Ele se esqueceu

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~ Melissa.

Duas semanas se passaram e nenhuma ligação de Henrique, se quer uma mensagem ou algum recado dado por outra pessoa. Nem mesmo Juliano dizia algo sobre ele, apenas falava que estávamos brigados atoa, que deveríamos conversar. Mas acabei deixando de lado tudo aquilo, estava aproveitando até mesmo para não ir a fazenda. Havia passado uma semana intensa de provas e eu não me sentia bem, minha cabeça doía muito e frequentemente estava tendo alguns enjoos.

Assim que estava saindo do estágio vi Gabriel parado proximo ao seu carro e falava ao telefone, sorrindo com algo. Me aproximei.

— Ah não, ela não precisa saber, a gente vai no fim da noite. -escutei ele dizer e antes mesmo que ele continuasse, o mesmo notou minha presença e seu sorriso sumiu rapidamente.- É... -ele continuou dizendo.- Depois eu te ligo então... -estranhei sua feição um pouco pálida.- É, sim. Tchau. -ele foi breve e finalizou a chamada, guardando o celular.- Oi Mel.
— Com quem estava falando?
— Um amigo, nada demais. -ele deu de ombros e logo desviou o assunto.- Hoje não vou poder te levar em casa, você pode ir com a Giovana? -o encarei.
— Ta... -fiquei meio paralisada, tentando processar.
— Tudo bem pra você?
— Sim. -dei de ombros, dando algumas piscadas para me recompor.- Então até.
— Tchau. -ele entrou no carro sem ao menos se despedir direito.

Dei passos pra trás, me afastando de perto do carro. Ele acenou brevemente, sorrindo, enquanto fechava o vidro do carro. Eu fiquei estática ainda processando, parecendo não acreditar no que acabara de acontecer. Giovana a esta altura já estava em casa, então resolvi chamar um uber para não incomodar a mesma para voltar somente para me buscar. Assim o fiz, logo aguardando o mesmo proximo a rua, para acelerar um pouco mais o processo, estava sentindo a angustia adentrar meu ser.

O caminho até em casa pareceu pertubador, tentando entender o que deu em Gabriel. Ele não parecia com raiva, não brigamos, nem nada do tipo, ele estava até empolgado pelo seu jeito enérgico. Mas algo havia acontecido, isso certamente sim. Somente notei que havia chegado em casa quando o motorista agradeceu e me desejou boa noite, me despertando de meus pensamentos.

Desci em passos lentos e fui até o caminho do meu apartamento, totalmente desanimada e tentando lidar com aquele turbilhão de acontecimentos e sensações dentro de mim. Ao entrar no apartamento, escutei a voz de Giovana distante.

— Mel? -suspirei, preferia que ela não tivesse em casa.
— Oi. -respondi um pouco desanimada, entregamdo que eu estava péssima.

Logo escutei seus passos pelo corredor, o barulho do salto era estridente contra o chão. Ela segurava o rímel aberto na mão, me observando ainda para a porta. Já estava totalmente pronta para seu "rolê".

— O que foi?
— Não é nada. -caminhei até o sofá e antes de me atirar contra o mesmo, apenas tirei meu tenis.
— Como se eu não te conhecesse. -ela fechou o rímel e se aproximou, sentando em um puff bem a minha frente.- Vamos, fala quem foi dessa vez.
— Ah Gi, muita coisa.
— Henrique?
— Sim, ainda. -senti meus olhos marejarem, este era e sempre vai ser um assunto delicado.- Mas também Gabriel.
— O que o idiota aprontou? -perguntou, ríspida. A encarei dando um sorriso de canto, sua capa "irmã protetora" estava ativada.
— Eu não sei, Gi. -dei de ombros, jogando a cabeça para trás e fixando o olhar no teto.- No final do estágio vi ele perto do carro e quando me aproximei ele desligou o telefone rapidamente, disse que não poderia me trazer e meteu o pé.
— O que? -ela disse tão perplexa que seu tom de voz me fez erguer a cabeça e voltar a encará-la.- E você veio de que?
— Uber.
— Porque não me ligou? -antes que eu pudesse responder ela continuou dizendo.- Ta, ta. Não importa. -suspirou.- Mel... Eu não sei, mas isso ta estranho.
— Eu tambem achei, mas... -dei de ombros, já sem forças para segurar as lágrimas que estavam reprimidas em meus olhos e já se formando um grande nó em minha garganta.
— Fica tranquila, talvez não seja nada. -ela mudou de opinião rapidamente, talvez para me tranquilizar.- Olha, amanhã é sábado, vai pra fazenda.
— Não. -disse rapidamente.
— Vai ficar aqui sozinha? -indagou e me lembrei que ela estava indo a uma festa em um sitio e só voltaria no final do domingo.
— Sim.
— Não da pra te deixar aqui sozinha, Mel. Não desse jeito. -suspirei, me sentando e ajeitando a postura.
— Vou ficar bem, sempre fico. -dei um leve sorriso.
— Não sei... -me levantei, tentando encerrar o assunto.
— Fica calma, Gi.
— Então liga pra Henrique, talvez ele ta em casa, como ta a agenda dele?
— Não sei e nem me interessa no momento. -vendo que aquele assunto se estenderia, comecei a caminhar em direção ao meu quarto.
— Não me diga que você não sabe onde Henrique e Juliano se encontra no momento? -ela parecia incrédula, talvez porque eu sempre sabia todos os passos dos meninos, sempre tinha a agenda do mês para ficar por dentro de onde eles iriam, se eu poderia ir, se daria para vê-los aos fins de semana.
— Não, não sei. -ela riu.
— É, o que um namoro não faz em? -parei apenas para dar um breve olhar de raiva para a mesma.
— Boa festa, Gi.

