Capítulo 7 - Conforto

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O festival de Willow Creek, que já perdia o brilho enquanto as luzes se apagavam uma a uma, parecia refletir a atmosfera dentro de Miranda. O cansaço era mais do que físico — era um fardo emocional. Ela observou as gêmeas, Cassidy e Caroline, e Andrea juntas, como sempre. A leveza que Andrea trazia para suas filhas a fazia sentir uma mistura de alívio e inquietude. Havia uma liberdade entre elas que não existia em sua relação com as meninas, e isso a perturbava de uma forma que não queria reconhecer.

— Vou ao banheiro. Fiquem perto de Andrea e não saiam do lugar. — Sua voz saiu com uma firmeza automática, um hábito que ela nem percebia.

As meninas assentiram distraidamente, ocupadas demais em mostrar a última pelúcia que Andrea havia ganho para elas.

Caroline e Cassidy aproveitaram o breve afastamento da mãe para se aproximar mais de Andrea, como sempre faziam. Elas adoravam a presença da morena — ela trazia uma leveza que não encontravam na rotina entre os pais. Andrea, que já estava sentada em um banco de madeira, as recebeu com um sorriso aberto, relaxada.

— Vocês ainda têm energia pra continuar? — perguntou Andrea, rindo, enquanto as duas sentavam ao seu lado.

— Sempre temos energia pra mais um pouco, — disse Caroline, com um brilho no olhar.

Cassidy, no entanto, parecia pensativa, seu sorriso murchando aos poucos enquanto olhava para a praça quase vazia. Ela soltou um suspiro leve antes de falar.

— A gente gosta de ficar com você, Andrea. — A voz dela era mais séria do que de costume, o que fez Andrea olhar para ela com atenção.

— Ah, é? Por que isso? — Andrea perguntou, sem perder o tom leve, mas percebendo que havia algo mais profundo naquelas palavras.

Cassidy trocou um olhar com Caroline antes de continuar, como se estivesse confirmando com a irmã que estava tudo bem em dizer o que estava sentindo.

— Porque... quando estamos com você, as coisas são sempre divertidas. Você faz tudo parecer fácil. — Ela deu uma pausa, mordendo o lábio. — A gente se sente... feliz.

Caroline concordou silenciosamente, olhando para Andrea com olhos cheios de admiração.

— Com você, não tem briga. — Caroline murmurou, a voz suave. — Não tem silêncio esquisito.

Andrea, que até então mantinha o sorriso, começou a perceber a profundidade das palavras delas. O que parecia ser uma simples noite de diversão revelava algo muito maior: a tensão que as meninas enfrentavam em casa. Ela endireitou a postura no banco, mas manteve a voz suave, sem querer apressar o momento.

— Brigas? Como assim? — Andrea perguntou, já sabendo o que as meninas iriam dizer, mas querendo dar espaço para que elas expressassem o que sentiam.

Cassidy suspirou novamente, seu rosto jovem carregando uma seriedade que era quase desconcertante para alguém tão nova.

— Nossos pais, — ela começou, com uma hesitação. — Eles brigam o tempo todo. Às vezes eles fingem que está tudo bem quando estamos por perto, mas dá pra sentir. Dá pra ouvir. E a gente... a gente não aguenta mais isso.

Caroline, que sempre tentava ser mais forte, abaixou a cabeça. Suas pequenas mãos estavam apertadas no colo, e por um segundo, Andrea pôde ver como aquele fardo pesava sobre as duas.

— Eles brigam por tudo. Papai tenta fazer a mamãe rir, mas ela nunca acha graça. E quando ele não consegue... — Caroline parou, tentando encontrar as palavras certas. — Ele desiste. E aí ela fica ainda mais brava.

Andrea ficou em silêncio por um momento, observando-as. Havia algo tão doloroso naquelas confissões inocentes que a fez refletir sobre o peso que as meninas carregavam.

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