Capítulo 9

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Passos*Passos*

— Já é noite, velho. Hora de comer. — O guarda falou, batendo impaciente na porta da cela.

Sem resposta, ele franziu o cenho e deu mais algumas batidas, agora com irritação.

— Cadê o prato, velho...? Ei, está me ouvindo? — O guarda insistiu, inclinando-se para espiar pela pequena abertura da porta, onde normalmente colocava a comida.

O que viu o fez recuar por um instante, os olhos arregalados de surpresa.

— Maldição... — murmurou incrédulo.

Ele se afastou rapidamente, chamando por um dos outros guardas no corredor.

— Ei! Temos um problema! — Sua voz ecoou nas paredes da prisão.

O segundo guarda se aproximou, um tanto desinteressado. — O que foi? Ele está sempre acordado...

Quando abriram a porta ficaram deparados com a seguinte cena em suas frentes.

— É a primeira vez que ele não diz "obrigado" em, o quê? Trinta anos, talvez mais? — O primeiro guarda respondeu, a incredulidade ainda evidente.

O terceiro guarda, o mais velho, se aproximou, olhando com uma mistura de decepção e indiferença.

— Morto. — Ele constatou, como se o fato fosse uma inevitabilidade já esperada.

— Como? — O segundo guarda perguntou, agora mostrando algum interesse e até mesmo duvida.

— Parece que caiu da cama. — O primeiro guarda respondeu secamente, tentando justificar o óbvio.

— Ele está meio sujo, não acha? — Comentou o segundo guarda, observando o corpo do prisioneiro a sua frente.

— O que você esperava, depois de trinta anos sem um banho? — O guarda mais velho respondeu com um tom quase sarcástico, a rotina de décadas de trabalho na prisão havia apagando qualquer empatia que ele pudesse ter.

— Vamos, me ajude a colocá-lo no saco. Depois falamos com o carcereiro. — O primeiro guarda ordenou, cansado da cena.

— Um... dois... três! — Com esforço, os guardas levantaram o corpo frágil de Nathanael e o colocaram no saco de lona.

— Acabou. Vamos logo com isso. — Disse o terceiro guarda, ansioso para terminar o serviço.

O segundo guarda hesitou por um momento ao trancar a cela novamente, apesar de saber que não havia necessidade.

— Huh? Por que está trancando? Acha que ele vai se levantar e fugir? — O segundo guarda perguntou com uma risada amarga.

— Força do hábito, eu acho. — O mais velho respondeu, devolvendo o gesto com um sorriso cansado.

Todos riram brevemente, um vento frio e vazio que ecoou no corredor escuro depois que eles saíram da li.

Assim que os guardas se afastaram, a cela caiu no mais profundo silêncio. Foi então que Varian, até então imóvel, finalmente se mexeu levantando o fundo falso de pedra da prisão de Nathan no canto da cela. Com cautela, ele abriu o saco onde o velho Nathanael havia sido colocado.

— Adeus, velho amigo... — murmurou, com a voz carregada de uma tristeza contida. — Você está livre agora... mais livre do que jamais estarei.

Honra: A História Do Primeiro GuardiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora