𝟎𝟏𝟔

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JOOYEON

Toda aquela coisa de gravidez estava me deixando maluco. Ainda era estranho pensar que eu, alguém que nunca imaginou estar nessa situação, ia dar à luz a uma criança. A ideia parecia absurda, distante da realidade que eu conhecia. Por outro lado, havia um alívio no meio de toda essa tempestade de sentimentos: o pai era Gunil. Só isso já me dava uma sensação de segurança que era difícil explicar. Saber que não era do meu pai... bem, isso era um consolo gigante.

Desde o começo, Gunil foi paciente comigo. Ele não me pressionou a contar para sua mãe, entendendo que eu precisava de tempo para processar tudo. Mas, eventualmente, chegamos a um ponto em que não dava mais para adiar. A notícia precisava ser compartilhada. Nós dois sabíamos disso.

Gunil foi quem tomou a iniciativa. Ele chamou sua mãe para uma conversa antes de eu entrar. Pelo que escutei, ele tentou preparar o terreno, explicar algumas coisas básicas, mas eu ainda estava nervoso. Meu coração batia rápido enquanto eu esperava no outro cômodo, brincando distraidamente com as mangas da minha blusa. Quando finalmente ele me chamou para sentar à mesa, senti um frio na barriga.

Eu me sentei ao lado de Gunil, de frente para sua mãe. Ela tinha um olhar tranquilo, mas atento, como se estivesse tentando processar tudo o que o filho tinha acabado de contar. Para minha surpresa, ela estendeu a mão e tocou a minha, num gesto de apoio que me fez relaxar, mesmo que só um pouco. Mas não era difícil notar que algo ainda a incomodava.

— Gunil — ela começou, hesitante —, isso não faz sentido. Como ele pode engravidar?

Senti o rosto queimar, e meu instinto foi desviar o olhar, mas Gunil apertou levemente minha mão, encorajando-me. Ele respondeu com a paciência que sempre demonstrava.

— Mãe, ele é um homem trans. Pessoas trans podem ter filhos naturalmente, entende? Não é tão incomum quanto parece.

Eu sabia que aquilo era muito para ela processar. A criação religiosa que ela teve provavelmente não facilitava as coisas. Para mim, o processo também tinha sido confuso. Descobrir que eu estava grávido foi como uma montanha-russa emocional — e eu nem gostava de montanhas-russas. Já fazia mais ou menos 18 semanas desde aquele dia surreal. Antes disso, eu nunca tinha parado para contar semanas no mês. Agora, cada uma parecia um marco gigante.

A conversa continuou de forma delicada, mas eu não podia negar que me sentia desconfortável. Falar sobre algo tão íntimo com outra pessoa, ainda mais um adulto, era estranho. Não importava o quanto Gunil tentasse aliviar a situação, eu me sentia julgado, vulnerável.

— Eu... só quero que você saiba — ela disse, com a voz mais suave do que eu esperava — que isso não muda o fato de que você agora faz parte da nossa família. Vai levar um tempo para eu entender tudo, mas você não está sozinho nisso.

As palavras dela me surpreenderam. Eu não sabia como responder. Gunil apertou minha mão de novo, como se dissesse que estava tudo bem. Talvez estivesse mesmo. Pelo menos agora, o peso que eu carregava parecia um pouco mais leve.

Ela olhou para mim com um sorriso amigável, o tipo de sorriso que parecia ensaiado para me tranquilizar, mas ainda carregava uma ponta de incerteza. Apesar disso, era acolhedor o suficiente para me fazer sentir um pouco mais à vontade.

— Já sabem o sexo? Vocês já decidiram o nome? — perguntou ela, com um tom curioso e, talvez, tentando quebrar a tensão.

Eu balancei a cabeça, hesitante. Era estranho falar sobre isso, como se essas decisões fossem irreais até aquele momento. As ultrassonografias e exames tinham sido uma experiência desconfortável para mim. Estar ali, deitado em uma sala fria, exposto de uma maneira que eu nunca tinha imaginado, mexia com algo profundo dentro de mim. Era necessário, claro, mas isso não tornava o processo menos invasivo ou constrangedor.

Meu querido bateristaOnde histórias criam vida. Descubra agora