento feito no local passava despercebido por mim.
A princípio achei estranho, mas calcei meu crocs, peguei o restante de vinho e fui atrás dela. Não consegui chegar no elevador a tempo, mas para o lado de fora estava indicando o térreo.

O que Sofia estaria fazendo uma hora dessas no térreo?

A luz da lua era uma das únicas iluminações do local, além das luzes do pequeno corredor entre o elevador até a saída. De longe percebi que ela estava pensativa e um pouco dispersa, como se quisesse um tempo sozinha. Tarde demais, eu já havia percebido.

- Oi, Sofia - disse com um sorriso. - Você está aqui sozinha?

- Só precisava de um tempo. Não consegui dormir - respondeu um pouco devagar.

Me sentei ao lado dela e entreguei a garrafa. O gesto simples trouxe um pouco de conforto.

- Vamos dividir isso então. Pode ser que ajude um pouco.

Não parecia que ela tinha achado uma má ideia eu ter atrapalhado o seu momento sozinha, muito pelo contrário, o olhar que ela me lançou foi mais como se minha presença trouxesse tranquilidade. Sofia tinha comentado de como estava com a cabeça um pouco cheia esses dias. Lidar com internet e levar a sua vida tranquila realmente é desgastante.
Conversamos por longos minutos e tentei ao máximo ajudar de alguma forma. Porém a mensagem de um cara a chamando para sair fez meu estômago embrulhar. Sofia nunca namorou com ninguém, e a forma como ela demonstra estar confusa me deixa levemente aflita.
Por mais que ela ainda não tenha decido de vai sair com ele amanhã ou não, o nosso momento juntas estava se tornando um dos melhores momentos da noite.

Talvez porquê qualquer momento ao lado dela poderia ser o melhor.

Depois de um bom tempo no térreo, comecei a sentir um frio enorme. Os meus dedos já estavam congelados e os ventos gelados chegavam com força no meu rosto. Quando olhei o horário, já marcavam 2:20 da madrugada.

- Vamos voltar? - Sofia sugeriu, quebrando o silêncio que nos envolvia.

Eu assenti, mas uma sensação estranha me acompanhava. Enquanto esperávamos o elevador, observei as paredes do saguão, cobertas de pequenas marcas do tempo. Meu pensamento vagou para Matteo e a maneira Sofia falava sobre ele. Não queria estragar esses sentimentos que queriam se manifestar entre eles, talvez fosse só falta de sexo e passaria rápido.
O elevador finalmente chegou. Entramos e apertei o botão do nosso andar. O espaço era comum, mas proximidade de Sofia me fazia ter pensamentos impulsivos. Ela se virou para mim e sorriu, seu cabelo caindo suavemente sobre os ombros.

- Podemos tirar uma foto? É pra postar nos storys.- perguntou ela, puxando o celular do bolso.

Eu hesitei por um momento antes de concordar. O espelho na parede oposta refletia nossas imagens, então Sofi posicionou o celular e nós nos ajeitamos para a foto.

-Afasta um pouco do espelho e encosta do meu lado.- ela disse, clicando no botão. A luz do flash iluminou nossos rostos por um instante, capturando a essência da noite.

Depois das fotos, o elevador parou subitamente entre andares. Uma sacudida nos fez olhar uma para a outra com surpresa.

- Que ótimo! - exclamou Sofia com um sorriso nervoso. - Estamos presas!

-Presas de madrugada em outro prédio que não é o nosso. -reviro os olhos e cruzo os braços.

Senti meu coração acelerar enquanto olhava para os botões que não respondiam. O silêncio se instalou rapidamente entre nós; a única coisa que podíamos ouvir era o leve zumbido do motor do elevador e nossos próprios batimentos cardíacos. Apertei o botão escrito "Sos", enquanto a voz robótica falava alguma coisa que não fiz questão de prestar atenção.

- Doarda... - Sofia começou hesitante, quebrando o silêncio tenso. - Você está bem? Parece pensativa.

Eu queria responder sobre meus sentimentos em relação ao Matteo e como ele parecia tão perfeito na visão dela, mas as palavras se perderam na minha garganta. Em vez disso, decidi ignorar a pergunta e tentei sorrir.

- Estou bem! Só pensando no momento que tivemos - disse eu, tentando parecer despreocupada.

Mas sabia que havia algo mais profundo em mim. O que Sofia disse sobre os momentos com ele me deixava confusa eu queria estar feliz por ela, mas ao mesmo tempo sentia uma pontada de inveja.

Mas ela também me deixava confusa. Que caralho!

Em minutos ela parece querer me beijar, enquanto um tempo depois fala do seu 'ficante premium'.

De repente, ouvimos um barulho vindo do painel do elevador; parecia haver algum tipo de problema técnico. A luz piscava levemente e o silêncio se tornava mais pesado à medida que a situação ficava mais tensa.

- Duda...- sussurrou Sofia com preocupação nos olhos ao ouvir o ruído crescente. Ela odiava qualquer coisa relacionada a ficar presa dentro de algum lugar por muito tempo.

Olhei para ela e vi uma mistura de medo e cansaço refletida em seu olhar. Era como se estivéssemos cruzando uma linha invisível entre algo mais profundo em meio à incerteza da situação.

- Está tudo bem. Só vamos ter que esperar uns 5 minutos presas aqui dentro. - tentei tranquilizá-la enquanto segurava sua mão firmemente. Um pouco difícil, não conseguia me tranquilizar.

A única coisa clara naquele momento era o calor da mão dela na minha e a certeza de que aquele instante não mudaria entre nós quando finalmente saíssemos dali. Mas eu estava decidida de uma coisa.

-Duda posso te fazer uma pergunta? -concordo e ela solta minha mão chegando mais perto, e agora segurando na barra de ferro perto do espelho do elevador.

-Por que fica tão indecifrável quando cito o Matteo?

Porra. Aquela frase me deixou completamente sem palavras e a única coisa que eu consegui fazer no momento foi encarar aquele par de olhos escuros que fitavam meus olhos verdes.

- Sofia, me desculpa. - murmurei suavemente antes de me inclinar para ela.

E então nossos lábios se encontraram em um beijo suave e hesitante. O mundo ao nosso redor desapareceu; não havia elevador preso ou preocupações sobre Matteo. Apenas nós duas, envoltas em um momento que parecia eterno.
O beijo começou tímido, como se estivéssemos descobrindo algo novo entre nós. Minhas mãos foram lentamente até seu rosto, acariciando sua pele macia enquanto suas mãos encontravam meu cabelo e minha cintura, me trazendo cada vez mais para perto. O contato era eletrizante; cada toque parecia acender uma chama dentro de mim. Sofia murmurou contra meus lábios, como se estivesse saboreando aquele instante tanto quanto eu.
A tensão aumentou quando nos entregamos àquele momento e Sofia me deixou presa entre uma das grandes paredes de metal e seu corpo. Nossos lábios dançavam juntos em uma sinfonia silenciosa; havia algo tão puro na maneira como a conexão crescia entre nós. A suavidade do beijo se transformou em algo mais intenso; eu podia sentir meu coração acelerando enquanto tudo ao nosso redor parecia evaporar.

Não era a resposta que ela queria no momento, mas talvez revelasse muitas coisas.

Entre sonhos e realidades -Sofia e Doarda Onde histórias criam vida. Descubra agora