Revisado
(__p.o.v - Jack Sparrow__)Enquanto permaneço sentado na cela, um guarda passa arrastando consigo James, que parecia ligeiramente perturbado. Minha curiosidade foi aguçada, então silenciei meus pensamentos e escutei a conversa.
— Então, a senhorita Daena está realmente prometida ao próximo imperador? — perguntou o guarda, incrédulo, sua voz carregada de surpresa.
— Parece que sim — respondeu James, sua voz mais baixa, quase um murmúrio, como se a verdade lhe pesasse na alma. — Pelo que testemunhei com meus próprios olhos, ela recebeu a proposta antes e aceitou durante a celebração de seu aniversário... que, coincidentemente, é hoje.
— Então, ela se vai mesmo... — o guarda murmurou, sua tristeza palpável, como se até ele sentisse a perda que se aproximava.
James suspirou profundamente, assentindo em silêncio antes de seguirem adiante, os passos deles ecoando pelos corredores frios.
Fechei os olhos, o peso da verdade finalmente pousando sobre meu coração. Amanhã, Daena partiria para sempre, e mais do que isso — ela seria esposa de um imperador. A dor dessa revelação era um golpe profundo, uma dor que eu não sabia como suportar. O chão de pedra fria sob mim parecia mais acolhedor que a realidade que me cercava.
Enquanto me afundava em minha própria angústia, uma melodia suave alcançou meus ouvidos, deslizando pelo ar como uma brisa leve. Meu corpo, tenso e desesperado, começou a relaxar, e então, aquela voz... Ah, aquela voz inconfundível, que eu reconheceria em qualquer lugar.
— O grande Jack Sparrow, jogado no chão, tomado pela tristeza por minha partida? — a voz brincalhona e doce de Daena ecoou, arrancando de mim um sorriso involuntário.
Abri os olhos lentamente e lá estava ela, resplandecente em um vestido dourado com detalhes brancos. Seus cabelos, primorosamente trançados em uma coroa, e os lábios tingidos de um vermelho sutil davam-lhe a aparência de uma verdadeira rainha. Não, mais do que isso... de uma divindade.
Fiquei em silêncio por alguns momentos, apenas admirando-a, permitindo que a visão dela impregnasse meu ser antes que finalmente encontrasse as palavras.
— Não, minha maruja — disse eu com uma leve ironia, tentando disfarçar o turbilhão de emoções que me assolavam. — Apenas surpreso que tu vais te casar com o próximo imperador. — Minha voz estava controlada, mas mal consegui conter o desejo de puxá-la para meus braços e tirá-la dali, para longe de tudo isso.
O que eu não queria admitir, nem mesmo a mim mesmo, era o quanto me doía vê-la ir. O quanto eu desejava, ardentemente, implorar que ela abandonasse tudo e fugisse comigo, para os confins do mundo, onde nenhum trono, nenhum imperador pudesse nos alcançar. Mas sou um pirata, não um mendigo que rasteja por algo. E, contudo, por Daena, eu me ajoelharia, imploraria se preciso fosse.
Ela sorriu de leve, como se soubesse o que se passava em minha mente, mas nada disse. Apenas ficou ali, uma visão perfeita de tudo o que eu sempre quis e que, em breve, perderia para sempre.
Daena continuou a me observar com aquele olhar sereno, como se soubesse exatamente o que estava passando por minha cabeça, mas optasse por não tocar nesse assunto tão doloroso. Sua presença iluminava a cela, e por um momento, esqueci o peso de minhas correntes e da miséria que nos cercava. No entanto, não pude evitar o aperto em meu peito. A ideia de perdê-la para o imperador, de vê-la ao lado de outro homem, era algo que me consumia de dentro para fora.
Ela se aproximou lentamente, suas mãos delicadas tocando as barras da cela, seus olhos fixos nos meus. Havia uma tristeza ali, oculta nas profundezas de seu olhar, como se, apesar de sua decisão, algo dentro dela estivesse desmoronando.
— E você, Jack? — perguntou ela suavemente, sua voz quase um sussurro, como se estivesse temendo a resposta. — O que vai fazer agora? Vai continuar com sua vida de aventuras, como se nada tivesse mudado?
Eu desviei o olhar, incapaz de suportar a dor que suas palavras me traziam. Como poderia continuar, sabendo que ela estaria em algum palácio distante, ao lado de um homem que jamais poderia amá-la como eu? Como poderia seguir com a vida de sempre, com o mar vasto à minha frente, mas sem o único tesouro que realmente importava?
— A vida de um pirata não permite muitas pausas, minha querida — respondi, tentando mascarar meus sentimentos com a mesma bravata de sempre, mas minha voz soou mais amarga do que eu pretendia. — Continuo navegando, fugindo das garras da lei, procurando o próximo grande saque.
Ela sorriu de leve, mas seus olhos traíam a dor que ela tentava esconder. Por um breve momento, o silêncio entre nós foi mais eloquente do que qualquer palavra que pudesse ser dita.
— Jack... — começou ela, sua voz agora mais firme. — Eu nunca quis que isso acontecesse. Não escolhi o imperador por vontade própria. — Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela rapidamente as conteve, como a dama forte e corajosa que sempre foi. — Mas há coisas maiores que nós, forças que não podemos controlar.
Eu apertei as barras da cela com força, o metal frio mordendo a pele de minhas mãos. Como eu queria, naquele momento, arrancá-la dali, levá-la comigo para o mar aberto, onde poderíamos ser livres. Mas sabia, no fundo, que o mundo em que vivíamos não permitia finais felizes para pessoas como eu.
— Forças que não podemos controlar? — repliquei com amargura, rindo sem humor. — Maruja, eu passei a vida inteira escapando dessas forças, desafiando-as. E por que agora, justo agora, deveria aceitá-las?
Ela se ajoelhou na frente da cela, seus dedos trêmulos roçando minha mão através das barras. Seu toque era suave.
— Porque, às vezes, Jack — ela sussurrou, seu olhar fixo no meu —, fugir não é suficiente. E, por mais que queiramos, há destinos que não podemos evitar.
Seu toque fez com que meu coração vacilasse, mas eu não podia ceder. O desejo de implorar, de gritar, estava preso na minha garganta, mas as palavras não saíam. Não queria ser o homem que a prendesse, mas não sabia como ser o homem que a deixaria ir.
— Promete que não vai me esquecer? — perguntei finalmente, a voz quase sumindo. Era uma súplica, e eu odiava a vulnerabilidade que isso trazia, mas era tudo que me restava.
Ela sorriu com tristeza, inclinando-se para tocar levemente minha face entre as barras.
— Jack Sparrow, como eu poderia? — disse, e antes que eu pudesse responder, ela se levantou e começou a se afastar, deixando-me, mais uma vez, sozinho com minha própria dor.
﹉
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O mistério do Oceano - Jack Sparrow
FanficUma lenda dizia que Davy Jones e a Rainha Mãe das sereias tiveram um breve romance, que resultou na gravidez da rainha. Dessa união nasceu uma linda garota, cuja beleza e poderes eram tão extraordinários que poderia ser considerada uma deusa.