Dia 15

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Ananda

Levar Thaís para a casa da minha mãe parecia a melhor ideia no momento. Ela estava animada para ver os primos, e minha mãe tinha organizado um daqueles encontros familiares que costumavam ser cheios de risadas e gritaria. Mesmo com toda a bagunça, eu sabia que Thaís ficaria feliz e distraída, longe do caos que estava tomando conta da nossa casa.

Depois de deixar minha filha, peguei o caminho de volta para casa, tentando me preparar mentalmente para a próxima conversa que eu sabia que era inevitável. Meu estômago estava apertado, e o ar parecia pesar no peito. Eu tinha chegado no meu limite, e, dessa vez, não ia deixar Richard sair dessa sem me ouvir de verdade.

Quando entrei em casa, o ambiente parecia quieto demais, o que só aumentava a tensão dentro de mim. Andei pela sala, já esperando encontrar Richard em algum canto. E, como eu previa, ele estava lá, sentado no sofá, mexendo no celular como se nada estivesse acontecendo, como se o mundo não estivesse desabando ao nosso redor.

  – Richard — minha voz saiu firme, mas eu podia sentir o peso da situação. Ele levantou o olhar para mim, um tanto surpreso com o tom, mas eu não hesitei. — A gente vai ter uma conversa agora.

Ele suspirou, largando o celular de lado, mas já dava para ver que ele estava se preparando para revirar os olhos ou desdenhar do que eu tinha a dizer, como sempre fazia. Antes que ele pudesse falar qualquer coisa, apontei para as cadeiras da mesa de jantar.

  – Senta ali. A gente vai ter uma conversa séria, e eu não vou deixar isso passar dessa vez.

Richard arqueou uma sobrancelha, claramente incomodado com o meu tom imperativo. Mesmo assim, ele se levantou e foi em direção à mesa, sentando-se na cadeira de frente para mim, os braços cruzados em sinal de impaciência.

Eu me sentei também, o nervosismo tomando conta, mas eu não ia deixar isso me impedir. Olhei para ele por um momento, tentando reunir as palavras certas. Ele me encarava de volta, aquele olhar que ele sempre dava quando achava que eu estava exagerando. Mas dessa vez, eu não ia me deixar abalar.

  – A gente precisa falar sobre tudo isso — comecei, minha voz calma, mas cheia de determinação. — Não dá mais para fingir que as coisas estão normais ou que vão melhorar sozinhas. Tem algo errado entre nós, Richard, e não é de agora.

Ele bufou, se recostando na cadeira, como se já estivesse entediado.

  – Ananda, pelo amor de Deus, a gente já teve essa conversa um milhão de vezes. Você sempre arruma alguma coisa para discutir. Agora o que foi? — ele disse, com um tom irritado, sem paciência.

Eu senti a raiva começar a borbulhar, mas me segurei. Eu não podia perder o foco agora.

Eu já estava cansada de todo esse ciclo vicioso. Cansada de ser ignorada, cansada de implorar por um mínimo de consideração. Quando Richard começou com aquele olhar de desdém, fingindo que eu era a louca da história, algo dentro de mim estalou. Eu não ia mais aceitar isso.

  – A gente vai falar da Thaís agora, Richard! — falei, apontando o dedo diretamente na cara dele, sentindo a raiva ferver em cada célula do meu corpo. — A nossa filha está ficando mal, e você não move um dedo pra ajudar!

Ele piscou, surpreso com a intensidade da minha voz, mas continuava com aquela expressão sonsa, como se estivesse perdido na conversa. Aquele olhar vazio me fez querer explodir.

  – Tá surdo? — continuei, levantando ainda mais a voz. — Eu tô falando que a nossa filha tá sofrendo por causa de você! Ela sente a nossa distância, percebe nossas brigas, e você não faz nada, NADA, pra tentar mudar isso!

Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora