O Legado

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As figuras encapuzadas pareciam dançar nas sombras, movendo-se com uma graça inquietante. Meu peito acelerou enquanto tentava discernir suas intenções. A biblioteca, que deveria ser um refúgio de conhecimento, transformou-se em um labirinto de incertezas. Klein estava tenso ao meu lado, e Rech, por algum motivo, manifestava uma calma estranha.

— O que vocês querem? — Klein repetiu, mas sua voz soava mais como um aviso do que uma pergunta.

As sombras pararam a poucos metros de nós, e uma das figuras levantou lentamente a cabeça, revelando um rosto pálido e cansado, os olhos profundos como se carregassem o peso de um segredo.

— Nós sabemos o que vocês estão procurando — a voz era suave, quase sussurrante, mas havia uma firmeza inquietante por trás dela. — O conhecimento sempre teve um preço.

Rech deu um passo à frente, a determinação se firmando em sua postura. — Estamos dispostos a pagar o preço. Apenas queremos a verdade.

A figura que falava trocou um olhar com a outra, um entendimento silencioso que me deixou ansiosa. O clima de tensão era palpável, e a energia ao nosso redor parecia pulsar em um ritmo frenético.

— A verdade? — repetiu a figura, quase rindo. — A verdade é uma arma de dois gumes. Às vezes, é mais segura em sua ignorância.

Com um movimento sutil, a outra figura começou a se aproximar, a capa arrastando no chão silenciosamente, enquanto eu tentava me manter calma, avaliando a situação. A última coisa que eu queria era um confronto, mas a arrogância das palavras disparadas pela figura me deixou na defensiva.

— O que exatamente você sabe? — fui eu quem quebrou o silêncio, falando de forma direta. Havia um impulso dentro de mim, uma necessidade de perceber a situação completamente.

— Sabemos quem Hanz era, e quem ele se tornou — a figura disse, suas palavras cortantes como uma lâmina. — Estudamos os rituais que ele preconizava, e sabemos, também, que você, Helena, carrega um legado que pode ser a chave para você entender a conexão entre o passado e o presente.

Uma onda de confusão me atingiu. O que eles queriam dizer com “legado”? O que Hanz tinha a ver comigo? Eu ansiava por respostas, mas a maneira como eles se comportavam tornava tudo muito perigoso.

— Chega de enigmas — Klein murmurou, impaciente. — Se você tem algo a nos oferecer, faça-o de uma vez. Se não, é melhor que você suma.

As figuras hesitaram, como se pensassem em um futuro bem mais sombrio. Por um instante, o silêncio foi envolto em mistério e tensão.

— Muito bem — finalmente, a figura que falava deu um passo à frente. — Se querem a verdade, devem estar prontos para enfrentar a escuridão que ela traz.

O coração me acelerou, e um frio percorreu minha espinha. Não havia como voltar atrás; nós não podíamos dar um passo para trás agora. Impulsionados por um senso de curiosidade e desespero, concordamos com um aceno de cabeça.

— Então, digam-nos. O que é esta verdade? — eu pedi, com uma voz mais firme do que me senti.

A figura então se aproximou ainda mais, quase colando seu rosto ao meu, e com um brilho sinistro nos olhos, murmurou:

— O que você vai descobrir vai mudar tudo. Hanz não era apenas um homem; ele era um canal para forças que não compreendemos. O “deus primordial” que vocês mencionaram... ele está mais próximo do que imaginam. E seu despertar pode estar mais iminente do que vocês acreditam.

Os ecos de suas palavras reverberaram na biblioteca silenciosa como um aviso. O ar ao nosso redor pesava, carregando uma ameaça velada. O que começara como uma busca por conhecimento estava se transformando em algo muito mais aterrorizante, e o futuro, que já era incerto, agora parecia um abismo repleto de escuridão.

Mas era tarde para recuar. A única estrada à frente era aquela onde a verdade se entrelaçava com o medo, e nós estávamos prestes a embarcar na jornada mais sombria de nossas vidas.

Os Gritos de HelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora