𝗦𝗔𝗡𝗚𝗨𝗘 & 𝗔Ç𝗢

02

"Aparências da realeza"

O grande salão do castelo estava cheio, decorado com tochas que iluminam o ambiente, enquanto bandeiras e estandartes com o símbolo do dragão celebram a vitória do Rei Darius.

Música misturada com risos e gritos ressoou por toda a sala, e os nobres dançavam e brindavam em homenagem ao seu soberano. Darius, com um sorriso orgulhoso e já bêbado, ergueu sua taça de vinho, recebendo aplausos e elogios de todos.

A rainha Katerina, ao lado do trono, observava tudo com uma expressão suave no rosto. Ele segurava uma taça de vinho na mão e mantinha uma postura autoritária. Alguns sorrisos e palavras gentis eram trocados de vez em quando, mas nada que realmente chamasse tanta atenção.

Afinal, ela nem tinha energia para isso. Em seu íntimo, ela sabia que esta celebração era um grande farsa bajuladora. Além de saber o que a aguardava após o término das comemorações daquela noite, ela seria novamente reduzida a um papel que odiava, uma prisioneira do próprio corpo, obrigada a satisfazer os desejos de um marido que não amava e que não a respeitava.

Enquanto ela estava distraída em seu próprio disfarce, observando o que estava ao seu redor, alguém a observava.

Sir Petrus, o bravo soldado muito elogiado pela sua habilidade, fixou os olhos na rainha. Ele raramente a via e agora que teve a oportunidade de vê-la de perto, percebeu algo. Havia algo no modo como ela sorria, talvez uma tristeza oculta que ele não conseguia ignorar.

— Você está olhando demais, Petrus — murmurou seu amigo, Edmund, ao lado dele — Se Darius perceber, não será bom para você.

Petrus rapidamente desviou o olhar.

— Eu sei — ele respondeu em voz baixa. — Mas você não está achando ela um pouco estranha? Talvez um pouco triste.

— Acho que o seios dela cresceram mais. — ele riu da piada, mas ao notar o olhar sério de Petrus parou imediatamente — Não, não notei nada de estranho. Eu mal vejo essa mulher. Mas convenhamos, com um marido como o dela, eu já teria me jogado pela janela.

— Chega, pare de beber! Você está falando tanta merda que sua cabeça pode não durar muito esta noite! — Petrus tirou o copo da mão de Edmund e bateu com força na madeira da mesa, voltando a atenção para a festa.

Katerina esticou o braço para o lado para que sua taça fosse enchida novamente. Ela olhou para a criada e agradeceu com um sorriso gentil, e quando olhou novamente para frente, viu que Radu, o soldado e irmão bastardo de Darius, estava se aproximando.

Ele estava visivelmente bêbado, fez uma reverência exagerada e, com um sorriso insolente, disse:

— Querido irmão, receio que já esteja na hora de ter um herdeiro, não acha? Você não pode saber o dia pela manhã. Talvez você devesse arranjar outra esposa, se a sua não cumpre o papel que todos esperamos!

Darius endireitou sua postura e, quando estava prestes a responder, Katerina o fez primeiro.

— Querido cunhado, sugiro que tome cuidado com suas palavras. A posição que ocupo não deve ser discutida por alguém da sua estatura. Sua insolência não será perdoada só porque você é irmão do rei —  ela disse entre os dentes, delicadamente, olhando para ele.

Radu ficou sem palavras, piscou duas vezes e olhou para Darius, esperando que seu irmão o defendesse. Quando percebeu que nada seria feito a respeito, ele parou e saiu.

Katerina tomou um gole de vinho com amargura, farta de tudo. Darius se inclinou um pouco para o lado e disse:

— Já que você gosta tanto de falar, mulher, levante-se e me agradeça aos meus soldados, especialmente ao Sir Petrus por lutar bravamente.

— Seus? — ela questionou, olhando para ele sem expressar qualquer reação.

Darius, por não gostar da afronta, tornou-se um pouco mais brutal. Ele se levantou e segurou o braço dela com força, puxando-a para se levantar.

— Queridos convidados, como minha rainha se mostrou muito tagarela, dirá algumas palavras em meu nome.

Todos riram da zombaria.

A rainha engoliu em seco, sorriu sem jeito e olhou em volta, ergueu a taça e o silêncio se instalou mais uma vez.

— É com o coração cheio de gratidão que eu, Rainha Katerina, dirijo-me hoje a vocês a pedido do meu Rei. Vocês, meus bravos soldados, demonstraram coragem e lealdade inabaláveis ao lutarem ao lado do meu... Amado marido, o Rei Darius. Suas ações no campo de batalha são responsáveis por celebrarmos esta noite com ar em nossos pulmões, e por termos fortalecido a fé do nosso povo.

Ouviram-se palmas, mas com um gesto gracioso ela pediu silêncio e continuou:

— E quero agradecer especialmente ao senhor, Sir Petrus. Já ouvi muitas histórias sobre sua bravura e vejo que não eram apenas histórias, mas testemunhos de suas habilidades, sua lealdade, dedicação e talento. Meu marido o considera um amigo e está em dívida com você por salvá-lo de uma emboscada.

Petrus levantou-se, foi até a frente e fez uma reverência diante da rainha, grato por suas palavras.

—  Obrigado por suas palavras, majestade. Não fiz mais do que minha obrigação e faria tudo de novo se fosse necessário. Essa não é a minha terra, mas aprendi a amá-la e continuarei me dedicando para protegê-la sempre! — ele levantou a cabeça e olhou para ela.

— E você tem nossa profunda gratidão e respeito, Sir Petrus. Por favor, levante-se.

Ele assentiu e se levantou, endireitando sua postura.

— Ele é meu mais novo amigo de confiança! — disse Darius, bebendo cada vez mais — Vamos, continue com a porra da música! — ele ordenou, e foi feito.

Petrus e Katerina se entreolharam mais uma vez e voltaram aos seus lugares.

Ela esperou mais um pouco e, quando finalmente se cansou, decidiu que era hora de ir embora. Ela informou a Darius que estava cansada e desejava se retirar, e ele sem ligar muito acenou com a mão permitindo que ela saísse.

Katerina saiu sozinha e caminhou pelos corredores do castelo até chegar aos seus aposentos, onde Minerva a esperava, sempre pronta para ajudar a rainha em suas necessidades mais discretas.

— Minerva — disse Katerina, fechando a porta atrás de si — preciso da sua ajuda mais uma vez. Você ainda tem mais daquela mistura que faz Darius dormir profundamente?

CONTINUA...
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