𝟎𝟏𝟑

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Assim que saímos do hospital, Gunil, sempre atento às minhas necessidades, sugeriu que fôssemos ao parque para comer alguma coisa. Ele sabia que eu não estava bem e achou que isso poderia me animar um pouco. Agradeci pela intenção, mas recusei a comida, temendo que o enjoo voltasse. Ainda assim, aceitei o convite para o passeio. A primavera estava no auge, e a cidade parecia envolta em um tipo especial de magia. As árvores estavam carregadas de flores, e o ar tinha aquele aroma doce e fresco que só essa estação traz.

Caminhamos lado a lado pelas ruas que levavam ao parque. Gunil, com seu jeito leve e divertido, começou a falar sobre coisas banais, como a escola, a banda, e até histórias engraçadas de sua infância. Ele fazia piadas e gesticulava de forma exagerada, arrancando risadas sinceras de mim. Rir assim parecia um alívio, como se, por um breve momento, eu pudesse esquecer todo o peso que carregava.

Por mais surreal que fosse nossa situação — dois adolescentes lidando com algo tão adulto —, havia uma tranquilidade estranha em nossa conversa. O tema do bebê veio à tona naturalmente, e Gunil, sempre tão responsável, disse algo que me marcou profundamente:

— É maluco, Joo. A gente ainda nem sabe direito como cuidar de nós mesmos, e agora tem outra vida envolvida. Mas, sabe, eu acho que a gente vai dar um jeito. Você é muito mais forte do que pensa.

Suas palavras ficaram ecoando na minha mente. Eu sabia que ele tinha razão, mas também sabia que meu medo ainda era maior do que qualquer certeza que pudesse ter.

— Não sei, Gunil. Eu me pergunto se estou fazendo a escolha certa. Será que eu realmente consigo cuidar de uma criança? E se eu falhar? Não quero que ele ou ela sofra, sabe? Já tem sofrimento demais no mundo.

Gunil passou seu braço pelos meus ombros apertou meu ombros de leve, seus olhos me encarando com um misto de firmeza e carinho.

— Sei que parece assustador agora, mas você não está sozinho. Eu nunca vou te deixar sozinho.

Era uma frase tão simples, mas que para mim significava tanto. Gunil tinha essa habilidade de me fazer sentir que, de alguma forma, tudo ficaria bem, mesmo quando tudo parecia desmoronar.

Ao chegarmos ao parque, o cenário era de tirar o fôlego. As cerejeiras em flor pintavam o céu de rosa e branco, enquanto o som das crianças brincando e dos músicos de rua preenchia o ar. Caminhamos entre as árvores, desviando de ciclistas e famílias passeando, Gunil pegou minha mão, entrelaçando nossos dedos de forma natural, como se fosse algo que ele sempre fez.

Andamos assim por um bom tempo, e, para minha surpresa, aquela proximidade não me incomodou. Pelo contrário, o calor de sua mão era reconfortante, como um lembrete silencioso de que ele estava comigo.

Era como se, pela primeira vez em muito tempo, eu estivesse permitindo a mim mesmo sentir algo além de medo e dor. Ter Gunil ao meu lado despertava uma felicidade genuína, quase esquecida.

— Gunil, — comecei, hesitante. — eu nunca disse isso antes, mas... eu sou muito grato por você. Você é a única coisa boa que eu tenho agora.

Ele sorriu de forma tímida, como se não soubesse muito bem como responder.

— Você também é muito importante pra mim, Joo. Na verdade, eu nunca me importei tanto com alguém como me importo com você.

Caminhamos em silêncio por alguns minutos, e, mesmo sem palavras, parecia que estávamos dizendo muito um ao outro.

Meu querido bateristaOnde histórias criam vida. Descubra agora