Capítulo 10

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Hanza, a capital do vasto Império, erguia-se majestosa às margens de um grande estreito que quase dividia o continente ao meio. Sua posição estratégica fazia dela um centro de comércio, cultura e poder. Ao chegar à cidade, o que primeiro chamava atenção eram suas imponentes muralhas, altas e intransponíveis, protegendo cada rua e cada casa dentro de seus limites por quase mil anos essas muralhas jamais cairão .

Torres de pedras circundavam as muralhas, sempre com guardas atentos. As ruas, pavimentadas com pedras antigas, ecoavam o som de passos apressados e o movimento incessante das carruagens, dando vida ao cenário vibrante.

No coração de Hanza, erguia-se a grande catedral, um monumento de fé e poder que dominava o horizonte. Com torres que rasgavam o céu, a catedral era um testemunho da devoção inabalável do Império. Suas cúpulas douradas brilhavam sob o sol, refletindo a luz como um farol espiritual. O som dos sinos ressoava por toda a cidade, chamando os fiéis para orar, e sua melodia ecoava pelas ruas, criando uma atmosfera de reverência que contrastava com o caos cotidiano.

As portas da catedral, enormes e decoradas com intrincados relevos de cenas divinas, eram constantemente abertas, permitindo a entrada de um fluxo interminável de pessoas. Peregrinos vindos de terras distantes, nobres do Império, e até mesmo soldados retornando da guerra vinham buscar as bênçãos dos deuses. A catedral não era apenas o maior templo da cidade; era o berço de toda a fé imperial, o lugar onde a religião havia dado seus primeiros passos.

O interior da catedral era ainda mais impressionante. A luz do sol penetrava pelos enormes vitrais coloridos, projetando figuras de santos, deuses e heróis lendários nas paredes de mármore branco. O chão era coberto por mosaicos detalhados, cada peça cuidadosamente colocada para formar cenas das escrituras sagradas. Altas colunas sustentavam o teto abobadado, decorado com afrescos retratando os deuses do panteão imperial, cada um com sua própria santidade e poder. O ar carregava o aroma suave do incenso, criando uma atmosfera de paz e contemplação.

No entanto, não era apenas o esplendor que definia aquela catedral. Havia também um mistério, um segredo que poucos conheciam. Além dos corredores repletos de altares e salões para os fiéis, existia uma área mais reservada, acessível apenas para os mais altos membros da hierarquia religiosa.

Após passar por uma série de quartos, gabinetes e corredores, havia um local escondido, protegido por guardas e trancas, onde ninguém, além de poucos escolhidos, podia entrar. Esse era o quarto da Santa.

Na tradição do Império, sempre havia um Santo ou Santa — uma figura nascida não por acaso, mas pela vontade de um deus. Esses indivíduos eram canais vivos da vontade divina, servindo como seus representantes na terra. Homens ou mulheres ocupavam esse papel ao longo dos séculos, cada um carregando o fardo e a glória de sua conexão com o divino, assim como suas responsabilidades.

Entre os muitos deuses venerados, o mais proeminente era a Deusa da Justiça e Virtude, "Astrea" era ela quem falava através da atual Santa.

Dentro de seu quarto isolado, a Santa não apenas dormia; ela sonhava. Seus sonhos, no entanto, não eram comuns. Eram visões enviadas pela Deusa, fragmentos de uma realidade espiritual que os mortais não podiam compreender completamente.

Naquele exato momento, a Santa viveu um desses sonhos. Ela via a imagem de um leão acorrentado dono de um olhar cruel nos olhos. A criatura feroz estava presa por grossas correntes, com cicatrizes profundas e feridas frescas espalhadas por seu corpo. A cada momento, algo o atingia, forçando-o a rugir em agonia.

Durante vários anos ela teve imagens desse sonho sem conseguir entender o que sua deusa dizia tudo oque poderia fazer era observar os sonhos, o leão permanece nesse estado de tormento, sua vida reduzida a sofrimento e dor. Mas, recentemente, algo mudou. Seus olhos, antes vacilantes, começaram a brilhar com uma nova vitalidade. A chama da esperança reacendeu-se em seu olhar.

E então, as correntes que o seguravam se partiram. Elas não apenas caíram ao chão; desintegraram-se no ar, como se jamais tivessem existido. O leão, agora livre, estava no topo de uma montanha, com o vento soprando contra seu rosto.

Ao longe, ele avistou uma ilha. Sem hesitar, o leão lançou-se no oceano, enfrentando as ondas ferozes que tentaram desviá-lo de seu caminho. A água o empurrava para todos os lados, desorientado-o, mas ele não parou. Mesmo quando parecia que o mar o venceria, o leão continuou. Finalmente, ao chegar às margens daquela ilha distante, o leão caiu exausto na praia. As ondas do mar, agora calmas, banhavam-no suavemente enquanto ele recuperava suas forças.

Mas, quando ela se aproximou, os olhos da fera se abriram abruptamente, a assustando e fazendo-a acordar em um sobressalto. Ela havia despertado forçosamente, uma intuição profunda a alertando de que algo importante aconteceria se não o fizesse. Sentada em sua cama, murmurou, tentando recordar o sonho.

— Que tipo de leão tem olhos azuis? — indagou, confusa.

Sua deusa parecia insistir em presenteá-la com sonhos estranhos. Por que não simplesmente falava o que desejava, ao invés de lançá-la nesse mar de mistérios? A "Santa" franziu as sobrancelhas, uma leve irritação em seu olhar. Os sonhos anteriores eram repletos de desastres e longas guerras, mas havia histórias sobre como, no passado, os santos recebiam sonhos que alertavam sobre uma raça chamada "Æther". Essa ideia nunca havia cruzado sua mente até então, mas o papa sempre a lembrava de que tudo era possível.

Refletindo sobre os "Æther", sua opinião era ambígua. Eram seres que a igreja caçava implacavelmente, independentemente de onde se escondessem. O motivo por trás disso era obscuro, mas dizia-se que essa raça tinha origem nos próprios demônios, criada para semear o caos no mundo.

É irônico pensar que, apesar da aversão da sua religião por essa raça, havia poucos tópicos que discutissem sua verdadeira natureza, como se alguém estivesse determinado a impedir que as pessoas conhecessem mais sobre elas.

— O que eu deveria fazer...? — murmurou a Santa para si mesma, enquanto os fios de seu cabelo branco caíam em seu rosto pálido.

Ela tentou se recordar de detalhes do sonho, como o desfiladeiro onde o leão se encontrava. Por algum motivo, aquele lugar parecia estranhamente familiar, como uma lembrança distante que a perseguia.

Mas ela então se lembrou dos olhos azuis do leão, se tivesse se esforçado um pouco qualquer um poderia ver que havia um pouco de verde neles. Mas exatamente aquilo que ela estava focada, "Ele me viu ?" por algum momento ela sentiu como se fosse o leão que a havia observado.

—Acho que vou ter que falar com o Vovô de novo sobre isso.... A "Santa" Resmungou novamente como se estivesse prestes a fazer birra.

Honra: A História Do Primeiro GuardiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora