Areia e Sangue.

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A noite no deserto era fria e silenciosa, e o único som era o vento arrastando a areia. Em um laboratório pequeno e escuro, iluminado apenas por uma vela trêmula, um homem de jaleco branco trabalhava freneticamente, movendo-se entre frascos com soluções químicas coloridas. Seu nome era Dr. Vander Salazar, chefe de química, e naquela noite, sua vida e a de seus filhos dependiam de seus experimentos.

"Vamos lá, essa é a minha última chance!" ele pensou, as mãos tremendo enquanto tentava misturar uma substância azul. O suor escorria por sua testa, mas falhar não era uma opção. Ele olhou rapidamente pela janela e viu uma criatura monstruosa lá fora, com olhos azuis que brilhavam como lanternas no meio da escuridão.

Seu coração disparou. Temendo ser notado, ele cobriu a boca com a mão e prendeu a respiração. No entanto, as crianças - Laura e Mike, cobertas apenas por trapos - não paravam de chorar. Ele correu até elas, tentando desesperadamente acalmá-las. Em um momento de pânico, cobriu a boca de um dos bebês, mas quando retirou a mão, um grito agudo e desesperado ecoou pelo laboratório, cortando o silêncio da noite.

O choro atraiu a criatura, que avançou em direção à porta, como se tivesse farejado o medo no ar. Salazar sabia que precisava agir rápido. Com mãos trêmulas, pegou um frasco contendo um líquido desconhecido. Sem tempo para hesitar, jogou o conteúdo na boca da criatura. Ela engoliu vorazmente, e logo começou a convulsionar no chão, seus gritos sendo abafados por espasmos violentos.

No entanto, antes que pudesse se afastar, a criatura o agarrou com suas garras afiadas, perfurando seu abdômen. O sangue de Salazar jorrou por todos os lados, tingindo de vermelho o chão e os trapos que cobriam seus filhos. Com um último olhar desesperado, ele viu a criatura se contorcer e, lentamente, tomar a forma de um homem, caindo imóvel em uma poça de sangue negro.

_"Funcionou... Eu não acredito."_ O pensamento brilhou em sua mente antes que seu corpo caísse pesadamente no chão.

Mas não houve tempo para alívio. Um grito agudo o fez voltar os olhos para os bebês. Laura estava encharcada do sangue negro e azul radioativo do monstro, seus olhos revirados, e Mike sufocava, o líquido escorrendo por suas narinas e boca. Salazar se arrastou até eles, tentando limpar o sangue viscoso com as próprias mãos, mas o líquido parecia estar entranhado em suas peles.

Em um ato de desespero, Salazar sugou o sangue do nariz de Mike. Para sua surpresa, a criança gritou, como se o peso da morte tivesse sido arrancado de seus pulmões. Ele repetiu o mesmo gesto com Laura e, lentamente, as crianças começaram a respirar mais tranquilamente.

_"Não é possível que vocês também se vão comigo... Não agora..."_ murmurou, enquanto as lágrimas desciam por seu rosto sujo de sangue.

_Waaaa!

O grito agoniado do homem ecoou no laboratório destruído. Dr. Salazar, um adulto acostumado ao rigor da ciência, chorava como uma criança.

Fez curativos improvisados no ombro, usando trapos rasgados de seu jaleco. No entanto, a dor em seu abdômen era insuportável. Sentia a rigidez se espalhando por seu corpo, e sabia que fora atingido no fígado. Não lhe restava muito tempo.

_"Eu tenho apenas duas horas de vida. Preciso encontrar alguém que possa cuidar deles... e rápido,"_ pensou, lutando para manter a consciência.

_"Vou morrer. Isso não tem mais jeito. Mas preciso deixar as crianças a salvo. Se eu não conseguir... nunca me perdoarei por morrer aqui."_

Dr. Salazar se levantou com dificuldade, pegando Laura e Mike nos braços, e começou a correr pelo deserto sem rumo. A cada passo, o sangue escorria de suas feridas, marcando o solo com rastros vermelhos. Ele não sabia quanto tempo ainda lhe restava, mas estava determinado a garantir que seus filhos sobrevivessem, mesmo que sua própria vida se extinguisse no meio da areia fria e solitária do deserto.

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