Provocações noturnas.

428 52 50
                                    

O relógio na parede do quarto marcava meia-noite, e eu não conseguia pegar no sono

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O relógio na parede do quarto marcava meia-noite, e eu não conseguia pegar no sono. O calor infernal, combinado com os pensamentos borbulhando na cabeça, me obrigou a sair da cama e caminhar até a cozinha para beber um copo d'água.

Ao atravessar o corredor silencioso da casa, uma voz abafada me chamou a atenção. Eu deveria ignorar e seguir meu caminho, mas o que é a curiosidade, senão um vício disfarçado de interesse?

Parei, encostando-me à parede ao lado da porta entreaberta. De onde eu estava, conseguia escutar Chaya. A voz dela estava baixa, mas não baixa o suficiente para que eu não captasse o tom suave que ela raramente usava. Isso já era intrigante por si só.

Chaya, a encrenqueira sempre de pavio curto, consolando alguém? Só podia ser brincadeira.

Inclinei-me um pouco mais, espiando pela fresta.

— Jon, não fica assim... — ela sussurrou, com a voz quase que Aveludada. Pelo visto, a sua marra era só comigo meu.  — Você deu o seu melhor, errar pênalti é a coisa mais normal do mundo. Não se condene tanto.

Como é a história? Quando errei o Pênalti contra o Bragantino, não foi isso que essa sonsa havia me dito.

A confirmação de quem estava do outro lado da linha fez meu humor azedar instantaneamente. Calleri. O maldito. Aquele argentino pipoqueiro que não sabia acertar um pênalti em jogo decisivo. Meu estômago revirou só de ouvir o nome dele saindo dos lábios de Chaya, e uma pontada de irritação familiar tomou conta de mim.

Eram tantas ironias ali. A situação era perfeita para eu me intrometer.  sabia que qualquer comentário meu a deixaria furiosa. A proximidade dela com ele já era um absurdo por si só, mas o fato de Chaya estar defendendo aquele cara só reforçava o quanto o gosto dela era questionável.

Respirei fundo, ajeitei a expressão mais cínica que consegui e empurrei a porta devagar, entrando no quarto sem bater. Fingi casualidade, como se a presença dela ali não fosse grande coisa. Eu a observei rapidamente, Deus cachos estavam  soltos e caiam sobre os ombros nus, enquanto ela se virava com um salto, os olhos arregalados.

— Errar pênalti é normal? Engraçado, quando foi minha vez você me chamou de Cretino, inútil. Mudança rápida de posicionamento, não acha? Meio irônico. — Dissertei, devagar, sem pressa. Fechei a porta e vi seu rosto de espanto ao me ver ali. — A única diferença é que eu sou Zagueiro, todo mundo sabe que está não é a nossa função. Já certos atacantes por aí, são só pipoqueiros mesmo. Já virou tradição. — sorri cínico. — Ah, um beijo para você Jonathan, espero que tenha uma boa noite, por que acredite, eu estou tendo.

Chaya travou no meio da frase, o celular ainda estava colado na orelha, os olhos fixos em mim, enquanto um misto de choque e fúria se formava em seu rosto.
As sobrancelhas dela arquearam-se e, por um segundo, pensei que fosse me atacar ali mesmo.

Quase podia ver o sangue fervendo sob a sua pele, seus dedos estavam brancos de tanto apertar o celular. Não pude evitar o sorriso que surgiu em meus lábios. provocá-la era sempre um prazer quase culposo.

𝑺𝑼𝑳𝑨𝑴𝑰𝑻𝑨 |• André Ramalho.Onde histórias criam vida. Descubra agora