Entrei no quarto fechando rapidamente a porta, sem dar mais brechas para Giovana continuar com o assunto. Óbvio que eu sabia onde os meninos estavam neste momento, certamente se preparando para o show em Minas Gerais e talvez iriam para a casa de madrugada ou amanhã pela manhã.

Abri o celular na conversa de Henrique, como eu queria apenas ligar para o mesmo para chorar em seu ouvido ou amanhã fugir para seus braços, aquele era meu maior refúgio sempre.

~ Henrique.

Escutei o celular chamando e tirei do bolso, era Giovana, estranhei.

— Alô? -atendi meio preocupado, ansioso para saber o motivo da sua ligação.
— Oi Henrique, é a Gi.
— Sim, eu sei. Tudo bem por ai?
— Não tanto. -ajeitei minha postura no banco.- Onde você está?
— Indo pro show em Minas. -ela suspirou.
— Está longe, droga! -ela disse mais para si mesma.
— O que você está precisando?
— Melissa precisa de você, Henrique. -suspirei, fechando os olhos.
— O que foi? -tornei a perguntar.
— Hoje ela ta bem triste, o namorado deu um sumiço e ela ta em casa sozinha. Eu to saindo pra uma festa e só volto domingo, não queria deixá-la sozinha e tão triste.
— Giovana, eu disse a mim mesmo que não me intrometeria nesse relacionamento da Melissa, não vai ser hoje que vou mudar de opinião. -vi Juliano olhar de relance para mim, querendo saber o que era.
— Ela só precisa da sua companhia, Henrique, não é pra se intrometer.
— Mas se eu for até lá obviamente brigaremos por isto.
— Não complique as coisas, Henrique. Ela é sua irmã. -me lembrou.
— Eu sei, Gi... -disse baixo, triste por estar tão longe da minha pituca.
— Pensa bem, Henrique. Boa noite e bom show. -antes que eu pudesse responder, ela desligou.
— O que é, cara? -Juliano logo perguntou, curioso.
— Giovana disse que a Mel ta triste por conta do namorado, que ia sair e que não queria deixar ela sozinha e triste.
— Mas aconteceu o que?
— O que eu disse, né Juliano! -disse irritado.- O cara deu um sumiço, eu disse que ele era moleque e que não era tudo isso, mas ninguém me ouviu, só me xingou.
— Calma, cara! Tem que saber primeiro o que rolou.
— E precisa? -arqueei a sobrancelha, como se dissesse o óbvio.
— Vou ligar pra Mel.
— É, talvez com você ela queira falar. -cruzei os braços, relaxando minha postura contra o banco e vendo Juliano fazer o mesmo com o celular em mãos.
— Oi Mel. -o encarei, ele ligou mesmo. O mesmo me deu um olhar de relance.- Ta tudo bem? -ele fez uma pausa.- Por aqui também esta bem, amanhã vai pra fazenda? -revirei os olhos.- Porque não? -ele fez outra pausa.- Tudo bem, se mudar de ideia me avise, eu te busco. Ta. Tchau, fica com Deus. -finalizou a chamada.- Ta me olhando porque?
— Vai a merda! -bufei.
— Liga pra ela pra saber, não me olha com essa cara de quem ta curioso. -revirei os olhos, ignorando-o a partir daquele momento.

Óbvio que eu queria apenas abraçar Melissa e colocar a mesma sobre meu peito enquanto eu acaricio seus cabelos com o doce cheiro de melancia. Mas meu orgulho desta vez estava falando mais alto, decidi não me intrometer e tenho feito desde então, ainda que a saudade de Melissa seja grande. Eu esperaria a mesma me procurar.

~ Melissa.

Achei um pouco suspeita a ligação de Juliano logo após Giovana ter saido de casa, espero muito que ela não tenha ligado para o mesmo para importunar o coitado. Só causaria mais afronta entre Henrique, que não gostaria nadinha de saber sobre isso, ele ficaria bem aborrecido.

Minha cabeça ja dava indícios de dores pelo stress, então apenas me aconcheguei na cama após um banho e tentei ligar para Gabriel, claro que só caia na caixa postal. Após algumas tentativas, desisti. Apenas me virei e deixei o sono tomar conta do meu corpo, extremamente chateada e com uma imensa vontade de chorar.

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