𝟎𝟎𝟐

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Antes de sairmos da casa de Gunil, pude ver pela janela da sala o segundo andar de minha casa, a luz do quarto dos meus pais estava ligada e os dois estavam fazendo sexo na frente da janela, nunca entendi o por que eles tinha colocado a cama ali, talvez fosse um fetiche dos dois, eles eram estranhos demais para eu tentar entender.

Voltei meu olhar para a televisão, passava uma novela chamada “Quando o amor surge”, estava profundamente interessado, em casa não podia assistir televisão, bem, não na presença de meu pai, tudo que ele pensava em minha pessoa era me violentar.

Gunil tocou meu ombro desviando minha atenção da novela, levantei rapidamente, me pondo de pé a sua frente. Ele era tão naturalmente bonito, era estranho pensar isso sobre ele, nunca nem sequer tinha pensado em algo como aquilo. O único sentimento que sentia pela maioria dos garotos da escola que eram os que eu tinha maior convivência era repulsa, todos eram nojentos e só pensavam e objetificavam o corpo feminino, isso me inojava profundamente.

Ele sorriu para mim tocando meu ombro novamente, de forma automática eu também sorri, não estava acostumado a sentir sensações como aquelas, normalmente não sorria desse jeito.

— Você tem um sorriso muito bonito, Jooyeon, deveria sorrir mais. — Ele tirou sua mão do meu ombro e andou até a porta pegando as chaves de casa.
Ao ouvir aquilo senti minhas bochechas queimarem de vergonha, eu o segui, saindo de sua casa andando pela rua até nos encontrarmos com o resto do grupo, que não estava tão longe dali.

A noite estava sendo ótima, era uma festa que de certa forma era um pouco ilegal, a maioria ali era menor de 19 anos, tinha bebida e algumas pessoas tinham levado drogas. Nunca tinha bebido antes, tomei uma dose pequena de vodka, o líquido desceu quente pela garganta, queimando levemente e provocando uma sensação de calor que rapidamente se espalhou pelo peito.

A ardência era desconfortável, e o gosto amargo, quase metálico, meu rosto se contorceu, com uma leve careta, como uma reação reflexiva à queimação. Meus olhos se apertaram como se quisessem evitar a intensidade da bebida, e os lábios se comprimiram, tentando reter ou lidar com o sabor.

Ouvi a risada de Seungmin ao meu lado, ele deu leves tapinhas em minhas costas enquanto eu ainda tentava me acostumar com aquele gosto horrível.

Em dado momento da noite, já estava completamente bêbado, estava sentado ao lado de Gunil que eu suspeitava que estava mais bêbado que eu, falava de forma arrastada e coisas que não faziam tanto sentido. Ele bebia uma garrafa de alguma bebida colorida, parecia mais forte do que tinha no meu copo, Gunil me abraçou de lado me puxando para perto de si, eu não questionei apenas aceitei, não estava dentro das minhas faculdades mentais.

— Jooooooyeeeeeon, você sabia que você é lindo para um caralho? — ele sorriu olhando para mim e me deu um beijo na testa.

Não respondi e ele continuou falando e falando, até que levantou meu rosto e me puxou para um beijo. Me surpreendi de início, mas pelo entorpecimento da bebida apenas continuei aquilo como algo normal. Junhan comia alguns doces de licor alcoólico de morango, ele estava lá por pura obrigação, ao ver aquilo ficou um tanto chocado, porém como já estava um pouco bêbado pelo índice alto de álcool nos pequenos doces sorriu e chamou O.de que estava conversando com outras pessoas.

— Olha!!! O Jooyeon finalmente beijou!!! Eu tenho certeza que eu não 'tô maluco 'né, Seung?? — Junhan disse animado.

Seungmin que também estava tão bêbado quanto ele, se sentou ao lado dele e o puxou para um beijo também, Junhan diferente de mim ficou em choque e se separou, O.de olhou para ele em dúvida do que tinha acontecido, mas logo o garoto a sua frente juntou seus lábios novamente.

