Ananda
Estava tudo desmoronando dentro de mim. Não importava o que Richard fizesse, as palavras doces que ele dizia de vez em quando, as tentativas frustradas de se aproximar de mim. Algo mais profundo e pesado continuava intacto, empurrando-me para um buraco que parecia não ter fim. A verdade estava clara: ele não estava mudando. E pior, talvez nunca mudasse.
Eu olhava para Thaís, brincando no tapete da sala, enquanto tentava ignorar o nó que se formava na minha garganta. A visão dela sempre me trazia algum conforto, uma lembrança de que eu precisava ser forte por ela. Mas naquele momento, nem mesmo o sorriso inocente da minha filha conseguia afastar a avalanche de sentimentos que estava me esmagando por dentro.
Fui até a cozinha, sentindo minhas mãos tremerem levemente. Abri a torneira e deixei a água correr, apenas pelo som suave e constante, uma tentativa patética de abafar o caos na minha mente. Cada vez que eu olhava para Richard, cada vez que ele tentava me tocar ou me convencer de que tudo ia ficar bem, uma voz dentro de mim gritava o contrário. Ele dizia que estava mudando, mas eu via os mesmos padrões, as mesmas atitudes egoístas e manipuladoras.
Naquela manhã, ele havia me prometido que faríamos as coisas diferentes. Que ele queria se aproximar, queria que voltássemos a ser o casal de antes. Mas quando eu o observava, quando via os pequenos gestos, eu percebia que aquilo era só uma fachada. Ele ainda era o mesmo Richard, com o mesmo orgulho e o mesmo desprezo velado pelas coisas que me importavam. E eu já não tinha mais forças para lutar contra isso.
De repente, senti as lágrimas brotando nos meus olhos sem aviso. Fechei as mãos com força na pia, tentando conter o choro, mas foi inútil. As lágrimas desceram, rápidas e pesadas, e antes que eu percebesse, eu estava soluçando silenciosamente, escondida ali na cozinha, longe de Thaís, que ainda brincava na sala.
Meu peito doía, como se algo estivesse me sufocando de dentro para fora. Era como se todos os sentimentos acumulados — a frustração, a decepção, o amor ferido — tivessem finalmente encontrado uma brecha para escapar, e eu não tinha controle sobre isso.
"Eu não aguento mais", pensei, tentando, inutilmente, controlar a respiração. "Eu simplesmente... não consigo mais."
As promessas de mudança de Richard pareciam vazias. A maneira como ele insistia que tudo ficaria bem, sem perceber o quanto eu já tinha desistido de nós. O ciclo era sempre o mesmo, e eu estava cansada. Exausta. Só que ele não enxergava isso. Para Richard, bastava dizer que queria mudar, e pronto, tudo deveria voltar a ser como antes. Mas não havia mais o "antes". O antes tinha morrido há muito tempo.
Sequei os olhos rapidamente quando ouvi os passinhos de Thaís se aproximando. Ela entrou na cozinha, segurando uma boneca e com aquele sorriso que sempre conseguia me desarmar, por pior que eu estivesse.
– Mamãe, vem brincar comigo? — pediu, a voz doce como mel.
Respirei fundo, tentando esconder qualquer sinal do meu colapso. Ajoelhei ao lado dela, forçando um sorriso, enquanto acariciava seus cachinhos loiros.
– Claro, meu amor. Vamos brincar.
Enquanto Thaís voltava para a sala, eu me levantei devagar, respirando fundo várias vezes, tentando me recompor. Mas eu sabia que algo dentro de mim havia se quebrado definitivamente. Não havia mais volta.
Olhei para o celular, que estava em cima da bancada. Antes de tudo desmoronar naquela manhã, eu tinha recebido um e-mail confirmando que fui aceita naquele projeto novo no trabalho. Algo que deveria ter me enchido de orgulho e animação, mas que, no momento, parecia apenas um pequeno alívio em meio a um oceano de dor.
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Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard Ríos
FanficANDAMENTO | Onde Ananda e Richard estão se divorciando ᴄᴏᴘʏʀɪɢʜᴛ ᴡɪᴋɪᴍᴀʏʙᴀɴᴋ ꜱᴇᴛᴇᴍʙʀᴏ 𝟸𝟶𝟸𝟺