Corra, amor, corra
Corra pela sua vida
Vou arrancar seu coração
E ele será meu.— RUNRUNRUN - Dutch Melrose
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O corredor estava escuro, iluminado apenas pela luz do luar que se infiltrava pelos vitrais, e o único barulho era dos meus sapatos batendo contra o piso, que ecoava por toda a escola, assim como o som do molho das chaves em atrito.
Eu estava usando a lanterna do meu celular para me locomover, fechando todas as salas, verificando de porta por porta. A coordenação pedira para mim, mais cedo, trancar a escola por eu sempre ficar ali até o escurecer, na biblioteca. Mas eu estava acostumada a fazer isso, já que sempre saía mais tarde que os funcionários.
Rodei a chave da última porta em minha direção quando um estrépito estridente cessou meus ouvidos, ecoando por todo corredor e chamando minha atenção. Franzi a testa, hesitando antes de estocar meus passos em direção ao ruído.
— Olá...? — minha voz quebrou o silêncio de segundos atrás.
Sem resposta, continuei a iluminando o corredor para me guiar melhor — o lugar silencioso me deixava em alerta.
Arfei em um sobressalto, me espantando com outro sonido, dessa vez mais perto.
— Se retire de onde estiver — Comecei a falar, tentando soar firme e confiante —, a escola está fechada neste horário.
Nada.
A resposta foi um grande silêncio.Eu não estava doida, realmente teria alguém pelas redondezas, fazendo brincadeiras sem graças.
— Eu sei disto. — Uma voz masculina finalmente respondeu.
Estremeci com o vento gelado soprou de repentinamente contra meu corpo. Eu tinha fechado as janelas.
Um grito agudo e apavorado veio em outra direção, mais distante que o outro, nesse momento, meu coração errou as batidas em atordoação.
Minhas pernas ficaram trêmulas, me traindo rapidamente, em segundos, e meus dedos se apertaram mais ao redor do celular.
— Corra, corvita. — A voz era firme, soando mais como uma ordem. — Porque se eu te pegar, vai ter que chorar, implorando para eu te soltar.
Ele rosnou, e meus pés se moveram por instinto, disparando sobre a escuridão.
Eu mal podia acreditar estar fugindo, correndo de alguém que nem sabia quem era, entretanto, deixei minhas pernas me levarem.
Demorou alguns segundos até eu ouvir os passos calmos me seguindo, eles estavam tão lentos que me assombrava.
Um choramingado escapou de meus lábios, deixando as chaves caírem quando comecei a pular degraus à frente.
Ainda era cedo demais para eu orar por meus pecados?
Meu coração estava em chamas e eu me segurava para não gritar até meus pulmões explodirem e as janelas estilhaçarem, não me importando de tropeçar nos degraus.
Quando cheguei pousar no andar de baixo, olhei para cima, vendo a sombra grande pular o corrimão, não consegui ver seu rosto, havia algum tipo de máscara cobrindo sua identidade. Não parei de correr por um segundo, tentando algum lugar para me esconder.
Eu tinha fechado todas as salas.
Notei alguns vultos pela espreita dos corredores, mas também acompanhado com urros e berros angustiantes, um tanto quanto pertubador.
Um.
Dois.
Três.Três silhuetas masculinas.
Cheguei nas portas do fundo, por onde eu sempre saio após fechar tudo.
Não, não, não. Ela estava aldravada, a única saída onde nunca estava trancada, agora estava.
Eu estava trancafiada com um louco que não faço a mínima ideia de quem seja e nem o que ele quer de mim.
Quando estava prestes a quebrar a maçaneta, parei de ouvir qualquer ruído, e a pessoa que estavam atrás de mim, sumiu. Ninguém estava mais lá. Nenhum grito.
Nem percebi que mantinha o ar preso em minha garganta. Foi quando respirei profundamente, sentindo o ar adentrar minhas narinas, e o pavor se dissipava com os minutos.
Sentei-me no chão, encostada com as costas na parede dura e fria, ligando para Asterin com as mãos agitadas.
Até ela chegar, teria que encontrar as malditas chaves, e eu não faço a mínima noção onde as deixei cair.
— Oi, Verena! — Ouvi a voz doce através da tela do celular, suspirando em alívio.
┈┈┈┈ ✦ ┈┈┈┈
Encarei minha feição mais uma vez no reflexo do espelho.
Depois do telefonema para Asterin, ela me trouxe até o rinque de gelo, aonde eu iria me apresentar. E aqui estou eu, pronta para me exibir para algumas pessoas desinteressadas que só compareceram porque não havia nada melhor para fazer.
Não contei para ninguém sobre o acontecido de uma hora atrás, nem mesmo para Asterin, e ainda, sim, eu podia sentir uma dose de nervosismo injetada no meu sangue e minhas pernas doloridas.
Levantei-me da cadeira assim que ouvi a voz do locutor, anunciando uma das últimas patinadoras daquele dia, eu.
Amarrei meus patins apressadamente, saindo pela porta do pequeno gabinete, estralando meus dedos em ansiedade.
Mas assim que estava preparada para estar sob as luzes do ringue, me fiz imóvel, colando meus pés no chão, olhando ao redor.
Caí em esquecimento, um branco se pôs em minha mente e fez toda a coreografia vanecer, de uma hora para a outra, não lembrava de nada além do sentimento que emaranhou minhas convicções e emoções.
Eu não podia viver sem a patinação, contudo, naquele momento eu queria participar daquela bagunça.
Se era minha única chance, eu me agarrei nela.
Dei meia-volta, entrando do camarim novamente e trocando os patins por um tênis, correndo para pegar meu celular na mesa e sair dali o mais rápido possível.
O silêncio permaneceu nas arquibancadas, esperando por mim.
Desculpa, não vou fazer o que vocês querem.
Pisei consistente na calçada, olhando em volta em sinal de qualquer táxi, acenando e entrando no carro.
Não sabia onde era que estava acontecendo o Inferno Eve, e também não achei um propósito para ir.
Mas eu vou de qualquer forma.
Eu senti o cheiro dele, ele estava lá. Zaiden Bradford estava na escola.
— Para Frostveil Forest, por favor.
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Depths
FanfictionVerena Price era uma aluna quieta e exemplar, com poucos amigos, entretanto, ela sempre esteve de olho em um veterano, três anos mais velho do que ela, ele era um jogador de basquete, conhecido por sua habilidade e beleza. Zaiden Bradford virou um o...