- 🎸-

Acordei no dia seguinte ao lado de Gunil numa casa estranha, mesmo que fosse a mesma de antes, me lembro que não estávamos em um quarto e principalmente sem roupas.

Tive um leve choque de realidade e percebi que era quinta feira, já eram 10 da manhã, nao tinha ido para escola e o pior de tudo, não tinha voltado para casa. Peguei meu celular que estava sem bateria, procurei um carregador e achei o carregador que deduzi que fosse de Gunil. Conectei o celular no carregador e então liguei na tomada, esperei ansiosamente o celular ligar enquanto me vestia da forma mais rápida que consegui.

Não tinha muito tempo para me perguntar o que tinha acontecido na noite anterior e nem para prestar atenção na dor de cabeça que de vez em quando dava algumas pontadas me fazendo fechar os olhos por alguns segundos com dor.

Nesse meio tempo, Gunil acordou e me encarou em pé tentando entender o que estava acontecendo, acredito que ele estava na mesma situação que a minha.

— O que aconteceu ontem? — Ele perguntou enquanto esfregava os olhos e apoiava a cabeça entre as mãos, imaginei que também estava com dor de cabeça.

— Eu também quero saber o que aconteceu ontem, não é muito comum nós dois acordarmos totalmente sem roupas um ao lado do outro.— Me sentei perto da tomada tentando ligar meu celular, já esperava que teriam várias e várias mensagens perdidas dos meus pais, ou talvez não, talvez eles nem sequer tenham percebido ou se importa que saí.

Gunil parou por um momento levantando um pouco o lençol que nos cobria e viu que não vestia nada, olhou para o vazio do quarto e depois para mim tentando lembrar o que tinha acontecido, sentia que ele iria perguntar algo para mim então logo iniciei:

— Eu nao lembro como chegamos aqui, não lembro do que aconteceu, não lembro de nada, isso é preocupante. — Mordia os cantos dos dedos nervoso do que me esperava em casa, mesmo que eu já soubesse de tudo que iria acontecer.

Ele vestiu suas roupas em silêncio, pensativo sobre o que tinha acontecido, me perguntou se eu estava bem e eu apenas balancei a cabeça, ficava feliz em saber que ele se preocupava comigo.
Gunil olhou para mim novamente e pareceu que iria dizer algo, levantei meu olhar para ele esperando o que ele iria dizer.

— Se você soubesse o que aconteceu, você estaria 'de boa' com isso? — Ele colocou seus óculos, com todo o nervosismo não tinha nem sequer notado no quão lindo era, mesmo que já fosse bonito de roupas, era como se eu tivesse presenciando a aparição de um deus grego.

— Já é fácil deduzir o que aconteceu, eu acho que...— fiz uma pausa e olhei para o assoalho pensativo. —...acho que eu estaria 'de boa' com isso, com tanto que você não tenha me forçado a nada.

Gunil não achou estranho o que eu disse, ele sabia da sua índole, porém eu não o conhecia, até eu me surpreendia com a minha calma e com a naturalidade que eu estava levando aquilo. Eu deveria ir embora? Estava mais preocupado com o que aconteceria quando eu chegasse em casa do que com o que realmente aconteceu ali.

— Você quer que eu te leve para casa, Joo? — Gunil vestiu sua jaqueta de futebol americano, ouvi-lo me chamar daquele jeito me causou uma sensação diferente, não era exatamente conforto, mas também não se assemelhava com estranheza ou medo.

— Não...eu...— Gunil me interrompeu, eu apenas continuei olhando para ele.

— Não vou te deixar ir sozinho para casa, deixa eu te acompanhar. — ele se aproximou de mim,“não vou contestar, ele não está fazendo por mal.” pensei, seria bom ter a companhia dele.

Meu querido bateristaOnde histórias criam vida. Descubra agora