JUNHAN
Após tudo que eu soube de Ode, a primeira coisa que fiz foi me agarrar à única fuga que parecia possível naquele momento: o álcool. Cheguei em casa, ignorando as vozes em minha cabeça que insistiam para que eu lidasse com aquilo de forma racional, e fui direto ao armário do meu pai. Ali, encontrei todas as bebidas que ele mantinha trancadas, como se fossem troféus de um passado que ele preferia esquecer. Peguei o que pude carregar e me tranquei no meu quarto.
Não queria pensar. Não queria sentir. Tudo o que Seungmin estava me causando parecia um peso impossível de carregar. Cada memória, cada gesto, cada palavra dita e não dita entre nós me esmagava. Eu sabia que aquilo não ia dar certo. Sabia que continuar tentando seria como remar contra a maré de um oceano implacável. Então fiz o que parecia mais fácil: me afoguei no álcool. Quem sabe, com sorte, eu não acordaria no dia seguinte.
O tempo passou de forma indistinta. A garrafa de licor, antes cheia, agora estava pela metade. Minha visão estava turva, e minha mente oscilava entre a raiva, a tristeza e o vazio. Foi então que ouvi um barulho na janela. Primeiro, pensei que fosse minha imaginação pregando peças, mas o som persistiu. Com esforço, levantei do chão, tropeçando nos próprios pés, e abri a janela. E lá estava ele: Ode, com um pequeno lírio branco na mão, o rosto tomado por uma expressão que oscilava entre arrependimento e hesitação.
Mesmo sabendo de todo o seu histórico, mesmo bêbado, mesmo machucado, não conseguia deixar de amá-lo. Era um amor irracional, que me fazia sentir estúpido, mas que existia com a força de algo incontrolável. Seus erros doíam em mim como feridas abertas, mas sua presença ainda era meu alívio. Sem dizer uma palavra, fiz um gesto para que entrasse.
Ele entrou silenciosamente, fechando a janela atrás de si, e sentou-se ao meu lado no chão, como se não quisesse invadir mais do que já havia feito. Seus olhos percorreram as garrafas espalhadas ao nosso redor antes de se fixarem em mim.
— O que são essas bebidas, Jun? — sua voz era baixa, quase cautelosa.
— Ah, nada demais — respondi com desdém, tentando parecer indiferente. — Você sabe como eu sou, Ode. Eu gosto de beber de vez em quando. — Peguei a garrafa novamente e virei mais um gole.
Antes que pudesse repetir o gesto, Ode tomou a garrafa da minha mão e, para minha surpresa, bebeu também. Ele se aproximou devagar, e com um gesto que me pegou desprevenido, colocou o lírio atrás da minha orelha.
— Você fica lindo assim — ele disse, com um sorriso suave que não combinava com o turbilhão de emoções entre nós.
Revirei os olhos, tentando afastar o calor que subia pelo meu rosto.
— Você diz isso depois de tudo o que fez? Interessante. — Peguei outra garrafa e abri, bebendo sem me importar com o gosto.
Ode suspirou, passando a mão pelo cabelo em um gesto nervoso.
— Me perdoa, hyeong. Eu fiz aquilo, sim. Admito. Mas… eu não sei por que fiz. Quando acabou, me arrependi. Foi como se… como se eu tivesse destruído algo dentro de mim mesmo.
Eu queria mandá-lo embora. Queria gritar, expulsá-lo de casa e da minha vida. Mas a verdade era que eu o queria perto, talvez mais do que qualquer coisa. Queria sentir seu calor, seu cheiro, a segurança que só ele conseguia me dar, mesmo depois de todo o caos.
Engoli em seco, desviando o olhar para o chão.
— Tudo bem… mas, por favor, não me trate como algo descartável que você pode foder e jogar fora. Eu te amo, Ode. Mais do que você imagina.
Ele ficou em silêncio por um momento, e então, inesperadamente, me abraçou. O cheiro familiar de sua pele me atingiu como uma onda, trazendo memórias de momentos bons, de risadas e toques gentis. Meu coração queria acreditar em suas palavras, mas minha mente ainda estava ferida.
— Eu também te amo, Jun. — Sua voz era um sussurro contra meu cabelo. — Eu vou consertar isso. Prometo.
Eu queria acreditar. Mais do que qualquer coisa, queria acreditar que ele estava falando a verdade. Fechei os olhos, sentindo o peso de sua promessa, e me permiti, ao menos por aquela noite, esquecer o mundo lá fora.
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Meu querido baterista
RomanceJooyeon tinha uma vida um tanto conturbada e costumava dizer que cartas de amor ou até mesmo paixão era coisa de gente boba, era o que ele dizia para seus amigos, antes de encontrar Gunil. ⚠️ - possíveis gatilhos: Violência, violência sexual, bullyi...