Dia 9

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Richard

Ela estava sentada no sofá, rígida, com os braços cruzados, como se estivesse se protegendo de mim. Tudo dentro de mim gritava para consertar aquilo. Eu sabia que tinha errado no passado, que minhas atitudes não foram sempre as melhores, mas estava ali, tentando.

Me aproximei lentamente e sentei ao lado dela no sofá, tentando quebrar essa barreira invisível entre nós.

  – Nanda, olha pra mim... — pedi, colocando a mão sobre a dela, mas senti a resistência no seu corpo. Ela não queria ceder, mas eu não podia desistir tão facilmente.

Ela finalmente me olhou, mas o olhar não era de ternura. Era cético. Desconfiado. E doeu.

  – Eu sei que as coisas não foram perfeitas. Eu sei que eu errei. Mas eu estou aqui, tentando. Não porque eu preciso te provar algo, mas porque eu te amo. — Minha voz vacilou, mas continuei. — Eu cancelei tudo hoje, Nanda. Tudo. Não tem futebol, não tem compromissos, não tem nada. Só nós dois. Eu deixei a Thaís com sua mãe porque eu queria esse tempo com você. Eu quero falar sobre tudo o que você quiser. O trabalho, a nossa filha, nossa vida. Eu quero te ouvir, Nanda, de verdade.

Ela permaneceu em silêncio por alguns segundos, e a expectativa me deixou ansioso. Cada segundo parecia um peso nos meus ombros. Eu me aproximei mais, minha mão segurando a dela, tentando criar uma conexão.

  – Não é assim que funciona, Richard — ela disse finalmente, com a voz baixa, mas firme. — Você acha que um jantar, algumas velas, e palavras bonitas vão mudar tudo? Você acha que me cancelar uma agenda de um dia vai apagar anos em que eu me senti... invisível?

Eu queria responder, mas as palavras não saíam. Ela se levantou, sem soltar minha mão, me obrigando a encará-la.

  – Eu cansei de cair nessa. Você sempre faz isso. Um gesto romântico aqui, uma promessa ali, e eu sempre acabo acreditando. Mas depois... depois tudo volta a ser como era. Eu volto a ser a mulher que você quer controlar, aquela que fica em casa, cuidando da filha, enquanto você vive sua vida como se eu fosse só... um troféu. — Sua voz ficou mais amarga à medida que as palavras saíam.

  – Não é isso! — Eu levantei, sentindo a frustração crescer. — Eu estou aqui, Nanda! Eu larguei tudo hoje, tudo pra ficar com você. Como você pode achar que eu não me importo?

Ela riu, mas era um riso frio, sem humor.

  – Porque você está fazendo isso pra você, Richard. Pra aliviar sua consciência, pra sentir que fez a sua parte. Não porque realmente entende o que eu sinto. Você quer me reconquistar, mas é só mais uma jogada. Você quer ganhar. Quer provar que ainda tem controle sobre mim, sobre nós.

Eu não podia acreditar no que ela estava dizendo. Isso não era verdade. Eu estava fazendo tudo por nós, pela nossa família. Não era um jogo!

  – Eu não estou jogando nada, Ananda. Eu estou tentando salvar o que a gente tem.

Ela balançou a cabeça, os olhos brilhando com lágrimas contidas.

  – E é aí que você se engana, Richard. Não se trata de salvar o que a gente tem. Se trata de você entender que eu não sou mais aquela garota que aceitava tudo. Eu quero mais. Eu quero ser eu. E você não consegue ver isso.

Ela começou a se afastar, e eu senti o desespero me tomando.

  – Nanda, espera! — Eu estendi a mão para segurar a morena, mas ela se virou rapidamente, os olhos cheios de uma determinação que eu não havia visto antes.

  – Não, Richard. Não vou esperar mais. Não vou deixar você me manipular mais com essas tentativas vazias de redenção.

