"Acelera, freia, Ramalho"

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Despertei um pouco atrasada nessa manhã de sexta feira

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Despertei um pouco atrasada nessa manhã de sexta feira. Acabei perdendo a hora, e quando dei por mim, estava a sair de casa quase vinte minutos a mais do que costumo a sair.

Assim que atravessei a porta de casa, avistei Ramalho ao longe, recostado no capô do carro, com os braços cruzados e o olhar perdido. Franzi o cenho ao vê-lo ali. Ele não já deveria estar no treino?

O Fagner já não estava mais aqui...

— Que demora em minha filha, estava quase indo eu mesmo acordar-la. — ele disse, descruzando finalmente os braços. — Brigou com o Relógio ou o que?

O encarei de cima a baixo, como se quisesse dizer; Lhe devo explicações desde quando?

— Teria acordado com mais facilidade, se o vizinho insuportável do meu quarto não roncar-se tão alto, durante a noite.

O zagueiro enrugou a face.

— Eu não ronco.

Sorri convencida, ao perceber que ele havia se afetado com a pequena mentira que lhe contei. De fato, o André não roncava. Mas ouvia música alta, e isto era um problema. Alguém esqueceu de apresentar os fones de ouvido a este ser humano?

Maldito seja o Fagner, se ele não tivesse dado um de bom Samaritano, eu não teria que lidar com este encosto.

— Como sabe? Já se ouviu enquanto dorme?

O rapaz parou por estantes, parecia pensar, antes de finalmente responder-me.

— Não, mas eu sei que não ronco.

Joguei o cabelo para o lado e revirei os olhos antes de abrir a bolsa e pegar a chave do carro.

— O que faz aqui? Não deveria estar no treino? cadê o Fagner? — Indaguei, mudando o rumo da conversa. Agora, neste momento, tudo que menos me importava era se o Ramalho roncava ou não. Tanto faz.

Ele pressionou os lábios para dentro, prolongando o suspense de maneira irritante. Qual a necessidade de tanto rodeio?

— Então, sobre isso... — mais uma pausa dramática. Ergui uma sobrancelha. — O Fagner pediu para que você me desse uma Carona, ele disse que teria que passar no banco antes de ir ao CT.

Era sério isso? O lemos estar a me taxar de Motorista particular?

Suspirei, fechando os olhos por um breve instante, tentando reunir toda a paciência possível. Quando voltei a encará-lo, ele tinha um sorrisinho de canto, provavelmente satisfeito com minha expressão desgostosa.

Ramalho parecia se alimentar dos meus momentos de irritação, e agora não era diferente.

— Quer que eu te dê uma carona? — repeti devagar, como se precisasse mastigar cada palavra. Era óbvio que ele não estava brincando, mas ainda assim custava a acreditar.

𝑺𝑼𝑳𝑨𝑴𝑰𝑻𝑨 |• André Ramalho.Onde histórias criam vida. Descubra agora