Dia 1

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Ananda

  – Não foi nada!

Richard gritou, sua voz reverberando pelas paredes do quarto, mas eu já estava cansada de ouvir aquelas palavras. Sempre a mesma desculpa, a mesma tentativa patética de apagar o fogo com mais gasolina.

Dei uma risada amarga, sentindo o gosto da frustração subir pela garganta.

  – Nada, Richard? Mais uma vez, "não foi nada"?

Eu cruzei os braços, encostada na porta do closet, tentando me manter firme, mas meu corpo inteiro tremia de exaustão.

  – Sair com ela, de novo, é "nada"?

Ele bufou, andando de um lado para o outro, o desespero começando a aparecer em seus olhos.

  – A gente tava em grupo, Ananda. Todo mundo sabe disso. Você tá ouvindo fofoca!

  – Fofoca? — repeti, quase rindo de novo, só que dessa vez o riso não veio. O riso estava preso, afogado em anos de decepções. — Richard, você acha que eu sou idiota?

Me aproximei dele, meus olhos cravando os dele.

  – Você acha que eu não sei o que rola quando você sai? Que essas festas, essas viagens, essas "reuniões de grupo" são só futebol e cerveja? — Minha voz vacilou, mas eu continuei. — Eu tô cansada de tentar acreditar em você, de ignorar o que todo mundo fala, de fingir que tá tudo bem quando eu sei que não tá.

Ele parou de andar, me encarando com aquela expressão que misturava raiva e incredulidade, como se eu fosse a única louca naquela relação.

  – Você vai desistir de tudo? — Perguntou, a voz baixa, um perigo. — De tudo que a gente construiu? Do que a gente é?

Aquelas palavras, aquele tom... algo dentro de mim quebrou. Dei um passo para trás, como se tivesse levado um tapa invisível.

  – O que a gente é, Richard? — falei, a voz mais baixa, quase um sussurro. — A gente não é mais nada.

O silêncio foi cortante. Ele ficou me olhando como se não tivesse entendido. Como se ainda acreditasse que poderia me dobrar com um pedido de desculpas, com promessas vazias.

  – Eu tô fazendo isso sozinha faz tempo. Eu faço tudo pela nossa filha, pela nossa casa... enquanto você? Você se importa com a sua carreira, com as festas, com o seu ego inflado. — Minhas palavras estavam carregadas de uma dor que eu nem sabia mais que tinha dentro de mim. — Isso não é casamento. Isso não é uma família.

  – Ananda...

Ele tentou se aproximar, mas dei um passo para trás, levantando a mão para interrompê-lo. Eu não ia deixar ele me envolver mais uma vez com aquele charme que, um dia, me fez acreditar em promessas.

  – Não. — Minha voz saiu firme, mais do que eu esperava. — Chega, Richard. Eu não vou continuar sendo a mulher que te espera em casa, que se cala, que finge que tá tudo bem enquanto você vive como se eu não existisse. — Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto, mas eu não a enxuguei. — Eu quero o divórcio.

Ele piscou, como se minhas palavras fossem um soco. O silêncio que se seguiu foi sufocante, um vazio que preenchia cada centímetro do quarto. Seus ombros caíram, e pela primeira vez em anos, ele parecia... vulnerável.

  – Ananda, por favor... — Sua voz saiu baixa, quase implorando, mas já era tarde demais.

Eu virei de costas, as lágrimas finalmente escorrendo sem controle. Se eu olhasse para ele agora, talvez eu não tivesse coragem de sair por aquela porta. Talvez eu cederia. De novo.

Mas dessa vez, eu tinha que ser forte. Por mim.

Richard

Eu podia ouvir o som da água caindo no chuveiro, abafando qualquer esperança de que ela me escutasse agora. Encostei a testa na porta do banheiro, o peso da situação apertando meu peito como se fosse um soco. Ela estava me afastando, mais uma vez. A cada palavra, a cada vez que me mandava sair, eu sentia que estava perdendo Ananda.

  – Ananda... — Murmurei, mais pra mim do que pra ela. O silêncio do quarto parecia gritar comigo, me lembrando do que eu estava prestes a perder.

Ela nem sequer quis olhar na minha cara. Nem por um segundo. O jeito como fechou a porta do banheiro com tanta força... aquilo doeu. Talvez mais do que qualquer outra briga nossa. Porque dessa vez, ela não estava só com raiva. Ela estava decidida. Cansada. E isso me matava.

Me afastei da porta, minhas mãos tremendo de frustração. Como chegamos aqui? Como a gente, que tinha uma vida, uma filha, que era feliz, virou isso? Eu sentia como se estivesse batendo contra uma parede, tentando consertar algo que talvez já estivesse quebrado há muito tempo.

  – Você vai me expulsar agora?

Minha voz saiu mais amarga do que eu queria, mas eu estava desesperado. Tentando encontrar uma brecha, qualquer coisa. Ela nem se deu o trabalho de olhar pra mim, como se eu não fosse nada. Como se eu não estivesse implorando para ela me escutar.

  – Eu não quero falar, Richard. Vai dormir em outro lugar.

A firmeza na voz dela foi o que mais me doeu. Era como se essa decisão já estivesse feita, como se eu fosse um peso que ela finalmente ia largar. E o pior? Ela realmente não queria contato. Nem me ouvir. Nada.

Sentei na beira da cama, minha cabeça enterrada nas mãos. Eu nunca tinha me envolvido com a Nicole, caramba! Nunca. Eu nem sequer olhei pra ela como Ananda achava. Mas como eu ia explicar isso, quando a única coisa que ela enxergava era a presença daquela mulher em todo lugar?

Nicole sempre estava lá. Sempre se aproximando, rindo alto demais das minhas piadas, me tocando de maneira que eu sempre me afastava. Ela sabia o que fazia. Sabia como provocar e criar dúvidas. E Ananda... Ananda não suportava isso. Não suportava me ver perto de alguém que ela sabia que queria me destruir.

Eu queria gritar, esmurrar as paredes.

  – Eu nunca cedi, Ananda. Nunca fiz nada. — eu disse, mais alto dessa vez, mesmo sabendo que ela não estava me ouvindo. — A Nicole... ela só quer estragar tudo, mas eu... eu nunca deixei!

Mas quem acreditaria nisso agora? A verdade não importava mais. Não pra ela. O som do chuveiro continuava, abafando qualquer tentativa minha de continuar lutando naquele momento. Eu sabia que ela precisava de espaço, mas o medo de que esse "espaço" virasse um abismo era insuportável.

Eu me levantei, os punhos fechados. Cada passo que dava para longe dela parecia uma punição.

  – Eu só queria que você acreditasse em mim... — sussurrei para o silêncio do quarto, sabendo que essas palavras não mudariam nada. Sabendo que, por mais que eu tentasse, talvez já fosse tarde demais para consertar.

Ola ola, primeiro capítulo. O início do divórcio! Richard sabe que a Nanda não gosta, mas também não afasta, eoem.

Os títulos vão ser com o passar dos dias, 80 dias, 80 capítulos. Antes que comece as perguntas, nem eu sei se a Nanda realmente vai assinar, apesar de ter pedido.

Se realmente gostarem e comentarem muito, eu volto ainda hoje ou essa semana com capítulo novo ♡

Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora