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Eu acordei sentindo minha cabeça latejando mais do que tudo. Parecia que tinha dormido por bem mais do que uma hora.

Finney não estava ao meu lado.

Senti meu coração acelerar em preocupação, e me levantei do colchão em um sobressalto.

Uma sensação de alívio imediato invadiu meu peito quando vi que ele ainda estava ali, cavando aquele maldito buraco. Sem hesitar, o envolvi em um abraço por trás, o qual o deixou um pouco assustado pelo fato de ter sido repentino.

— Que bom... você ainda está aqui — sendo sincera, eu não queria soltá-lo... mas o fiz quando notei que Finney talvez estivesse com um pouco de falta de ar devido ao aperto — Por que... não me acordou? Acho que já passou bem mais do que sessenta minutos... está de noite.

— Você estava dormindo tão calmamente... eu não consegui te acordar... — coçou a nuca, meio constrangido.

E meu peito simplesmente... se aqueceu.

Finney... era repleto de bondade. Mesmo naquela situação, ele ainda se esforçava para que eu não entrasse em pânico.

E eu queria tanto retribuir... mas, a cada instante dentro daquele porão... um sentimento de incompetência ainda maior inundava meu ser.

Não tive tempo de falar mais nada para Finney, pois o som da porta rangendo ao ser aberta se fez presente no local. Lá estava o sequestrador, usando aquela máscara irritante e tentando agir como se não fosse a porra de um lixo humano.

— Fiz café da manhã — disse ele, segurando uma bandeja com omelete e refrigerante.

Só tinha um prato, assim como só tinha uma garrafa. Eu sabia o que aquilo significava: o plano dele era me deixar morrendo de fome, enquanto alimentava Finney e o mantinha sã e salvo para seja lá qual fosse seu plano seguinte.

— O que você botou aí? — Finney o encarou com suspeita.

— Sal... e pimenta — soltou uma risada baixa, se inclinando para depositar a bandeja no chão imundo — Aí aí... come, não come... você já tá aqui mesmo. Por que eu iria drogar você?

Saiu e fechou a porta, sem dizer mais nada. Eu não demorei muito para notar um pequeno detalhe: ele não havia realmente fechado a porta.

Ela estava entreaberta.

Me aproximei, com uma esperança crescente dominando cada parte de mim. Eu puxei a porta, vendo uma escada não tão grande à minha frente.

Estava prestes a dar um passo para fora, quando o telefone preto começou a tocar.

Dei um pulo de susto, mas retornei ao porão. Finney correu ao telefone, desesperado para atender.

— Alô.

— Não tentem subir — foi tudo o que a voz disse. Diferente da de Bruce, essa parecia de um garoto um pouco mais jovem.

— Por que não? — perguntei, franzindo o cenho.

— É uma armadilha — respondeu a criança do outro lado da linha.

— Você... é o Bruce? — Finney franziu o cenho levemente, notando a diferença na voz.

— Quem é Bruce?

— O que? Eu acabei de falar com o Bruce.

— Eu não conheço nenhum Bruce.

— Ele joga beisebol... jogava comigo.

— A gente não joga beisebol aqui.

— Quem é você, cara? — Peguei o telefone, um pouco impaciente com o rumo que aquela conversa estava tendo.

Quando me virei para o lado, vi um garoto à minha frente. Sua pele era pálida, e seu cabelo de tonalidade clara possuía um comprimento mediano. Seus olhos pareciam mórbidos, e uma grande ferida aberta escorria, manchando seu rosto e sua camisa com um sangue que já parecia estar ali há muito tempo.

Um berro alto escapou da minha garganta, e quase deixei o telefone cair. Finney o pegou antes que fosse tarde demais.

— Você não tá... vendo isso? — apontei.

— Não... o que você tá vendo? — Finney perguntou, confuso.

Apenas balancei a cabeça, numa tentativa de indicar que mais tarde eu explicaria melhor.

— Eu não me lembro de quem sou — respondeu o garotinho, agora olhando diretamente para mim.

— O que você... fazia na escola? — perguntei.

— Eu entregava jornal.

— Conhecia? — fitei Finney.

— Billy. É o Billy Showalter.

— Talvez.

— Não... é o Billy. Tenho certeza absoluta.

— Não. Tentem. Ir. Lá. Em. Cima — soletrou seriamente, enquanto andava ao nosso redor.

— O que ele... está fazendo? — perguntei.

— Esperando... do lado de fora... com a droga do cinto. Ele não falou que podiam sair. Se tentar, ele vai os castigar. Vai bater em vocês com o cinto até desmaiarem. E dói. Dói muito. Vocês vão chorar... vão implorar pra ele parar... todos nós imploramos. Mas ele continua batendo. Vai ser ainda pior pra você, garota — se aproximou de mim.

— Como... assim?

— Você não deveria estar aqui. Ele não te quer no jogo. Está só... esperando a oportunidade certa pra te matar. Se não for de fome... vai ser de outro jeito — e então ele caminhou até o telefone, apertando um botão e simplesmente desaparecendo.

— Alô? Alô? — Finney encarou o telefone por um instante.

— Ele já foi embora.

— Você... realmente viu ele aqui? Foi por isso que gritou naquela hora?

— Sim. Ele... tinha ferimentos terríveis... — cerrei os punhos, tentando conter a tremedeira.

O que... havia sido aquilo?

Eu não sabia se a imagem de Billy Showalter tinha sido real ou não. Estava a tanto tempo sem comer ou me hidratar devidamente, que talvez tudo aquilo não passasse de uma grande alucinação.

Respirei fundo, tentando me manter calma. Caminhei até a porta e a fechei devidamente, garantindo que conseguiríamos nos conter e não iríamos tentar subir lá em cima.

Se não fosse por aquela ligação... eu realmente teria subido.

— Ele... só trouxe um prato — Finney se agachou, seu tom demonstrando preocupação.

— Pode comer... você trabalhou esse tempo todo tentando cavar aquele buraco.

— Não... isso não é certo — separou o omelete ao meio — Vamos dividir, por favor. A gente tá nessa junto, não é?

Um pequeno sorriso de admiração se formou em meus lábios.

Finney Blake... era incrível.

— Valeu... — assenti com a cabeça, pegando um pouco com as mãos.

Não era a comida mais incrível do mundo, mas naquele momento ela realmente se parecia com isso.

E o refrigerante de limão... era como um paraíso para nós naquele instante. Nós dividimos a garrafa e a mantivemos guardada, para encher na caixa de água do vaso sanitário toda vez que sentíssemos sede.

Era a condição mais humilhante de todas, mas... nenhum de nós estava disposto a simplesmente morrer ali.

Faríamos tudo.

Tudo o que estivesse ao nosso alcance, com a ajuda das vítimas anteriores... para escapar dali com vida.

(...) 

Espero que tenham gostado! Hoje teremos atualização dupla, então postarei o próximo capítulo mais tarde!

Não se esqueçam do voto, plss!

Continua. 

𝗨𝗟𝗧𝗥𝗔𝗩𝗜𝗢𝗟𝗘𝗡𝗖𝗘, finney blakeOnde histórias criam vida. Descubra agora