Ano 1995
Marcus Crowe
Lembro-me de tudo com uma clareza
perturbadora, como se fosse ontem.
Eu era apenas uma criança, mas
naquele momento, a inocência já havia me abandonado há muito tempo.Meus pais... Eles foram os primeiros.
A casa estava mergulhada na
escuridão. O silêncio da madrugada só era quebrado pelo ranger ocasionado da madeira velha sob os meus pés descalços.Eu sabia onde cada tábua rangia, sabia evitar os sons que poderiam alertá-los. Tudo era meticulosamente planejado, embora eu tivesse apenas dez anos. A faca de cozinha, pesada e fria em minha mão pequena, brilhava sob o leve reflexo da luz da lua que se infiltrava pelas cortinas rasgadas.
Lá estavam eles. Dormindo, respirando profundamente. Era estranho como eles pareciam tão pacíficos, tão vulneráveis. Minha mãe estava deitada de lado, com a cabeça no travesseiro, seu rosto sereno. Meu pai roncava baixinho, os braços jogados sobre o peito, completamente alheio ao que estava por vir. A sensação de controle, de poder absoluto, corria em minhas veias, algo que nunca havia experimentado antes.
Aproximei-me da cama deles, o coração acelerado, mas minha mente
estava em perfeita calma. O primeiro
movimento foi suave, quase sem som.
A lâmina deslizou pela garganta de
minha mãe. Ela acordou, claro, mas já
era tarde demais. Seus olhos se
abriram, arregalados de pavor, a boca
se movendo para gritar, mas o sangue se acumulava rápido demais,
borbulhando entre seus lábios.Seu corpo tremia, as mãos tentando
alcançar o corte, como se pudesse
fazer algo para estancar o que já
estava feito. Eu a observava...
Fascinado.Meu pai se mexeu, a tempo de ver o
último suspiro escapar dos lábios de
minha mãe. Ele arregalou os olhos,
confuso no início, mas o terror
rapidamente tomou conta dele.— O que você fez, Marcus?! — Ele
gritou, se jogando para fora da cama,
os pés escorregando no sangue que já começava a empoçar no chão de
madeira.Eu me virei para ele, ainda segurando a faca. A lamina brilhava vermelha sob a luz fraca. A expressão de choque em seu rosto... Eu nunca Vou esquecer. Ele tentou correr, tropeçando e caindo em sua própria pressa. Seus pés derrapavam no chão coberto de sangue, e a expressão desesperada em seus olhos alimentava algo dentro de mim.
— Marcus! — Ele gritou de novo, sua
voz falhando de medo. — Meu Deus, o
que você fez?!Ele tentou rastejar para longe, mas eu
já estava em cima dele. Saltei sobre
suas costas, empurrando a faca com
força contra sua carne. O primeiro
golpe foi profundo, logo abaixo das
costelas. Eu podia sentir a resistência
de seus músculos se partindo sob a
lâmina. Ele gritou, um grito gutural,
mas abafado pela dor.Continuei, golpe após golpe. Cada grito, cada movimento espasmódico me dava uma sensação de triunfo. Era como se, com cada facada, eu estivesse tomando de volta algo que sempre fora meu por direito. O controle. A liberdade.
— Marcus, pare! — Ele tentou implorar, sua voz agora apenas um sussurro, como se ele pudesse de alguma forma me deter com palavras.
Mas eu não parei.
O último suspiro dele foi longo e
arrastado, sua boca aberta, olhos fixos
no teto, o corpo já relaxando na morte.
O quarto cheirava a sangue e medo.Eu estava coberto de vermelho, sentindo o calor do sangue escorrendo pelo meu braço, pingando no chão em um ritmo constante. E então, silêncio. Finalmente, silêncio.
Eu me levantei, respirando fundo. O vazio dentro de mim preenchido por
algo novo, algo poderoso. Olhei para
os corpos deles, destroçados, imóveis.
E não senti nada. Nenhuma culpa,
nenhum arrependimento.
Naquele momento, eu soube quem eu
era. Quem eu estava destinado a ser.Voltei-me para a porta, caminhando
calmamente pelo corredor. A faca
ainda estava em minha mão, O sangue escorrendo de meus dedos. E quando cruzei o limiar da casa, para
escuridão da noite, sorri.Agora, do presente, revivo essa
memória como uma primeira lição. Foi ali que percebi a verdade. A morte, o caos, o poder, conectados. E, desde aquele dia, nunca mais voltei atrás. A sensação, a força que correu por minhas veias naquela noite, nunca me abandonou.Eles foram os primeiros. Mas não
seriam os últimos.
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Sussurros de um Assassino
RandomDaphne Hale é uma detetive renomada, conhecida por sua frieza e precisão ao desvendar os mais complexos crimes. Mas, quando uma série de assassinatos brutais começa a assolar a cidade, ela se vê mergulhada em um jogo macabro, onde o assassino deixa...