A escuridão envolvia meu ser, como se eu estivesse submersa em um oceano de sombras. No recanto mais profundo do meu pesadelo, vi Jeremy. Ele estava exatamente como o lembrava: cabelos claros bagunçados, olhos brilhantes que pareciam envolver o mundo em seu calor. Mas havia algo nos seus olhos que não estava certo. Uma tristeza, um abismo que eu não conseguia compreender.
- Helena, precisamos descobrir a verdade - ele disse, a voz carregada de uma urgência que me fez estremecer. - Eles estão mais perto do que pensamos.
Lembrei-me dos desaparecimentos que assolavam a Universidade de Miskatonic, segredos escuros que nos cercavam. Estávamos à beira de desvendar algo monumental, uma pista que poderia nos levar ao coração do culto que se escondia nas sombras. Mas o que o havia levado a mim, a este pesadelo? A sua imagem me parecia tão etérea quanto a luz de uma vela prestes a se apagar.
- O que aconteceu com você? - perguntei, mas as palavras pareciam ressoar em um vácuo, perdidas na névoa espessa que se erguia ao nosso redor.
Ele me apontou algo atrás de mim, mas quando me virei, vi apenas a escuridão, um sussurro de risadas distorcidas flutuando no ar. A distância entre nós se expandia, como se uma força incompreensível estivesse tentando nos separar. Então, entre a bruma, uma silhueta inominável começou a emergir, seus contornos vagos e nebulosos. Era como se um manto amarelo se contorcesse, como a sombra do que poderia ser o Rei. O medo se aninhava em meu estômago, formalizando a solidão que sentia em minha busca.
- Não podemos ignorar o chamado do Rei - a voz de Jeremy agora soava distante, como se estivesse sendo puxada de um buraco negro. Sua figura começou a desvanecer, e meu desespero se intensificou.
- Jeremy! - gritei, mas a palavra se perdeu, dissolvendo-se na névoa interna do meu pesadelo.
Então, a escuridão se fechou sobre mim, e tudo o que restou foi um silêncio profundo.
---
Acordei de um sobressalto, o sofá em que havia adormecido estava coberto de pequenos traumas da noite: minhas roupas amassadas, os cabelos emaranhados. O lugar estava mergulhado na luz suave do amanhecer, e a familiaridade dessa casa era um pequeno alívio contra a sensação de pânico que ainda reverberava em meu coração.
Buscando trazer algum sentido ao que havia sonhado, levantei-me e caminhei silenciosamente pelo corredor até a cozinha. O cheiro do café recém-passado pairava no ar, prometendo alívio.
A porta estava entreaberta, e eu os vi. Rech, com seu cabelo escuro e olhar intenso, parecia concentrado em sua conversa com Klein. O semblante de Klein estava sério, percebi um traço de raiva em seu rosto, como se algo o incomodasse profundamente.
- Você deveria saber que ela está tão perdida quanto nós, Rech. - A voz de Klein estava alta e dura. Não consegui ouvir a resposta de Rech, mas seu tom sugeria uma defesa. Algo em meu peito apertou ao perceber que eles estavam discutindo sobre mim.
Conscientemente, entrei na cozinha. Ambos se viraram na minha direção, e a atmosfera densificou. Klein me observava com uma mistura de preocupação e suspeita, seus olhos avaliando minha presença.
- Helena, você realmente vai nos ajudar com isso? - perguntou ele, seus traços se endurecendo. - Podemos confiar em você?
Um nó se formou na minha garganta. Eu sabia que não poderia recuar. Hanz, o paciente que eu atendera, meu amigo, havia sido assassinado, e a dor de sua perda ainda estava fresca em minha mente. Precisávamos desenterrar a verdade, independentemente do custo.
- Precisamos falar sobre Auschwitz - eu disse, as palavras saindo com uma firmeza que mal senti brotar de mim. A expressão de Klein se alterou, a realidade do que eu estava sugerindo navegando entre nós como uma sombra. Esta não seria uma conversa fácil.
O silêncio que se seguiu era denso, mas as memórias de Jeremy e a escuridão que rondava a Universidade de Miskatonic não me permitindo sair em paz.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Gritos de Helena
ParanormalA história é baseada nos contos de H.P. Lovecraft e de Edgar Allan Poe, nesse primeiro conto vamos conhecer Helena Boushierd, uma psicóloga de 30 anos que teve sua vida bagunçada graças a forças maiores que ela nem ao menos conhece.