Escondidos em alguma árvore ou arbusto que estava por perto, os grilos emitiam sons que contrastavam com o barulho dos veículos que passavam pela rua. Com seus faróis bem acesos, iluminando a estrada junto com os postes, os carros e motos iam e vinham, deixando um cheiro de escapamento que impregnava o ar. Enquanto caminhava pela calçada da avenida, a garota pegou o celular e mudou a música que estava ouvindo de sua playlist favorita. Como estava um pouco tarde, os barulhos no centro da cidade não estavam tão altos e apenas algumas pessoas ainda andavam por aquela parte, provavelmente saindo do trabalho ou da faculdade, assim como ela.
Ao retirar um dos fones de ouvido para atravessar a rua, a morena de cabelos curtos rapidamente verificou se tinha algum carro se aproximando e logo se apressou para chegar até à outra calçada, indo em direção a um local que ainda estava aberto naquele horário da noite. Quando parou de frente para o grande letreiro em neon, a jovem moça abriu um grande sorriso ao ver que ainda tinha um funcionário trabalhando na oficina. Então, ao passar por algumas caixas e pneus que estavam empilhados na entrada, ela deixou sua mochila no chão e abraçou o rapaz enquanto ele estava de costas, mexendo no motor de um carro. O loiro de cabelos compridos não retribuiu o ato carinhoso da namorada, nem sequer com uma simples palavra.
- Ainda vai demorar? - a morena perguntou, desfazendo o abraço.
O jovem não respondeu. Ele cuidadosamente continuou tentando encaixar uma peça no motor do veículo. Um forte cheiro de gasolina tomava conta do lugar.
- Então vou esperar você ali no sofá. - a garota falou, caminhando até o velho móvel que estava perto da entrada.
Ao se acomodar, ela pegou o celular e ficou mexendo em suas redes sociais. Como o comportamento frio de seu namorado era algo que começou a aparecer uma vez ou outra, estranhamente depois de alguns meses de relacionamento, a jovem estudante acabou não se importando tanto com isso. Ela sabia que trabalhar em uma oficina mecânica poderia ser algo estressante, então, para evitar brigas, ela dificilmente reclamava ou exigia alguma coisa, apenas agia docemente como sempre fazia.
Depois de meia hora, o loiro finalmente saiu de perto do carro, indo em direção à bancada, para guardar as ferramentas que tinha usado, e caminhando até o banheiro em seguida. Sentindo-se um pouco tonta por conta do cheiro do combustível, a garota se levantou e foi até a janela para abrí-la mais. Ao virar-se para voltar e sentar no sofá novamente, ela tropeçou em algo do chão e quase caiu. Um pouco irritada, ela olhou para o cadeado que foi descoberto quando ela tropeçou na caixa que estava em cima dele. Ansiosa, a morena olhou para a porta do banheiro e depois para baixo, tirando o pequeno objeto, que já estava aberto, e puxou o falso piso de cerâmica. Logo em seguida, um cheiro forte de gasolina fez a garota colocar a mão no nariz e acender a lanterna do celular. O interior daquela sala subterrânea era escuro e um curto lance de escadas se encontrava em sua frente. No primeiro momento, ela ponderou se entrar naquilo não poderia ser perigoso e se seria melhor avisar o namorado sobre o que achou. Mas então ela pensou se não estaria sendo paranoica demais e imaginando coisas que não existiam. Em poucos segundos, ela decidiu entrar e averiguar rapidamente, descendo os degraus enquanto sentia o coração acelerar de nervosismo. Iluminando o lugar, ela viu vários galões vazios espalhados pelo chão, com alguns sacos de lixo nos cantos e camadas de mofo preto se formando nas paredes e no teto. O chão estava bem empoeirado e era de cimento puro, sem tinta ou azulejo.
E no fundo, encostado na parede, havia um corpo amarrado com cordas, que estava com sua cabeça coberta por um saco de tecido bem sujo.
Apressadamente, a jovem correu até o corpo e colocou o celular no chão, com a lanterna virada para cima. Cuidadosamente, ela desamarrou a corda que estava no pescoço da vítima e retirou a sacola de pano. Em seguida, ela instintivamente colocou as mãos na boca, em choque, ao mesmo tempo que o rosto que havia sido revelado em sua frente lentamente abria os olhos e mexia levemente a cabeça em sua direção. Bem diante dela, um jovem rapaz encontrava-se com alguns hematomas em sua face e com um de seus olhos inchado e avermelhado, com respingos de sangue ao redor. Desesperadamente, a morena tentou desamarrá-lo com rapidez. Contudo, sem conseguir falar e estando aflito, o indivíduo ficou ansiosamente meneando a cabeça para os lados, como se pedisse para que ela não fizesse aquilo.
De repente, o barulho de passos ressoou atrás da estudante. A vítima que estava amarrada em sua frente arregalou os olhos e começou a se debater. Vagarosamente, a garota foi virando para trás, com as mãos ficando mais trêmulas enquanto pegava o seu celular. Ao iluminar a pessoa que estava na entrada da sala subterrânea, e que antes pensava ser o seu namorado, ela sentiu um arrepio passar por todo o seu corpo quando viu o sorriso de satisfação estampada na face do loiro. Em seguida, ele subiu alguns degraus da escadaria e puxou o piso falso para baixo, trancando o cadeado. O verdadeiro namorado, que ainda estava atrás da jovem se debatendo, começou a ficar cada vez mais atormentado. Sem saber o que fazer, a garota caminhou lentamente para trás, enquanto o assassino andava em sua direção. Posteriormente, levando uma das mãos à nuca, o falso loiro puxou sua pele até o seu rosto inteiro sair, como uma máscara, revelando uma criatura de pele vermelha e olhos pequenos que ainda encarava a jovem com uma expressão sorridente.
E depois ela sentiu algo afiado passar pelas suas costas e atravessar o meio de seu peito. Atrás dela, o verdadeiro loiro, com lágrimas nos olhos e a expressão dominada pela culpa, segurava a faca com as mãos trêmulas.
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Contos Curtos Cabulosos
TerrorO terror jamais teve um formato tão pequeno e intrigante. Muitos dizem que os maiores monstros são os mais perigosos. Mas e se eles tiverem errado? Nunca se sabe o tamanho, e muito menos a força, do próximo que virá te assombrar... * Desenho da ca...