Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard Ríos

Dia 2

Richard

Acordei com uma sensação amarga na boca, como se tudo que aconteceu na noite anterior tivesse sido um pesadelo. Mas quando abri os olhos e vi a cama vazia, soube que era a realidade. Ananda não estava ali. E a dor no peito voltou com força total. Era como se houvesse um vazio onde ela costumava estar.

Levantei, me preparando para enfrentar ela Não podia deixar as coisas como estavam. Eu sabia que a situação era séria, mas também tinha certeza de que ela estava exagerando. Sempre fomos intensos, e brigar fazia parte. Nanda precisava ver que isso era mais uma tempestade em copo d'água.

Encontrei ela na cozinha, mexendo no celular, distraída, enquanto Thais brincava na sala. Eu respirei fundo, tentando controlar minha irritação. Não podia começar brigando de novo.

  – Ananda, a gente precisa conversar. — Minha voz saiu mais dura do que eu pretendia, mas também, eu estava de saco cheio de toda essa situação.

Ela levantou o olhar, os olhos frios, e eu sabia que essa conversa não seria fácil.

  – Sobre o quê, Richard? — Ela cruzou os braços, uma barreira clara entre nós. — Eu já falei o que tinha pra falar ontem.

Revirei os olhos, sentindo meu sangue ferver.

  – Ah, fala sério, Ananda! Você acha que pode simplesmente decidir tudo sozinha e me tirar da equação?

  – Não se trata de decidir sozinha. — Ela levantou, agora me encarando de frente, o que me fez sentir que estava prestes a me encarar em um campo de batalha. — Se trata de eu estar cansada de você não ver o óbvio!

  – Óbvio? — Dei uma risada amarga. — O que é óbvio, Ananda? Que você tá criando uma paranoia na sua cabeça por causa de uma mulher que nunca significou nada?

Os olhos dela brilharam com raiva.

  – Paranoia? É assim que você chama as noites que eu passo em casa, sozinha, enquanto você tá por aí com gente que eu nem conheço? Com a Nicole, que tá sempre grudada em você?

Suspirei, perdendo a paciência.

  – Eu já te disse, eu nunca fiz nada com a Nicole! Ela sempre deu em cima de mim, mas eu nunca caí nessa. Nunca!

  – Mas você deixou ela estar por perto, deixou ela criar essa situação! — Ananda praticamente gritou, os olhos fixos nos meus. — E agora você quer que eu acredite em tudo isso como se fosse simples? Não é só sobre a Nicole, é sobre você nunca estar aqui de verdade!

Aquilo me atingiu. Não porque era uma novidade, mas porque era algo que eu tinha evitado por tempo demais. Mas ainda assim, meu ego não me deixava ceder.

  – Eu tô sempre aqui! Faço o que posso por você, pela nossa filha... Só porque você tá insegura, não significa que eu sou o problema.

Ela riu, um riso cheio de amargura.

  – Insegura? Isso é o que você acha? Que tudo isso é sobre mim? Sobre eu estar louca, imaginando coisas?

Me aproximei, sentindo minha paciência chegar ao limite.

  – Tá, eu entendo que as coisas ficaram fora de controle, mas a gente pode resolver isso. Eu vou mudar, ok? Vou me afastar da Nicole, vou estar mais presente. Só que você precisa parar de agir como se tudo estivesse desmoronando por uma bobeira.

Ananda

Bobeira. Foi essa a palavra que ele usou. A raiva subiu pelas minhas veias como fogo, queimando cada resquício de paciência que eu poderia ter tido.