VII

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Dia Dois cont...
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As costas de Raniele colidem contra os azulejos frios do banheiro, e o choque com a superfície gelada o desperta parcialmente da confusão que o domina. A água morna escorre pelo seu corpo, mas nada parece capaz de aquecer o turbilhão de pensamentos que gira em sua cabeça, repetindo incessantemente as palavras de Rodrigo. "2016 foi o pior ano da minha vida", ele dissera, o semblante carregado, os olhos perdidos em uma dor que parecia ainda viva. "Meu aniversário de maioridade foi o pior de todos." Raniele sente uma curiosidade crescente, quase dolorosa, para saber o que aconteceu naquele ano, mas algo o impede de insistir. Quando Rodrigo mencionou 2016 e o peso daquela lembrança, as lágrimas começaram a rolar pelo rosto do argentino. Raniele jamais imaginara ver Rodrigo chorar; aquele instante trouxe uma fragilidade no olhar dele, um medo contido, que o próprio brasileiro não sabia como confortar. Ainda assim, decidiu ali que jamais cobraria nada. Ele viu o amigo desmoronar por uma memória, e não desejava forçá-lo a reviver essa dor.

Raniele respira fundo, deixando que o vapor do chuveiro envolva seu corpo como um abraço quente. Lá fora, o dia já dera lugar ao entardecer. Depois da conversa, Rodrigo saiu apressado, murmurando que precisava ficar sozinho, e desde então o brasileiro não o vira mais. Provavelmente, Garro ainda estava trancado em seu quarto, isolado naquele refúgio de sombras e silêncio.

Ao sair do chuveiro, Raniele envolve a toalha na cintura, sentindo o tecido absorver as gotas que ainda escorriam. Caminha até a pia, onde seu celular repousa, e, ao ligá-lo, nota algumas mensagens de seu irmão, Eric. Na tela, as palavras surgem vibrantes: Eric pergunta se pode ir até a casa de Rodrigo, dizendo que quer conversar pessoalmente ou, se preferirem, saírem juntos. No entanto, depois daquela conversa, sair não era exatamente o que o camisa 14 mais desejava.

Com os dedos ainda úmidos, Raniele digita rapidamente uma mensagem para Rodrigo, perguntando se Eric poderia jantar com eles naquela noite. Talvez pudessem pedir pizza, ou então ele mesmo prepararia algo simples. Até sugere que o irmão de Rodrigo também se junte a eles, se assim desejar.

Uma leve curva de satisfação surge nos lábios de Raniele ao ler a resposta breve, porém acolhedora de Garro.

"¿Reunión de hermanos? Genial, llamaré a Maxi."

"¡Oh, podemos pedir pizza, déjamelo a mí!"

Raniele sorri, gostando do toque de leveza nas palavras de Rodrigo, e logo confirma com o irmão, passando o endereço. Eric avisa que chegará às 20h, e o relógio marca 18h. Raniele suspira, esperando que até lá Rodrigo consiga se libertar das sombras de sua mente e sair daquele quarto.
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— Tá melhor? — Raniele perguntou em um tom calmo e acolhedor, esperando que Rodrigo notasse sua presença ali na sala. Rodrigo levantou o olhar e, com um sorriso fraco, assentiu. — Que bom. Me desculpa por qualquer coisa.

No, no hay excusas, no hiciste nada. — Rodrigo respondeu em um tom decidido, mas suave, tentando esconder o peso que parecia carregar. Ele abriu um sorriso mais largo e fez um gesto convidativo para que Raniele se sentasse ao seu lado. — ¿Viene tu hermano?

— Ele tá a caminho, não deve demorar muito. E o seu? — Raniele, usando a camisa número 14, acomodou-se no sofá, jogando-se de costas e abrindo o aplicativo de delivery no celular, passeando pelas opções de pizza em um restaurante local.

— Maxi sempre atrasa. — Rodrigo comentou com um leve suspiro, lançando um olhar rápido para o celular de Raniele, que o ofereceu para que o argentino pudesse escolher o sabor da pizza. Rodrigo navegou pelas opções e devolveu o celular com um leve aceno.

Algo loco- Raniele & Garro ⚣Onde histórias criam vida. Descubra agora