Ela saiu da sala, me deixando ali, sozinho no sofá, frustrado e confuso. Eu não estava manipulando nada! Estava tentando salvar o que ainda tínhamos, mas ela não queria ver. Ou talvez, no fundo, eu não estava conseguindo ver o que ela precisava de verdade.

Ananda

Eu subi as escadas apressada, sentindo o peso de cada palavra que eu disse. Parte de mim queria chorar, outra queria gritar. Richard estava ali, jogando todo o charme, todas as palavras doces que ele sabia que, no passado, me fariam fraquejar. Mas eu não podia mais me deixar levar. Não dessa vez.

Entrei no quarto e fechei a porta com mais força do que pretendia. Meu peito subia e descia rápido, e eu tentava controlar a raiva. Raiva dele por achar que tudo poderia ser resolvido com um gesto romântico. Raiva de mim mesma por, por um segundo, quase acreditar.

Não demorou muito para ouvir seus passos pesados subindo as escadas. Ele entrou no quarto logo em seguida, a porta batendo atrás de si, seu rosto carregado de frustração.

  – Nanda, a gente precisa falar sobre isso — ele começou, a voz já embargada de irritação. — Não dá pra você simplesmente sair e me deixar falando sozinho como se nada importasse.

Eu me virei para ele, cruzando os braços.

  – Falar sobre o quê, Richard? Sobre como você acha que um jantar vai apagar tudo? Como você acha que eu vou esquecer os anos de frustração porque você decidiu largar os seus compromissos por uma noite?

Ele respirou fundo, como se estivesse tentando se acalmar, mas eu via nos olhos dele que a paciência estava acabando.

  – Eu tô tentando, Nanda! Caramba, eu tô fazendo de tudo aqui, e você só consegue me acusar. Eu já admiti que errei, mas e você? Vai continuar me tratando como se eu fosse o vilão de toda essa história? — Ele gesticulava com as mãos, a voz ficando mais alta.

  – Porque você é, Richard! — Minha voz saiu mais alta do que eu esperava, carregada de toda a dor que eu tentava segurar. — Você me prendeu durante anos! Não me deixava trabalhar, não queria que eu fosse nada além da esposa perfeita, cuidando da nossa filha, enquanto você vivia sua vida como se eu fosse um acessório!

Ele deu um passo em minha direção, os olhos faiscando de raiva.

  – Não foi assim! Você sabe que eu sempre fiz tudo por nós. Pelas duas! — Ele gritava agora, a frustração claramente tomando conta.

  – Fez por nós? Ou fez por você? Porque parece que tudo o que você fez foi pra manter essa imagem de marido perfeito, enquanto eu... — Minha voz falhou, e antes que eu pudesse terminar, ele avançou.

  – CHEGA! — Ele gritou, me segurando pelos ombros, os olhos ardendo de algo entre raiva e desespero. Antes que eu pudesse reagir, senti sua boca contra a minha, num beijo urgente, bruto. Eu tentei resistir, tentei empurrar Richard, mas ele me segurava firme. Aquele toque me calou, me paralisou.

Havia algo naquele beijo que misturava tudo: raiva, desejo, e um tipo de possessão que eu já conhecia bem. Por um momento, eu me senti perdida, os sentimentos se embolando, o coração batendo acelerado, sem saber se reagia ou se cedia.

Quando ele finalmente afastou o rosto, me soltando, eu estava sem fôlego, ainda confusa pelo choque do momento. Ele me olhou, os olhos ainda carregados de frustração, mas também de algo mais suave.

  – Eu só quero que você fique quieta... e me ouça. — A voz dele estava mais baixa agora, quase suplicante.

Eu senti o corpo inteiro estremecer, ainda processando o que havia acabado de acontecer. Eu queria me controlar mais, mas quando eu percebi. Já estava beijando ele de novo, com seus braços envolvendo o meu quadril com força.



Vou encerrar aqui, beijos

Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora