Capítulo 20 Não sinto mais vontade de viver

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O som do motor rugiu suavemente quando Rick girou a chave, e o carro se afastou da calçada

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O som do motor rugiu suavemente quando Rick girou a chave, e o carro se afastou da calçada. Even, no banco do passageiro, mantinha o olhar perdido para fora da janela, observando as ruas passarem como um borrão. A cidade estava tranquila, o céu cinza tingido por nuvens carregadas, prenunciando uma chuva iminente. Aquele silêncio, embora confortável para alguns, parecia carregar uma carga palpável entre eles.

Rick lançou um olhar discreto para ela, a mente trabalhando para encontrar uma maneira de quebrar o gelo. Ele sabia que a presença dela ali, no carro, era um pequeno milagre. Ela sempre mantinha uma distância cautelosa, preferindo ficar à margem das interações.

— Eu estava pensando… — começou ele, tomando cuidado com as palavras. — Quando você recuperar sua memória por completo, talvez a outra versão de você, a que você conhecia antes de tudo isso… — Ele hesitou, buscando a reação dela. — Talvez ela possa voltar a viver como antes.

Por um momento, o ar pareceu congelar. Even ficou completamente imóvel, como se cada músculo dela tivesse paralisado com aquela frase. Quando ela finalmente virou o rosto para ele, Rick quase se arrependeu de ter falado. Os olhos dela não eram mais o azul sereno que ele conhecia. Agora, o vermelho vibrante que surgia sempre que ela era confrontada com algo mais profundo e doloroso cintilava em suas íris, como duas brasas vivas prestes a incendiar.

— Você nunca vai entender, Rick — disse ela, o tom carregado de uma exaustão silenciosa. — Você nunca vai entender como é… sentir tudo. Todas as emoções das pessoas à sua volta. Sentir suas almas queimando de medo, raiva, tristeza… e simplesmente não conseguir se conectar com nada disso. Como se eu estivesse do lado de fora, observando. — Ela deu uma risada amarga. — Vendo o mundo passar, mas nunca realmente fazendo parte dele.

Rick a observou com atenção, as sobrancelhas franzidas em uma mistura de compreensão e tristeza. Ele sabia que não era fácil para ela falar desse jeito, que cada palavra era um peso que ela tentava tirar de cima dos ombros, mas que sempre voltava a recair sobre si.

— Então, por isso você prefere se manter oculta? — perguntou suavemente, mantendo os olhos na estrada para não pressioná-la com seu olhar. — Porque não sente essa… vontade de viver que a Even sente?

Ela soltou um suspiro longo, encostando a cabeça no vidro da janela. Ela parecia distante, perdida em pensamentos que talvez nem mesmo ela conseguisse colocar em ordem.

— É mais do que isso — murmurou. — É como se eu soubesse que, por mais que eu tente… nunca vou sentir da mesma forma que a outra sente. Mesmo vendo tudo, até as nuances mais profundas da alma, eu simplesmente não consigo me conectar. E é por isso que eu prefiro não estar no controle. — Ela pausou, olhando para as próprias mãos, como se esperasse ver algo ali que não existia. — Porque, no fundo, estar no controle só me faz perceber o quanto sou… incompleta. Eu posso lutar, destruir, mas não posso… viver.

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