Capítulo 8 - Confronto

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Assim que Miranda entrou no hotel, o ambiente sereno da noite se desfez. As paredes de madeira clara, que costumavam oferecer conforto e uma sensação acolhedora, agora pareciam apertar à medida que ela encarava a figura imóvel de James. Ele estava parado perto da lareira acesa, com os braços cruzados e o olhar pesado, como se a cada segundo fosse explodir em palavras amargas. O crepitar das chamas iluminava o rosto dele, onde a fúria se misturava com uma mágoa antiga, escondida atrás de uma expressão de puro desdém.

As gêmeas, Caroline e Cassidy, assim que viram o pai com aquela postura, trocaram olhares cúmplices e, sem dizer uma palavra, subiram as escadas rapidamente. Elas sabiam o que viria a seguir. Há muito tempo, os desentendimentos entre os pais se tornaram frequentes, como tempestades inesperadas que surgiam no horizonte sem aviso. Sabendo disso, as duas preferiram se esconder no quarto, como se suas presenças pudessem acalmar a explosão iminente.

Miranda fechou a porta atrás de si, o som suave da madeira se encaixando no batente contrastando com a tensão crescente no ambiente. Ela tentou respirar fundo, reunir a calma que sabia que precisaria, mas cada movimento de James, imóvel e carrancudo, fazia seu estômago revirar. Sabia que ele iria atacá-la com suas palavras afiadas, que mais pareciam facas prontas para cortar sua paciência.

— Então, agora precisa de uma escolta? — a voz dele soou baixa, quase um sussurro, mas o sarcasmo pingava de cada sílaba. — Andrea tem que fazer o que eu deveria fazer? O que você precisa que eu faça, Miranda?

Miranda pausou, a mão ainda no trinco da porta. Seus músculos enrijeceram, e ela sentiu a raiva brotar devagar, subindo como uma maré lenta, mas inevitável. Tentou controlar o tom antes de responder, mantendo uma serenidade que ele claramente não tinha.

— Não comece com isso, James. Andrea foi apenas gentil. As meninas gostam dela, e ela só estava sendo prestativa, — respondeu, tentando soar calma, mas as palavras saíram mais duras do que pretendia.

James deu uma risada seca, sem qualquer vestígio de humor. Caminhou até a mesa do outro lado da sala, onde uma taça de vinho tinto já o aguardava. Pegou a taça e a girou lentamente nas mãos, como se estivesse ponderando sobre o peso da próxima acusação.

— Claro, claro. As meninas adoram Andrea. — Ele deu um longo gole, seus olhos fixos nos dela, carregados de algo que Miranda não gostava de ver. — Todo mundo adora Andrea, não é? Mas e você, hein? Você também está adorando Andrea agora, Miranda?

Ela sentiu o sangue ferver. Aquilo era baixo, mesmo para ele. Estava sendo confrontada com uma insinuação patética, algo que ela jamais esperaria sair da boca do homem com quem se casou.

— Não seja ridículo, James, — respondeu ela, agora mais firme, as palavras saindo rápidas. — Andrea tem estado mais presente para as meninas do que você. Elas precisam de alguém, já que você está sempre fora ou se escondendo atrás dessa sua máscara de pai perfeito. Talvez você devesse pensar em ser mais presente antes de jogar suas inseguranças em cima de mim.

A raiva dele transpareceu no aperto que deu na taça de vinho. Miranda viu os nós dos dedos dele esbranquiçarem, como se ele estivesse à beira de quebrá-la ali mesmo. Por um segundo, pensou que ele realmente fosse jogar o copo contra a parede.

— Ah, claro, sou eu o problema, não é? — A voz de James ficou mais alta, e a frustração transbordava em seus gestos descontrolados. Ele largou a taça bruscamente sobre a mesa, o vinho quase transbordando. — Eu sou o pai ausente, o que não faz nada certo. Porque, claro, tudo tem que girar ao redor da gloriosa Miranda, não é? Tudo tem que ser do seu jeito!

Miranda deu um passo à frente, sentindo o rosto esquentar com a raiva. Ela sempre foi uma mulher controlada, mas ele estava indo longe demais. A cena estava se desdobrando como tantas outras, mas desta vez, parecia que ele cruzava novas fronteiras.

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