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𝑫𝒊𝒂 𝒖𝒎
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Raniele mergulha no travesseiro ao ouvir o despertador tocar, a música insistente parecendo gritar por sua atenção. Ele estica o braço, alcançando seu celular, e o empurra com um movimento brusco. O aparelho cai no chão, o som do impacto ressoando na quietude do quarto enquanto se desliga. O rosto contra o travesseiro o faz sentir falta de ar; ele sabe que não pode continuar ali por muito mais tempo. Forçando-se a abrir os olhos lentamente, irritado, ele vira-se de barriga para cima na cama. Seus olhos, ainda pesados com o sono, lentamente se ajustam à luz fraca que entra pela janela. Percorrendo o ambiente, seu olhar finalmente se fixa na porta, onde, para sua surpresa, Yuri está parado, observando-o com uma intensidade quase inquietante.

— Puta que pariu! — grita Raniele, lançando um dos travesseiros em direção à porta. A batida do travesseiro contra a madeira ecoa, e ele leva a mão ao peito, onde seu coração dispara, acelerado. — Que susto, caralho! Que horas são?

— Três e pouco — responde Yuri, aproximando-se da cama com passos lentos. Sua expressão é de quem não dorme há dias, os olhos fundos e o rosto cansado, como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros.

— Puta que pariu. Por que meu celular tocou? E por que você está aqui? — Ele fala alto, mas não tanto a ponto de acordar os outros na casa.

— Primeiro, eu coloquei para tocar. Segundo, não consigo dormir — Yuri solta um bufo nervoso, e Raniele, confuso, observa o amigo.

— Quanto tempo você ficou aí parado? — Raniele se senta na cama, esfregando os olhos sonolentos, fixando o olhar em Yuri.

— Meia hora, eu acho. — Yuri responde, tentando se aproximar mais, um pouco envergonhado, mas Raniele não o impede.

O silêncio se estende entre eles, um momento carregado de tensão. Raniele, com o rosto amassado e sonolento, se joga novamente na cama, virando-se para o lado e deixando um espaço vago ao seu lado. Yuri, hesitante, logo ocupa o lugar livre sob as cobertas.

— Rojas? — pergunta o camisa 14, a curiosidade evidente na voz.

— É.

— Por que você está tão obcecado por ele? Você o ama? — A voz rouca de Yuri faz Raniele encará-lo, e em seus olhos não há confusão, mas certeza. A pergunta o atinge como um soco no estômago.

— Rani... — Yuri se senta rapidamente, não querendo ter aquela conversa deitado. — Acho que... Ele é o primeiro homem por quem realmente sinto algo. Todos acham que já estive com o Roger Guedes, mas eu não sabia o que sentia. Eu não queria isso; me forcei a ver o Roger apenas como um amigo, mas, à medida que nos afastamos, a dor foi insuportável... Doeu muito. — Ele suspira, olhando para suas mãos, que tremem ligeiramente. — Eu sei que nenhuma dor é comparável a outra, mas olha para você... Você ia se casar, amava sua mulher, e agora você está tranquilo, faz o quê? Três dias? Uma semana? Raniele, quando o Roger me disse que ia embora, passei um mês sem saber o que fazer. Mandei mensagens e fui ignorado, passei um mês confuso em campo, sem ter o Roger para passar a bola, e quando finalmente veio o dia em que ele realmente foi embora, foi como um tiro. Depois disso, percebi que estava apaixonado por ele. — Yuri faz uma pausa, olhando de lado para Raniele. — E não quero que isso aconteça com Matías. Eu estava na merda quando ele chegou ao clube, ele me tirou daquela situação, e prometi que, quando ele saísse, não voltaria a ser o mesmo. Mas ele foi embora... Mesmo assim, me ajudou a superar o caos que havia dentro de mim.

— Ele não foi embora — Raniele diz, se sentando na cama. — Ele está indo para algum lugar nos Estados Unidos, e você sabe para onde e onde ele estará daqui a três dias. Você sabe com quem ele vai estar. Se você não quer perdê-lo, vá atrás dele. E como prometeu que não ia ficar "na merda" quando ele fosse embora, faça isso. Não fique mal, mas sim feliz.

Algo loco- Raniele & Garro ⚣Onde histórias criam vida. Descubra agora