Día cinco
__________________O clima do café da manhã no refeitório estava longe de ser harmonioso. Raniele e Rodrigo compartilhavam uma tensão silenciosa que se refletia nos olhares evitados. Toda vez que o argentino tentava cruzar os olhos com o amigo, o brasileiro desviava como se aquele contato fosse um território perigoso demais para explorar. A inquietação pairava entre eles, ecoando o sentimento geral no ambiente. O empate na noite anterior não era algo digno de celebração. O Corinthians continuava afundado na tabela, e nem o sabor efêmero do gol conseguido trazia alívio ao gosto amargo da frustração coletiva. Cada jogador parecia perdido em seus próprios pensamentos, mastigando mais do que apenas o café da manhã.
Rodrigo sentia-se deslocado. Entre os jogadores do elenco, era o único estrangeiro, uma ilha cercada por uma língua que ainda lhe escapava. Tentara criar laços, especialmente com Igor, mas o português rápido e carregado de gírias era um enigma para ele, assim como o espanhol fluido do argentino parecia confundir o outro. Já com Raniele, a dinâmica era diferente. O brasileiro se esforçava. Seu espanhol era uma construção curiosa, uma mistura de frases quebradas e sotaque brasileiro, mas carregada de intenção. E essa intenção tinha um peso especial para Rodrigo. Fazia-o se sentir visto, como se sua presença valesse aquele esforço.
Raniele observava Rodrigo com um olhar que buscava mais do que entendimento linguístico. O sotaque direto e firme do argentino contrastava com a cadência calma e quase melódica de Matías, outro estrangeiro que o intrigava. Mas era Rodrigo quem ocupava mais espaço em seus pensamentos. Ele havia se dedicado a aprender nuances do espanhol por conta própria, passando horas ouvindo, repetindo e se corrigindo. Cada frase que conseguia formar era uma tentativa de construir algo sólido entre eles, uma ponte que ia além das palavras.
Quando Igor se levantou da mesa, deixando um lugar vazio ao lado de Rodrigo, Raniele reagiu quase instintivamente. Não hesitou em ocupar o espaço. Para Rodrigo, a identidade do novo ocupante era evidente antes mesmo de ele levantar os olhos. Era a presença de Raniele que se anunciava nos detalhes: o som familiar do tecido de suas roupas, o toque discreto e cuidadoso na borda da mesa, e até o contorno da sombra projetada pela barba dele, visível de relance.
Raniele acomodou-se na cadeira, tão à vontade que parecia já estar ali há horas. Sem cerimônia, olhou para o prato de Rodrigo e apontou com o queixo.
— Posso pegar? — perguntou, mas antes mesmo de ouvir uma resposta, estendeu a mão e pegou o pão de queijo que repousava no prato do argentino.
A atitude inesperada fez Rodrigo erguer as sobrancelhas, mas ele não pareceu se importar.
— No me gusta el chipá — disse, a voz firme, quase como se estivesse confessando um pecado mortal em terras brasileiras.
Almeida parou por um segundo, o pão de queijo na mão. Fitou Garro com um olhar que misturava surpresa e diversão, como se a declaração fosse um desafio pessoal.
— Não gosta? — repetiu, como se estivesse tentando entender aquelas palavras absurdas. Deu uma mordida no pão de queijo e fechou os olhos, saboreando-o exageradamente, apenas para provocar. — Cara, você não sabe o que está perdendo.
Rodrigo deu de ombros, indiferente.
— Prefiero otras cosas.
— Na minha infância, pão de queijo era quase uma religião lá em casa — começou Raniele, com um sorriso nostálgico. Ele recostou-se na cadeira, ainda com o pão de queijo na mão, e seus olhos adquiriram um brilho distante, como se estivesse revivendo memórias preciosas. — Minha mãe fazia todo fim de semana. A gente ficava na cozinha esperando sair do forno, o cheiro tomando conta da casa. E sabe o que eu mais amava?
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Algo loco- Raniele & Garro ⚣
FanfictionComo é deixar tudo para trás por alguém? Como é abandonar todos os seus preconceitos para viver de uma nova maneira? Como é experimentar algo verdadeiramente louco? Ou melhor, algo completamente 'loco. É melhor viver um vazio ou uma paixão proibida...