JUNHAN
Os dias passaram e Seungmin continuava ausente. Não aparecia na minha casa, não respondia às minhas mensagens, sequer as visualizava. Uma parte de mim queria acreditar que ele tinha algum motivo para aquilo, mas outra já desistira. Enquanto isso, eu me afundava cada vez mais no álcool, um abismo que eu sabia que me destruiria por completo. Parei de ir à escola, parei de me importar com qualquer coisa além da próxima dose. O quarto tornou-se um reflexo do caos dentro de mim: garrafas vazias de vidro e plástico espalhadas pelo chão, pôsteres rasgados nas paredes, fotos e cartas queimadas em um canto. Era como se uma guerra tivesse sido travada ali, e eu sabia exatamente quem havia perdido.
Naquela manhã, acordei com a cabeça latejando, os olhos ardendo e o gosto amargo da ressaca que já se tornara minha companheira constante. Meus pais haviam saído, o silêncio da casa só fazia ecoar o barulho da minha confusão mental. Foi então que ouvi o som insistente na janela.
Ainda zonzo, me arrastei até lá, afastando as cortinas com dedos trêmulos. Do outro lado do vidro, estava Seungmin. Ou melhor, o que restava dele. Ele parecia diferente — mais magro, abatido, com olheiras profundas e um cheiro leve, mas inconfundível, de cigarro. Até mesmo o brilho nos olhos dele parecia apagado. Algo estava errado, muito errado.
— O que você tá fazendo aqui? — perguntei, minha voz saindo rouca, quase um sussurro, o peso do álcool ainda presente em cada palavra.
— Eu... Vim te ver. Posso entrar? — ele perguntou, apontando para a janela.
Por um momento, hesitei. Ele parecia deslocado, como se não fosse mais a mesma pessoa que conhecia. Mas, talvez, eu também não fosse. Ele gesticulou de novo, esperando minha resposta, e finalmente destranquei a janela.
Enquanto ele subia, percebi mais detalhes: os dedos amarelecidos de quem fuma demais, os movimentos tensos, como se carregasse um peso invisível. Ode, como costumávamos chamá-lo, estava diferente, distante. Mas eu também sabia que, de alguma forma, ele enxergava o mesmo em mim.
Quando ele finalmente se sentou no chão do meu quarto, entre os destroços do meu colapso, um silêncio incômodo pairou. Eu não sabia o que dizer, e ele parecia perdido demais para começar.
— Você tá bem? — perguntei, por fim, quebrando a barreira invisível entre nós.
Ele me olhou, o rosto uma mistura de cansaço e algo que parecia ser culpa.
— E você? — respondeu, devolvendo a pergunta, a voz quase tão rouca quanto a minha.
Meus olhos permaneceram fixos nos dele, procurando respostas que ele parecia relutar em me dar. Uma de suas mãos subiu devagar até meu cabelo, ajeitando os fios bagunçados com uma delicadeza que parecia contradizer o vazio que ele carregava no olhar.
— Me desculpa por ter sumido — murmurou, a voz baixa, quase um pedido de redenção.
Antes que eu pudesse responder, ele me puxou para um abraço. Instintivamente, meus braços o envolveram. Era um gesto simples, mas carregado de emoções que não precisavam de palavras. Algo nele estava errado, eu sabia. Algo em mim também estava, e talvez sempre estivesse. Mas ali, naquele momento, éramos apenas dois erros tentando se sustentar mutuamente. Dois erros que, no fundo, ainda se amavam.
Encostei minha cabeça em seu peito, deixando-me ser tomado pelo seu perfume familiar, agora misturado ao cheiro pungente de cigarro barato. Apesar das mudanças, ele ainda era o meu refúgio. O mundo podia estar desabando ao nosso redor, mas, nos braços dele, eu sentia uma pontada de segurança que não conseguia encontrar em mais nenhum lugar. Queria tanto que ele fosse meu — todo meu. Mas sabia que ele não queria o mesmo. Mesmo assim, eu precisava de respostas. Ele era a única pessoa que podia me dar as que eu buscava.
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Meu querido baterista
RomanceJooyeon tinha uma vida um tanto conturbada e costumava dizer que cartas de amor ou até mesmo paixão era coisa de gente boba, era o que ele dizia para seus amigos, antes de encontrar Gunil. ⚠️ - possíveis gatilhos: Violência, violência sexual, bullyi...