Capítulo 6

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No dia seguinte, Nathan decidiu que seria hora de tentar algo mais prático. O exercício com os pingos de água, apesar de sua aparente simplicidade, não estava surtindo o efeito desejado em mim. Talvez fosse minha impaciência, ou talvez a técnica estivesse além da minha compreensão naquele momento. De qualquer forma, eu não havia aprendido nada significativo com aquilo. Nathan, percebendo minha frustração crescente, decidiu variar o treinamento.

Ele se aproveitou da decadência das celas ao nosso redor. As portas de madeira, já velhas e apodrecidas pela umidade constante da prisão, ofereciam o material perfeito para sua ideia.

Com paciência, ele começou a forçar alguns pedaços de madeira solta até que, finalmente, conseguiu arrancar duas ripas que nos serviriam como espadas improvisadas.

— Vamos lá, garoto — disse ele, me entregando uma das ripas, que tinha o comprimento de uma pequena espada. — Esgrima é tão mental quanto física. Você acha que está pronto?

Eu, no início, me sentia confiante. Afinal, já tinha visto esgrima antes, e na minha mente aquilo parecia algo que eu poderia dominar rapidamente. Pus-me em posição, tentando imitar os duelistas que havia assistido de longe em tempos melhores. Meus pés ligeiramente afastados, a madeira empunhada com força na minha mão, senti que aquele momento poderia ser a virada de meu destino.

Mas, como tantas outras vezes, a realidade foi uma decepção.

O primeiro golpe de Nathan foi rápido, quase imperceptível, um estalo seco que se chocou contra minha costela antes que eu pudesse reagir. O impacto me tirou o fôlego, e quase deixei escapar um grito de dor.

— Ouch...

Nathan apenas riu, balançando a cabeça, seus olhos brilharam com algo entre diversão e paciência. Ele apontou para mim com sua espada improvisada e fez um gesto silencioso para que eu ficasse quieto.

— Shii... — advertiu ele, levando um dedo aos lábios, como se o som de minha dor pudesse atrair a atenção dos guardas. — Aqui não é lugar pra princesa chorona. Levanta essa espada de novo.

Ainda respirando fundo, tentei me recompor. Nathan deu alguns passos à minha volta, examinando minha postura. Ele sabia que eu estava lutando contra o desânimo e a dor, mas não demonstrava compaixão. Para ele, isso fazia parte do processo. Mais um passo para o que ele chamava de "forjar o espírito".

— Está abrindo muito — disse ele, criticando minha postura com um toque quase carinhoso no meu ombro, que na verdade era um empurrão forte o suficiente para me desequilibrar. — O tempo de recuperação da sua guarda é ridículo. Mais compacto. Mais eficiente.

Eu ajustei minha posição, mantendo meus pés mais firmes no chão de pedra e tentando absorver o que ele dizia. Sentia a madeira na mão, áspera e irregular, o peso distribuído de forma desigual, mas, ainda assim, era o que tínhamos. Meus pensamentos corriam em direção ao desespero, mas eu os forcei de volta. Foco. Era isso que Nathan sempre repetia.

— Vamos de novo — ele ordenou.

Mais uma vez, ele atacou. Dessa vez, previ o movimento. Ou assim pensei. Consegui levantar a espada a tempo de bloquear o golpe... quase. O pedaço de madeira dele bateu contra a minha, fazendo um ruído seco, mas a força do impacto fez meus braços cederem. Antes que eu percebesse, Nathan havia se reposicionado, deslizando ao redor do meu corpo com a agilidade de alguém que já tinha praticado isso milhares de vezes. Senti outro golpe, dessa vez na lateral do meu ombro.

— Ouch!

— O que é você, uma garotinha ? — Nathan zombou, com um sorriso satisfeito no rosto. —

Honra: A História Do Primeiro GuardiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora