Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard Ríos

Dia 7

Ananda

O som da notificação no celular me fez parar imediatamente o que eu estava fazendo. Eu já estava esperando aquela mensagem há dias, mas agora que finalmente chegou, um frio percorreu minha espinha. A ansiedade tomou conta de mim enquanto desbloqueava a tela e abria o e-mail.

"Parabéns, Ananda! Ficamos impressionados com sua entrevista e gostaríamos de oferecer a você o cargo..."

Meu coração acelerou. Eu consegui. Eu realmente consegui. O emprego que tanto queria, a chance de fazer algo meu, de seguir em frente. Por um momento, me permiti sorrir, a euforia tomando conta do meu corpo. Eu queria gritar, contar para o mundo, mas, antes de qualquer coisa, minha mente automaticamente pensou em Richard.

Peguei o celular e, sem hesitar, comecei a digitar uma mensagem para ele.

"Richard, eu consegui! Aquele emprego que te falei, eles me aceitaram! Nem acredito, estou tão feliz..."

Por um segundo, pensei em apertar "enviar". Queria que ele soubesse, queria compartilhar essa vitória com ele, como fazíamos no passado. Por mais que as coisas estivessem terríveis entre nós, parte de mim ainda sentia que essa notícia deveria ser dividida.

Mas então, parei. Aquele velho pensamento voltou com força total. Richard nunca gostou que eu trabalhasse. Para ele, meu lugar era em casa, cuidando de Thaís, da nossa casa, de tudo que girava em torno da nossa família. Ele nunca entendia que eu queria mais. Ele nunca aceitou a ideia de eu construir minha própria carreira.

Eu podia quase ouvir sua voz agora: "Por que você precisa disso? Eu ganho mais do que o suficiente. Não seria melhor ficar em casa com Thaís? Ela ainda é tão pequena..."

Minha mão hesitou sobre o botão de enviar. As palavras na tela começaram a perder o brilho conforme a realidade batia. Richard não iria apoiar isso. Ele iria desmerecer, fazer parecer que meu trabalho era insignificante comparado ao mundo dele. De repente, toda a felicidade que eu sentia foi drenada, substituída por um peso familiar no peito.

Apaguei a mensagem.

Respirei fundo, encarando o celular, tentando afastar a angústia. Eu não ia deixar que ele me puxasse para baixo dessa vez. Esse emprego era meu. Eu tinha batalhado por ele, e era exatamente o que eu queria. Mas o medo... o medo de decepcionar, de enfrentar mais uma guerra com Richard, estava ali, presente, me fazendo questionar se eu realmente conseguiria lidar com tudo.

Olhei para Thaís brincando no canto da sala, completamente alheia ao turbilhão que se passava dentro de mim. Um sorriso escapou dos meus lábios, mas logo foi substituído por um nó no estômago. Como eu faria isso? Como eu lidaria com a ideia de ficar longe da minha filha a maior parte do tempo? Thaís sempre foi minha prioridade, minha razão. E agora, com esse emprego, eu não estaria mais tão presente quanto antes.

A ideia de deixá-la, mesmo que por algumas horas a mais por dia, me enchia de angústia. Será que eu estava sendo egoísta? Será que esse passo na minha carreira valeria a pena, mesmo sabendo que teria menos tempo com ela? O medo de perder momentos importantes com minha filha me atormentava.

Mas eu não podia recuar agora. Esse era o meu momento, a minha chance de construir algo para mim, algo que não fosse apenas ser a esposa de Richard ou a mãe de Thaís. Eu precisava disso. Não era apenas uma questão de dinheiro ou sucesso profissional. Era uma questão de me redescobrir, de lembrar quem eu era antes de tudo.

Olhei novamente para Thaís. Ela não entenderia agora, mas um dia entenderia. Eu estava fazendo isso por nós duas. Eu estava fazendo isso para mostrar a ela que a mãe dela era forte, que eu podia ser mais do que aquilo que Richard sempre quis que eu fosse.